terça-feira, 11 de outubro de 2005

ALBERTO FERREIRA - ESTUDOS DE CULTURA PORTUGUESA SÉCULO XIX (1)

PREFÁCIO

Lisboa, 1978

Reúnem-se neste volume alguns estudos que se esgotaram e uns poucos de artigos, todos eles explorando conceptualmente idêntica área. Não são acessíveis ou porque se acham em publicações hoje difíceis de adquirir ou porque, nas bibliotecas públicas, ainda não se encontram em leitura.

A publicação deste livro estava prometida e anunciada ao público.
Porém, quem o escreveu, ficara na expectativa da revolução cultural que deveria suceder às convulsionadas estruturas da sociedade castiça do salazarismo. Bem sabemos que o tempo e dinamismo das reformas estruturais da economia e da política é muitíssimo mais eversor e mais rápido do que o tempo e dinamismo das estruturas ideológicas - sobretudo no plano da educação, da cultura, da mentalidade.

Mais uma vez o processo revolucionário portyuguês demonstrou que a revolução cultural pode ficar adiada - ou ferida de morte - quando as infra-estruturas avançam, por vezes, de forma desconcertante. Pode afirmar-se hoje, em 1978, que a investigação no domínio da cultura portuguesa se encontra paralisada. Que os estudos publicados não ultrapassam as perspectivas já apontadas nos anos 60. Que a reformulação de certos problemas (que era urgente) foi esquecida ou adormece pacatamente na cabeça dos especialistas. Tirante um ou outro trabalho mais ousado que não cabe agora pôr em relevo - e até porque provavelmente nós os não lemos ainda por falta de informação - os materiais referentes à nossa história da cultura têm falta de ímpeto criador. A cultura portuguesa oitocentista carece de ser conhecida em textos fundamentais - está por organizar o corpus do movimento que se inicia com a primeira geração romântica e termina, grosso modo, nos primeiros anos do século XX.

Comparativamente com os esforços realizados por editores do sector privado e público até à Revolução de Abril, o que se adiantou em matéria de história da cultura portuguesa é pouco, muito pouco. As obras de conjunto, os estudos na especialidade, os manuais e antologias encontram-se esgotados. Os preços que atingiram no mercado ultrapassam as possibilidades de compra dos estudiosos, estudantes e publico em geral. O estado terá (ou teria) uma acção significativa a realizar neste importantíssimo sector da vida intelectual - mesmo que engendre planos e e programas de realização suficientes (do que se duvida), pode e deve ajudar os editores que se dedicam à publicação de obras de cultura portuguesa a encontrar uma saída para os preços de custo.

Com efeito, a busca da nossa identidade, o progresso da nossa consciência nacional, a clarificação do sentido e significado das nossas acções comunitárias passam pela dilucidação e esclarecimento das propostas apresentadas pelos intelectuais empenhados na mudança. Na verdade não se cria uma classe política clarividente e eficz sem criar uma escola. E necessariamente associada à escola, como seu resultado, e seu condicionante, está a cultura.


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