segunda-feira, 12 de setembro de 2005

OS PÚBLICOS DOS MUSEUS - 9

E hoje vamos até ao Museu do Azulejo.

Antes de continuar, convêm recordar dois aspectos importantes, um referente a algumas definições da Lei Quadro dos Museus Portugueses, e a outra o público que visita o Museu do Azulejo.

Lei Quadro dos Museus Portugueses
Artigo 40º
Exposições e Divulgação
1 - O Museu apresenta os bens culturais que constituem o respectivo acervo através de um plano de exposições que contemple, designadamente, exposições permanentes, temporárias e itinerantes.
2 - O plano de exposições deve ser baseado nas caracteristicas das colecções e em programas de investigação.

Os visitantes do Museu do Azulejo

Os visitantes do Museu do Azulejo são, sempre acima dos 80%, estrangeiros.
Em 2001, dos 79.888 visitantes, 71.379 eram estrangeiros, ou seja 89%
Em 2002, dos 75.685 visitantes 61.168 eram estrangeiros, ou seja 81%
Em 2003, dos 79.635 visitantes 72.258 eram estrangeiros, ou seja 91%
Em 2004, dos 70.571 visitantes 58.887 eram estrangeiros, ou seja 83%

Explanados estes dois ponto, vamos lá então falar do Museu do Azulejo.

Chegados à recepção, naturalmente pergunta-se pelo roteiro do Museu.

O roteiro em português não existe para venda ou consulta desde o início do ano, quanto ao roteiro em inglês, as pessoas indagadas, quer na recepção quer na livraria, não se recordavam da última vez que o tinham visto.

E isto num Museu que é maioritáriamente visitado por estrangeiros !

Antes de chegar aos "pratos de resistência" (azulejos do século XX e exposições temporárias), façamos uma pequena volta por alguns dos locais do Museus:

SALA "FRONTAIS DE INFLUÊNCIA ORIENTAL SÉCULO XVII"
Pequenas legendas com a indicção do nome da peça e local de onde foi recolhida.
Quanto às influências, nada. O "pessoal" é culto e sabe quais são, verdade ?
Quanto à influência dos DESCOBRIMENTOS PORTUGUÊSES na dita influência nos frontais, zero. O "pessoal" é culto e sabe quais são, verdade ?

SALA "SANTOS SIMÕES-AZULEJARIA BARROCA DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII"
Pequenas legendas com a indicção do nome da peça e local de onde foi recolhida.
Das razões pelas quais só são apresentadas peças da primeira metade do século XVIII zero, o "pessoal" é culto ...
Da influêcia do Barroco na azulejaria zero, o "pessoal" é culto...

CAPELA SANTO ANTÓNIO
Capela e coro riquissima em talha dourada, pintura e azulejos.
NEM UMA LEGENDA!
Nada sobre a talha dourada, sobre a pintura ou os azulejos alí presentes!
Nem um pequeno texto feito em computador e impresso em impressoras de jacto de tinta, nada, nada nada! (até doi!)

SALA 12-AZULAJARIA ROCOCÓ E POMBALINA
Pequenas legendas com a indicção do nome da peça e local de onde foi recolhida.
Quanto às influências do rococó e do pombalino, e da importância do pombalino no contexto nacional, nada.
O "pessoal", mais de 80% estrangeiro, é culto e sabe do que se trata, particularmente do pombalino, verdade ?

Ainda nesta sala existe um delicioso conjunto de 7 paineis , que retratam a vida do chapeleiro António Joaquim Carneiro.
Em cada um dos paíneis, fazendo parte do desenho do painel, existe um pequeno texto a explicar a circunstância e o periodo da vida do chapeleiro a que o painel se refere. É uma autêntica banda desenhada do século XVIII.
Legendas ? Nem pensar ! O "pessoal" (mais de 80% de estrangeiros) é culto, sabe lêr português e percebe à primeira do que se trata!

Quanto às outras salas, façam uma visita e descubram vocês !

EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS

À data da visita, existiam três exposições temporárias, a saber:
a) - Azulejaria Valênciana dos séculos XIII ao XX
b) - Hein Semke
c) - Alev Ebuzzya Siesbyle

Nas exposições dedicadas a Hein Semke e Alev Ebuzzya, paíneis com descrição da exposição e dos autores, EM PORTUGUÊS.
Volto a insistir, num Museu visitado por mais de 80% de visitantes estrangeiros.

Quanto à exposição da azulejaria Valênciana, esta ocupa 3 pisos , sendo de longe (excluindo a capela e o coro) o maior espaço expositivo do Museu.

TEXTOS E PAÍNEIS DESCRITIVOS SÓ EM PORTUGUÊS !
Nem uma folhinha, nem um texto, nem um comentário noutra língua para além do português !

Este director, Dr. Paulo Henriques, é mesmo um português dos quatro costados.

AZULEJARIA PORTUGUESA DO SÉCULO XX

Instalada NUM CORREDOR do pátio interior do palácio, a exposição consagrada à azulejaria portuguesa do século XX consiste em 12 paineis acompanhados de pequenas legendas, estas em português e inglês, com o nome do autor e da peça.

Sendo um Museu Nacional visitado na quase totalidade por estrangeiros, e que alí se deslocam propositadamente, dado que o Museu não está integrado em qualquer percurso cultural da cidade, seria lógico que um particular destaque fosse dado, tambêm, à azulejaria contemporânea portuguesa e aos seus criadores.

Mas nada de nada acontece.

O facto de as estações do Metro de Lisboa serem um autêntico Museu da Azulejaria contemporânea portuguesa, é totalmente ignorado pelo Museu.
E já para não falarmos das reservas do Museu !

Só para terem uma ideia do que estamos a falar, CERCA DE 50 ARTISTAS PLÁSTICOS ESTÃO PRESENTES NAS ESTAÇÕES DO METRO DE LISBOA, entre os quais Angelo de Sousa, António Palolo, Vieira da Silva, Maria Keil, Sá Nogueira, e tantos outros.

Como este texto já vai muito, mas mesmo muito longo, o resto fica para amanhã.

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