sábado, 27 de maio de 2006

POIS, POIS,
OU, A RESPOSTA SEGUE DENTRO DE MOMENTOS


Boa tarde, sr. Provedor

Não esperava tão cedo voltar ao seu contacto, mas três ou quatro temas do Público a isso me "obrigam".

Desde já agradeço a sua paciência.

1º Tema

Ontem, dia 23, o Director do Público, José Manuel Fernandes, publicou um editorial intitulado "Agências de Comunicação".

Tendo como pano de fundo o livro de Manuel Maria Carrilho, José Manuel Fernandes explica que no "nosso" jornal existe o chamado "livro de estilo" que regula e orienta a actividade dos jornalistas que aí trabalham.

No entanto, e face ao parágrafo por ele assinado "São seres humanos que, nas suas relações profissionais, para actuarem de forma civilizada e responsável , se devem comprometer publicamente com certos códigos de comportamento", gostaria de saber, já que José Manuel Fernandes o não
faz, quais são os mecanismos, internos ou externos, que analisam o comportamento dos jornalistas do público, que, como muito bem foca JMF, são seres humanos sujeitos a erro.

E no caso de ser detectado qualquer comportamento que não caiba no "livro de estilo" do Público, caso existam mecanismos para isso, o que sucede ?

2º Tema

Ainda relativamente a JMF e ao seu editorial, transcrevo: "Apesar do que aí se escreve não merecer mais comentários...".

Não achei muito bem este silêncio do director do "nosso" jornal, pela razão que irei relatar no 3º tema, mas entendi que estava no seu direito.

Porém, qual não foi a minha surpresa quando hoje, ao folhear o Público, me deparo, na página 4, com uma "Carta ao Director" intitulada "Manuel Maria Carrilho no Prós e Contras da RTP", na qual um leitor desfere um feroz ataque a Manuel Maria Carrilho.

Sinceramente, a ideia com que fiquei foi a de que José Manuel Fernandes utilizou aquilo que é ilustrado pela frase: atirou a pedra e escondeu a mão.

Ontem, no seu direito, ignora o livro de Carrilho, as críticas que aí lhe são feitas bem como ao "nosso" jornal, e hoje decide publicar uma carta, a si dirigida, com um feroz ataque a Carrilho.

Para manter este texto num certo tom, direi, no mínimo, que revela, da parte de JMF, um comportamento deselegante.

3º Tema

Para além dos ataques pessoais feitos por Carrilho ao director do Público e a alguns dos seus jornalistas, que cada um interpreta como muito bem entende, existe, no entanto, uma frase no livro que, no meu entender, merecia algum tipo de clarificação: " Vale a pena acrescentar
que este jornalista (João Paulo Henriques) fez inúmeras peças sobre acções da minha campanha sem, sequer, as ter acompanhado" (pág.161).
Esta acusação é grave, e facilmente desmontável. Agora os silêncios do Director e do Jornalista do Público é que não me parecem muito adequados.
Afinal Carrilho tem ou não razão no que afirma?
Se não tem razão é um mentiroso, que tem que ser desmascarado publicamente, mas sem tem razão gostaria de saber onde se aplica, neste caso o "livro de estilo".

4º Tema
"O PÚBLICO ERROU"
Gostaria que o "nosso" jornal assumisse uma publicitação mais clara quando erra. Ainda hoje, a admissão do erro foi relegada para o canto inferior direito de uma página par (a quarta), o que o meu caro provedor e eu sabemos, é o local de menor leitura de qualquer jornal.
Já agora, seria pedir demasiado que ao admitir o erro nos fosse explicado, minimamente, as causas que levaram a esse mesmo erro ?
É que uma coisa é admitir o erro, outra é reconhecer e explicar a razão do erro.
Não vou sugerir que se publique também o nome dos responsáveis pelos erros, mas que tal facto podia contribuir para um maior rigor dos jornalistas, estou em crer que sim. Afinal ninguém gosta de ver o seu nome ligado a algo menos bem executado.


Melhores cumprimentos


RESPOSTA DO DIRECTOR DO PÚBLICO

O provedor do leitor pediu um esclarecimento a José Manuel Fernandes.
Eis as respostas do director do PÚBLICO:

1º Tema

O Livro de Estilo estabelece as regras. A estrutura hierárquica deve vigiar pelo seu cumprimento. Todos os dias há uma reunião de editores onde se analisa o jornal da véspera e este é criticado, sendo aí muitas vezes detectados os erros. Existe uma secção designada “Público erro” para dar conta dos erros. O Provedor, que actua com total independência, pode ser chamado a pronunciar-se pelos leitores ou entender ele mesmo tomar posição. O Conselho de Redacção reúne com alguma regularidade e discute muitas vezes temas que derivam do incumprimento do Livro de Estilo (cuja recente revisão, de resto, integrou sugestões dos diversos provedores do leitor e de deliberações do Conselho de Redacção. Finalmente existe um mecanismo de avaliação individual de desempenho, associado a uma parte da remuneração variável anual, onde se pode regressar a estas questões quando isso se justifica.



2º Tema

Já li o livro de Manuel Maria Carrilho e entendi que não devia escrever sobre ele. Ao contrário da esmagadora maioria dos jornalistas e comentadores, nunca apreciei MMC e não considero sequer que tenha sido um bom ministro da Cultura, pelo contrário. O livro deixou-me tão incomodado com o que revela sobre o seu autor que teria de escrever coisas que prefiro não escrever.

Sobre as críticas que faz ao PÚBLICO são, na sua maioria, pontuais e dispersas. Discutimos internamente se devíamos regressar a elas, defendendo-nos ou dando-lhe razão. Houve opiniões divergentes, mas prevaleceu a de que não o devíamos fazer. Até porque no caso em que considerámos ter agido mal, assumimos no dia seguinte a falta e corrigimos o erro. A saber: termos apresentado primeiro apenas uma crónica sobre a apresentação do seu programa para Lisboa. No dia seguinte detalhámos as suas propostas.

Quanto à carta, para além de pessoalmente não ler todas as cartas que me são enviadas, estando essa competência delegada numa adjunta da direcção, elas reflectiram diferentes pontos de vista (como, de resto, as colunas de opinião do jornal). Não atirei pois qualquer pedra, tal como não protegi o livro de qualquer pedra. Aí foram as opiniões que recebemos (sendo que nem todas foram publicadas, tendo ficado de fora sobretudo outras cartas contra Carrilho) que fizeram o seu caminho.



3º Tema

Numa campanha eleitoral o jornalista acompanha o candidato o mais que pode, mas há sempre um momento em que tem de vir escrever a sua peça enquanto a campanha continua. Nessa altura pode completar a informação sobre as acções em que não pode estar fisicamente presente recorrendo quer ao noticiário da Lusa, quer ao que é possível seguir nos meios audiovisuais, quer ainda telefonando para colegas que continuaram no terreno. São contingências da imprensa escrita onde não há o “directo” radiofónico ou televisivo. Aquilo que seria grave é ter relatado acções de campanha que não acompanhou fazendo-o de forma deturpada, algo que Carrilho não demonstra.



4º Tema

A secção “O Público errou” é editada no mesmo local desde que o jornal foi fundado: na página das Cartas ao Director. Trata-se de uma das páginas mais lidas pois inclui também o Editorial e o Bartoon. E a secção, mesmo vindo no tal canto inferior, tem destaque gráfico e temos indicações que é bastante lida.

Quando os erros são mais graves, temos publicado correcções nas secções ou mesmo na primeira página.

Quanto à sugestão de citar o nome dos autores dos erros, tê-la-ei em consideração e pô-la-ei à discussão na minha equipa e na redacção.


José Manuel Fernandes

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