quarta-feira, 31 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA





















nina hagen - 1993
about pierre et gilles (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006

"quando só vês o sexo, não vês a pessoa"


Não sou feminista, mas este é um post sobre mulheres, sobre mulheres artistas. Provavelmente seria preferível falar sobre as mulheres artistas de hoje ou mesmo as pós-modernas, mas não me apetece e identifico mais relações entre as escolhidas e o meio envolvente do que as que me são contemporâneas. E para falar delas começo por falar de um homem, um homem do seu tempo artístico e um misógino do século XIX: Baudelaire. Era uma personagem excessiva que estava dividida entre o tempo que vivia (Realismo) e o tempo que se iniciava (Romantismo). E vive como charneira também entre o flanêur e o dandy, entre o que vagueia em busca da vida dos outros, num ócio e tédio mesmo dentro da abundância, e entre o esplendor gratuito. No século de Baudelaire há um retrocesso na emancipação feminina em parte devido à Revolução Francesa; as mulheres emancipadas eram de classes altas. A burguesia resultante da Revolução Francesa foi uma burguesia que procurou domesticar a mulher e circunscrevê-las aos circuitos caseiros. Esta tendência conhece o seu apogeu na época vitoriana, pois isto permitia que as mulheres não levantassem questões nem tivessem o seu papel fora do universo doméstico. Para Baudelaire a mulher tinha de se afastar da Natureza, para ser o mais atractiva e interessante possível, recorrendo à maquilhagem e ao lesbianismo que é uma fuga civilizacional, uma vez que a lésbica é a mulher que na teoria não procria. O ciclo de progressão das mulheres atingia o seu pico aos 13, 14 anos ou quando eram menstruadas. Depois disso avançavam para o casamento e para a gravidez geralmente indesejados e quem pretendesse fugir a esse destino e tivesse manifestações de génio, era vista como uma mulher mascarada de homem. A própria noção de génio é masculina e por isso não se pode coadunar com o universo feminino. Ao ver as mulheres desta forma, com múltiplas faces, Baudelaire ajuda a arte e as mulheres do seu século a serem mais moldáveis e acima de tudo, mais verdadeiras com a realidade. Na realidade as pessoas têm inúmeros alter-egos e podem ser muito diferentes num só corpo.


As guerras napoleónicas tinham feito muitas vítimas entre a população masculina e as mulheres sem recursos, pois dependiam dos homens começam a procurar empregos principalmente como criadas e amas. Sem ter direito a uma carreira, as mulheres de boas famílias casavam bem, as mulheres operárias trabalhavam e a classe média optava pela carreira artística que entre as várias profissões possíveis até nem era muito mal vista, excepto no que diz respeito ao bailado e ao teatro. Para as mulheres havia poucas alternativas a não ser a arte: a final de contas elas desde sempre tinham pintado em casa e bordado… Daí para a pintura profissional era um passo fácil, natural e necessário.


Há várias mulheres que ilustram a história da arte, excluindo as amantes e as modelos. Mulheres que realmente contribuíram para a arte. Uma delas foi Artemisa Gentilleschi, filha de Gentilleschi que não teve uma existência muito pacífica. Tal como o pai, pintava mas talvez por partilhar o espaço e a área de saber com muitos homens, Artemisa foi violada por um aprendiz do pai. O julgamento foi ainda mais penoso, com acusações para o próprio pai e para a vítima: a sua sensualidade desculpabilizaria o culpado. Outra pouco conhecida mas que não levanta controvérsia foi Sofonisba Anguissola, filha de um nobre que deu aos filhos uma educação liberal. Pintava em casa, mas com mestres, tinha muita liberdade de movimentos, fez inúmeras viagens e acaba por entrar na corte espanhola não só como dama de companhia de Isabel de Vallois, mas também como pintora.


Artemisa Gentilleschi


Sofonisba Anguissola


Já no século XIX há três mulheres que foram muito importantes para a pintura: a russa Marie Bashkirtseff, Berthe Morisot e Suzanne Valadon. As três são contemporâneas mas seguem caminhos diferentes na pintura. Marie é uma figura atípica, uma intelectual rica que escolhe um caminho mal definido entre o fora e o dentro, nos limites daquilo que era aceitável para o tempo em questão. Era uma mulher demasiado inteligente para não perceber que a sua pintura era perturbadora uma vez que abordava a questão da igualdade dos sexos, numa altura em que às mulheres estava vedado o ensino artístico com recurso a aulas de modelo de nu. Morreu com apenas 26 anos mas na altura era muito apreciada mesmo em Portugal. O que resta da obra dela é pouco mais do que um diário iniciado quando a pintora tinha 13 anos e que é um fresco do século XIX e mostra um pouco da sua vida. Marie chegava sempre acompanhada por um lacaio negro que lhe segurava as roupas à medida que ela ía caminhando e as ia despindo. Vivia pois uma vida antagónica, uma vez que usufruía das mais valias da vida aristocrata, mas como tinha uma forte consciência social, discutia política a apoiava a igualdade entre sexos.


Marie Bashkirtseff


Berthe Morisot por seu lado é uma figura tipificada: a jovem burguesa, mãe, que borda e se dedica à casa, é recatada e doméstica, casa com um irmão de Manet e não partilha da vida boémia dos absintos de Degas. As suas pinturas abordam invariavelmente o tema da maternidade e ela, que leu o livro de Marie, sabia-se oprimida nessa sua condição burguesa, acomodada. Mas se lhe damos hoje alguma relevância era porque o fazia como os pintores do seu tempo: observava a realidade, expunha o que via, fazia-o com a técnica própria de todos eles e no fundo, ao fazer isto, era uma mulher pintora dentro dos Impressionistas.


Berthe Morisot


Suzanne Valadon de quem já muito se ouviu falar até por causa do filme de Toulouse Lautrec, penso eu, era uma boémia. Filha ilegítima, cedo aprendeu que o berço condicionada as escolhas pela vida fora. Cresceu na rua mas como era muito bonita tornou-se artista de circo. Abandonou o circo por causa de um problema físico e tornou-se modelo (e também amante, diga-se) dos pintores para quem posou. Foi graças a eles que aprendeu a pintar; com Degas aprendeu a observar, por exemplo e na sua obra estava patente a vida boémia que vivia bem como uma certa irreverência. Teve um filho que também se tornou pintor, mas morreu sem escolhas, velha e apenas com o consolo de vagabundos.


Suzanne Valadon

Todas procuravam a dignidade profissional, o reconhecimento do seu trabalho e a maior parte não o conseguiu. Ainda hoje as mulheres pintoras até à segunda metade do século XIX estão esquecidas ou são olhadas de lado. Ainda hoje, falando no geral, a obra de uma pintora não é tão valorizada quanto a instalação ou a vídeo art. Há uma busca não complacente pelo novo e se possível, incompreensível. Porque aquilo que não se compreende passa para a esfera do místico e como não se fala do divino, aprecia-se apenas, a arte de hoje flutua ao sabor dos mercados e dos desinteressados.

ELES JÁ SÃO, MESMO, DONOS DA CIDADE.

"Câmara vai pôr estátua frente à sede dos mecenas".
"A Câmara de Lisboa discute hoje a doação de uma escultura, por uma fundação criada pela sociedade de advogados da qual faz parte José Miguel Júdice, e a sua instalação na Avenida da Liberdade.
A proposta é do presidente da autarquia e contraria o parecer da Direcção Municipal de Ambiente Urbano, que recomendou que a obra fosse instalada no Parque Eduardo VII, "dada a urgente necessidade de recuperar a área".
A proposta de António Costa estabelece que a escultura, da autoria de Rui Chafes, com "cinco metros de altura e 2,5 metros de raio de acção", seja instalada num jardim da Avenida da Liberdade, em frente ao número 224, onde funcionam a Fundação PLMJ e a sociedade de advogados com o mesmo nome.
Esta localização foi indicada pela entidade doadora, da qual faz parte José Miguel Júdice, que foi mandatário do actual presidente da Câmara de Lisboa nas últimas eleições autárquicas"...

E qual é a posição de Sá Fernandes nesta questão, pergunta o formigueiro?

..."Sá Fernandes confessa que preferia que a obra fosse instalada no Parque Eduardo VII, mas diz que -a cavalo dado não se olha o dente-.
O vereador desvaloriza ainda o facto de não ter sido ouvido neste processo"
in: jornal público de 31.10.2007

terça-feira, 30 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA























about arthur tress (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006

MAIS UM PREGO PARA O CAIXÃO - VI

Exposição não está prevista para Lisboa
"A exposição sobre a vida e obra de José Saramago que abre ao público em Lanzarote no próximo dia 23 de Novembro não está programada para vir a Portugal, disse ao DN fonte ligada ao evento. "Não há datas, nem há qualquer instituição acertada, nem sequer interessada", acrescentou a mesma fonte.

A mostra, que deve permanecer em Lanzarote durante três meses para depois circular por vários países, inclui a exposição de romances que o Prémio Nobel começou mas não chegou a acabar, assim como primeiras edições e edições estrangeiras de muitos dos seus livros".
in: diário de notícias online (link)

Nota do formigueiro: sabemos que a Senhora Ministra prefere Lobo Antunes a Saramago.
Mas trata-se de um Prémio Nobel, carago! (é a pronúncia do norte...)

MAIS UM PREGO PARA O CAIXÃO - V

Este é o país que temos, em 2007
1 - 50% dos portugueses leram um livro.
2 - 24% dos portugueses visitaram um museu ou uma galeria.
3 - 23% dos portugueses assistiram a um concerto.
4 - 19% dos portugueses foram ao teatro.
5 - 9% dos portugueses assistiram a ballet ou ópera.
in: economia da cultura e actividades culturais na UE27

Esta é a Ministra da Cultura que temos, em 2007
“Gostava de ver lançado um grande festival ligado à ópera (...) que fosse o último da temporada europeia. Uma coisa que poderia ter lugar no mês de Setembro”
in: entrevista a Isabel Pires de Lima ao Notícias Magazine.

Siga o enterro...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

MAIS UM PREGO PARA O CAIXÃO - IV
INGÉNUA? ESTÚPIDA? INCOMPETENTE?

Sendo a cimeira União Europeia/Rússia algo extraordinário na vida do País, não parecia bem virem a Mafra e não termos nada preparado para o efeito" explicou ao Meia Hora Margarida Montenegro, directora do Palácio Nacional de Mafra, que se associou ao evento e preparou uma exposição oficialmente inaugurada por Vladimir Putin na última sexta-feira e que hoje abre ao público em geral.

..."Aproveitando a nossa magnífica biblioteca, a mais importante do século XVIII, fizemos um levantamento do espólio relativo à Russia e, para nosso grande espanto, encontrámos nada menos do que 800 livros. A Rússia sempre despertou grande interesse no Ocidente, afirmou Margarida Montenegro..."...
in: jornal Meia Hora (link)

Nota do formigueiro: não sabemos o que mais admirar nestes afirmações efectuadas por Margarida Montenegro, directora do Palácio Nacional de Mafra, ao jornal Meia Hora.

"Não parecia bem virem a Mafra e não termos nada preparado para o efeito..."
Mas desde quando é que os directores de Monumentos Nacionais realizam exposições ou outros eventos baseado no critério do "parece bem"?


"Para nosso grande espanto"...
Qual será o trabalho e a reponsabilidade da directora de um Monumento Nacional, que alberga "a mais importante biblioteca do século XVIII" (já agora em comparação com quê:Planeta Terra, Europa, Portugal,Mafra, ou...?) e se permite ficar espantada com a tal descoberta dos 800 volumes sobre a Rússia?

Mas, afinal, onde reside "o nosso espanto"?

Depois de uma exposição no Palácio Nacional da Ajuda, tendo como base o Hermitage e cujo comissário, Fernando Baptista Pereira, afirmou ao jornal Expresso (link)"Quando os russos virem a exposição vão ficar muito satisfeitos com o carácter verdadeiramente espampanante que ela vai têr" qual é o motivo do "espanto"?

Mas, quer Margarida Montenegro quer Fernando Baptista Pereira, limitaram-se a seguir o exemplo da "patroa".

“Gostava de ver lançado um grande festival ligado à ópera (...) que fosse o último da temporada europeia. Uma coisa que poderia ter lugar no mês de Setembro”
in: entrevista a Isabel Pires de Lima ao Notícias Magazine.

Para um país que é o último na Europa a 27 nas práticas culturais (link), tudo bate certo.

Venha a Ópera (com letra grande, que o respeitinho é muito bonito...), venha o Hermitage, venha Mafra e a sua Directora, mais o Museu do Mar da Língua Portuguesa, mais os passeios de "charrete" na zona monumental de Belém para animar o turismo, venha o novo espaço museológico na Estação do Rossio em Lisboa, venham os Oleiros os Paulos Henriques e os Luises Raposos de seviço.
Venham todos juntinhos, que ao molho é mais barato...

Siga o enterro...

MAIS UM PREGO PARA O CAIXÃO - III

A Propósito do Novo Hermitage de Lisboa

"La idea del museo como espacio de recogimiento dedicado a la muestra y contemplación de obras de arte ha dado paso hoy a un nuevo modelo de museo: algo que se construye para regenerar espacios, promover turismo o lograr réditos políticos".

..."- ¿Cómo son en su opinión los museos del siglo XXI?
- Conviven hoy dos modelos de museo: los que mantienen una pretensión de mostrar colecciones al público, como el MACBA de Barcelona, y otro tipo, que creo que es el que está imperando ahora, que consiste en levantar una infraestructura para regenerar una ciudad y atraer turismo, con lo que se construye esa infraestructura en busca de objetivos extraculturales.
- ¿Cuáles?
- Objetivos urbanísticos, económicos, de relaciones públicas. Que la gente acuda a esa ciudad a congresos, que los políticos se relacionen con empresas a través de patrocinios, que surja una especie de red que favorezca a la ciudad y cree poder"...
Continuar a lêr AQUI

ELES RIEM DE QUÊ?

O documento do gabinete oficial de estatísticas da União Europeia sobre "a economia da cultura e actividades culturais na UE a 27" revela que os portugueses são dos cidadãos comunitários mais afastados da Cultura, e quando questionados sobre as actividades culturais em que participaram nos últimos 12 meses apresentam os valores mais baixos dos 27 em todos os parâmetros.
link

domingo, 28 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA























about clare strand (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006

(…)
Eu sou as sete pragas sobre o Nilo e a Alma dos Bórgias
a penar!
Tu, que te dizes Homem! Tu, que te alfaiatas em modas
e fazes cartazes dos fatos que vestes

p'ra que se não vejam as nódoas de baixo!
Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,
as Políticas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espectáculo
Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar.
Tu, que descobriste o cabo da Boa-Esperança
e o Caminho Marítimo da índia
e as duas Grandes Américas,
e que levaste a chatice a estas Terras
e que trouxeste de lá mais gente p'raqui
e qu'inda por cima cantaste estes Feitos...
Tu, qu'inventaste a chatice e o balão,
e que farto de te chateares no chão
te foste chatear no ar,
e qu'inda foste inventar submarinos
p'ra te chateares também por debaixo d'água,
Tu, que tens a mania das Invenções e das Descobertas
e que nunca descobriste que eras bruto,
e que nunca inventaste a maneira de o não seres
Tu consegues ser cada vez mais besta
e a este progresso chamas Civilização!
(…)
Ó burguesia! Ó ideal com i pequeno
Ó ideal ricócó dos Mendes e Possidonios
Ó cofre d'indigentes
Cuja personalidade é a moral de todos!
Ó geral da mediocridade!
Ó claque ignóbil do Vulgar, protagonista do normal!
Ó Catitismo das lindezas d'estalo!
Ahi! lucro do fácil,
cartilha-cabotina dos limitados, dos restringidos!
Ai! dique-impecilho do Canal da Luz!
Ó coito d'impotentes
a corar ao sol no riacho da Estupidez!
Ahi! Zero-barómetro da Convicção!
bitola dos chega, dos basta, dos não quero mais!
Ahi! Plebeísmo Aristocratizado no preço do panamá!
erudição de calça de xadrez!
competência de relógio d'oiro
e correntes com suores do Brasil,
e berloques de cornos de búfalo!
(…)
Ó tédio do domingo com botas novas
e música n'Avenida!
Ó santa Virgindade
a garantir a falta de lindeza!
Ó bilhete postal ilustrado
com aparições de beijos ao lado!
E vós ó gentes que tendes patrões,
autómatos do dono a funcionar barato!
Ó criadas novas chegadas de fora p'ra todo o serviço!
Ó costureiras mirradas,
emaranhadas na vossa dor!
Ó reles caixeiros, pederastas do balcão,
a quem o patrão exige modos lisonjeiros
e maneiras agradáveis pròs fregueses!
(…)
Lês os jornais e admiras tudo do princípio ao fim
e se por desgraça vem um dia sem jornais,
tens de ficar em casa nos chinelos
porque nesse dia, felizmente,
não tens opinião pra levares à rua.
Mas nos outros dias lá estás a discutir.
É que a Natureza é compensadora:
quem não tem dinheiro p'ra ir ao Coliseu
deve ter cá fora razões p'ra se rir.
(…)
Larga a cidade e foge!
Larga a cidade!
Vence as lutas da família na vitória de a deixar.
Larga a casa, foge dela, larga tudo!
Nem te prendas com lágrimas, que lágrimas são cadeias!
Larga a casa e verás - vai-se-te o Pesadelo!
A família é lastro, deita-a fora e vais ao céu!
Mas larga tudo primeiro, ouviste?
Larga tudo!
– Os outros, os sentimentos, os instintos,
e larga-te a ti também, a ti principalmente!

(Almada Negreiros, "A Cena do Ódio" - excertos)

LEITURA, OBRIGATÓRIA, PARA UM DOMINGO COM SOL.




A cultura não nos protege de nada.
Os nazis são a prova.

link

sábado, 27 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA























Self-portrait: black Hat/Nose
about frances murray (link)

CLÁSSICOS NO CINEMA

Luis Buñel & Salvador Dali
link

MAIS UM PREGO PARA O CAIXÃO - II

AS PALAVRAS DOS OUTROS
Luis Costa

..." À parte este sinal de que José Saramago e as suas teses iberistas começam a ter alguns adeptos (e só neste caso são logo seis milhões, pelo que se diz), descortinam-se outros bons ventos vindos de Espanha. Por exemplo, que a nova Direcção do Museu Rainha Sofia vai resultar de um concurso público com regras e critérios pré-definidos, a gerir por um comité de especialistas previamente aprovado pelos responsáveis do museu, cuja opinião nesta matéria, pelo menos, se sobrepõe à do próprio Ministério da Cultura.

Naturalmente, lembrei-me logo das interferências políticas e partidárias que rodearam a recente mudança de Direcção no Museu Nacional de Arte Antiga. Se os serviços de "clipping" da ministra Isabel Pires de Lima andarem distraídos, terei todo o gosto em enviar-lhe, por fax ou e-mail, a notícia do "El País" a que me refiro".
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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA






















about martin fuchs (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006

"JÚDICE JÁ ESTÁ AO SERVIÇO"

"Apesar de ainda não ter sido formalmente nomeado para liderar o projecto de requalificação da zona ribeirinha de Lisboa, José Miguel Júdice já pôs mãos à obra.

Com um gabinete montado na Av. Duque de Palmela, que tem servido de quartel-general para o plano da frente ribeirinha e onde já conta com o apoio de uma secretária que transitou da Parque Expo, o jurista tem estado envolvido nas negociações entre a Câmara de Lisboa e o Governo.

Júdice tem sido mesmo consultado sobre o modelo que deverão assumir as sociedades de gestão da zona a reabilitar. Neste momento, as conversas entre o Executivo e a autarquia estão, ao que o SOL apurou,..."
in: semanário Sol online (link)

É a prática do facto consumado.

Não existe um projecto para a cidade.

Não existiu uma discussão pública sobre Lisboa, a sua frente ribeirinha e a relação com as autarquias que compartilham o Tejo com Lisboa, entre outros temas.

Nada se sabe dos compromissos entre Sócrates/Júdice/Costa.

Nada se sabe do que pretendem Sócrates/Costa com esta iniciativa.

Se pretendem ganhar as próximas eleições autárquicas de Lisboa com esta "jogada", ou muito nos enganamos ou o tiro vai sair pela culatra.

Nas eleições autárquicas e nas eleições para a Assembleia da República!







MAIS UM PREGO PARA O CAIXÃO - I

AS PALAVRAS DOS OUTROS
Carlos Fiolhais

"Abriu ontem, com pompa e circunstância, no Palácio da Ajuda, uma exposição sobre os czares russos: De Pedro, o Grande, a Nicolau III - Arte e Cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage. A mostra insere-se num conjunto de três que visam a instalação em Lisboa de um pólo permanente do Museu Hermitage, de São Petersburgo, a cidade fundada em 1703 por Pedro, o Grande".

..."Poderia pensar-se que a Federação Russa nos está a ajudar, enriquecendo-nos culturalmente ao facultar os seus excelentes tesouros.De facto é ao contrário: é Lisboa que, armada em "nova rica", ajuda Moscovo. A exposição, que custou 1,5 milhões de euros, é paga integralmente por nós, com dinheiros públicos através do Ministério da Cultura e do Turismo de Portugal quer com dinheiros privados através do Millennium BCP (é com o dinheiro dos clientes, que também foi dado ao filho do fundador) e da Portugal Telecom"...

..."A Inglaterra, que é mais rica do que nós, acaba de anunciar, por falta de dinheiro, o fecho do pólo do Hermitage em Londres"...

..."- Quando os russos virem a exposição vão ficar muito satisfeitos com o carácter verdadeiramente espampanante que ela vai têr -, disse ao Expresso Fernando Baptista Pereira, o comissário local. Eu irei ver, até porque estou curioso por saber como é mostrada a presença lusa na corte dos czares (Ribeiro Sanches foi médico de Catarina II em São Petersburgo), mas não sei se vou ficar satisfeito. Espampanante? O novo-riquismo sempre foi saloio.
in: jornal público de 26.10.2007 (link não disponivel)

A VINGANÇA SERVE-SE FRIA


Com Santana Lopes, Sócrates vai ter um interlocutor no Parlamento do seu nível intelectual e político.
in: Luís Campos e Cunha - jornal público de 26.10.2007 (link não disponível)

BORN IN THE U.S.A.

















about andres serrano (link)

LEADING AN ART MUSEUM IS NOT THAT DIFFICULT

The ongoing debate in the art world about whether curators or businessmen make better museum directors is a red herring.
Whenever the debate is dragged into a discussion about hiring a director for an art museum, it diverts attention from four important questions:

1.Does the individual believe in fine art?

2.What values drive the person's thought process?

3.Is the individual big enough intellectually to embrace diverse ideas and attitudes?

4.What are the management and leadership skills of the candidate?Neither curators nor businessmen automatically qualify.

Many businessmen have better eyes and a greater passion for art than ­curators, and ...
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CLÁSSICOS























The doll
Hans Bellmer (1902-1975)
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CLÁSSICOS NO CINEMA


















Luis Buñel & Salvador Dali (1930)
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quarta-feira, 24 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA























about olaf martens (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006









AS PALAVRAS DOS OUTROS


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
AUGUSTO M. SEABRA

..."O que o caso do MNAA revelou foi que sob Isabel Pires de Lima, sob seu directo impulso sem dúvida, naquele território dos museus que é o da sua eleição, há antes uma cultura do servilismo e mesmo da falsidade. O miserando abaixo-assinado de 16 directores de museus demarcando-se de Dalila Rodrigues e o texto de um deles, Luís Raposo (mostrando “trabalho” logo após a sua eleição pelos colegas para o Conselho Nacional de Cultura) foram exemplos de onde chega o servilismo. Mas o prémio da perfídia vai sem contestação para a ministra, a própria, que na tomada de posse do novo director, o obediente Paulo Henriques, afirmou ter sido Dalila Rodrigues afastada por uma “avaliação negativa do seu trabalho”, e que “o museu tinha perdido visitantes no primeiro semestre”, como se o facto não estivesse na ordem das...
link

AS PALAVRAS DOS OUTROS

A DESAPARECIDA DA AJUDA
Manuel Falcão

..."ontem à noite entrei no site do Ministério da Cultura e fui ver a área de notícias. A mais recente datava de 15 de Junho passado (há quatro meses) e referia-se à inauguração de uma exposição no estrangeiro, que contou com a presença da ministra. Esta facto, também singelo, é o retrato da acção do Ministério da Cultura: Isabel Pires de Lima parece uma zombie saída de um filme de série B - não se sabe o que faz, não se conhece a estratégia que propõe para a Cultura, não se sabe qual é a sua prioridade, não se sabe qual é o plano de acção até ao fim da legislatura.

Desautorizada pelo primeiro-ministro no caso da ocupação do CCB pela Colecção Berardo, Isabel Pires de Lima fez uma anedótica reestruturação orgânica dos serviços do Ministério cujos efeitos nocivos se começam a perceber e preferiu premiar nos museus o servilismo burocrático"...
in: jornal meia-hora de 24.10.2007 (edição Lisboa) - link

AS PALAVRAS DOS OUTROS

RUSSOS EM LISBOA - POLÉMICA

PAULO HENRIQUES
(Director do Museu Nacional de Arte Antiga)

"É uma decisão da ministra da Cultura, não tenho que a avaliar.
Ainda por cima, não vem para o Museu de Arte Antiga".
in: revista Actual do semanário Expresso de 20.10.2007 (link)

OS RATOS COMEÇAM A ABANDONAR O NAVIO?

RUSSOS EM LISBOA - POLÉMICA
LUIS RAPOSO
Director do Museu Nacional de Arqueologia


"São iniciativas patrocionadas pelo poder político, mas não correspondem a um movimento sentido e que decorre da lógica de desenvolvimento dos museus portugueses. É redutor pensar que o que é de fora é que é bom. Trata-se de uma maneira provinciana e subdesenvolvida de não valorizar a nossa cultura".
in: revista Actual do semanário Expresso de 20.10.2007 (link)

CIDADANIA


Pobres?
Quem, nós?

José Júdice

..."Cada português, pobres incluidos, paga 70 euros por ano para manter a RTP e o sorriso de orelha a orelha de José Rodrigues dos Santos. A derrapagem de custos no túnel do Rossio custos 14 euros a cada um, seja administrador do BCP ou cliente da Sopa do Sidónio. A do Metro do Terreiro do Paço 12 euros. O Estádio do Braga saiu-nos a dez euros por cabeça, mais do que o previsto. Já o do Algarve nos saiu mais baratinho, apesar de o seu custo apenas ter aumenta 175 por cento sobre o orçamento - em compensação, não tem nem espectadores nem futebol. A derrapagem de custos da Casa da Música já saiu mais em conta: foi só de cinco euros por português. E há ainda o CCB, as auto-estradas, a modernização da linha do Norte, as mil e uma obras públicas que custam sempre mais do que o anunciado e...
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terça-feira, 23 de outubro de 2007

TEDDY CRUZ, CONHECEM?
















link

domingo, 21 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA


















about michael kenna (link)

Babel



Edward Hopper

Portugese Church in Gloucester

1923

Jonhson Museum of Art


(…)
E nos domingos a litania dos perdões, o murmúrio das invocações.

O padre que fala do inferno

sem nunca ter ido lá.

Pernas de seda ajoelham mostrando geolhos.

Um sino canta a saudade de qualquer coisa sabida e já esquecida.

A manhã pintou-se de azul.

No adro ficou o ateu,

no alto fica Deus.

Domingo . . .

Bem bão! Bem bão!

Os serafins, no meio, entoam quirieleisão.

(Carlos Drummond de Andrade, “Igreja”)

JACK KEROUAC
12.3.1922 - 21.10.1969























Primeira página do manuscrito do livro On the Road

sábado, 20 de outubro de 2007



REPÚBLICA
POPULAR
DA CHINA

CONHECEM?
CONHECEM?

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA

















about matthew sleeth (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006

E a resposta certa é:

EL CORTE INGLÊS !

25 ANOS DEPOIS - III
No Reino dos Falsos Avestruzes
João Martins Pereira

Os cães de caça (ou os vendedores de mitos)
Quanto a António José Saraiva, que muitos ainda identificavam com o impiedoso libertário do “Maio e a crise da civilização burguesa”, o que os textos de 74-75 não chegavam para desmentir, começa, por voltas de 78 a surgir com artigos de inesperado “realismo” e “sensatez” política, a propósito disto ou daquilo. Em resumo, ia paulatinamente germinando a “intelectualidade de direita” que hoje conhecemos, “consciência infeliz” de uma AD que não correspondeu às suas esperanças.
Com a óbvia excepção de Júdice, que veio, esse, da extrema-direita juvenil (com Lucas Pires, aliás), quase toda esta gente enferma de um talvez incurável “complexo de esquerda”, particularmente evidente num Alçada e num Pulido, menor num Lucena, muito ténue num Saraiva, cuja maior segurança lhe advém de um estatuto intelectual que nenhum dos outros alguma vez conheceu (ou conhecerá) e de um empenhamento muito mais “cultural” do que directamente político. Alçada ainda não digeriu o passo em falso do seu livro sobre Marcelo Caetano, e faz constantemente questão de lembrar o seu passado e os seus amigos de esquerda, por esse mundo. É também patente a “desculpabilização” que lhe provoca a readquirida “sensatez” de velhos militantes de esquerda (ver adiante, a propósito de V.P. Valente, o mito da “boa esquerda de antanho”).Reconforta-se com o facto de Jorge Amado se declarar disposto a apertar a mão ao presidente Figueiredo (“estas declarações de Jorge Amado constituem, mesmo fora da política brasileira, um conforto e uma liçao”), com a conversão à “lucidez” do ex-guerrilheiro brasileiro Fernando Gabeira (“quando era militante de esquerda não andava a discutir o Marx pelas universidades: raptou antes o embaixador dos E. Unidos no Brasil e trocou-o pelos seus companheiros que estavam na prisão” – esta citação é um típico exemplo do “complexo de intelectual”, a que viemos a dedicar algumas considerações). Saúda em Jorge Semprun “ o testemunho dos intelectuais que “se enganaram” e penitencia-se da “ditadura intelectual de esquerda” em que medrou a sua geração (!) e a que deu o seu próprio contributo. A torto e a direito se reclama das suas amizades francesas (Domenach, “son ami” E.Morin), como o fez num penoso diálogo televisivo com uma pobre criancinha, que estava ali para falar e não apenas para o ouvir...
Suspeito que, em contrapartida, não o iremos ouvir falar muito da sua eleição, deliciosamente irónica, para a Academia Brasileira de Letras, onde foi ocupar o lugar de...Marcelo Caetano (pobre compensação para quem já desejou ser Embaixador em Brasília). Tudo se passa como se Alçada nos dissesse: como posso eu ser de direita, se só tenho amigos de esquerda? O que só vem a provar que, ele próprio, tem consciência que é de direita. A Televisão também a tem (e não costuma enganar-se), que tentou dar-lhe o papel de Nemésio, o brilhante e descontraido conversador que o fúnebre e angustiado Alçada nunca podia ser – e não foi – e que o convida sempre que pode para pequenas “rábulas intelectuais”. Pois até foi ele o entrevistado no Telejornal no dia da morte de Sartre, com quem nunca nada teve que ver, ele-discipulo-de-Mounier ( de quem hoje se reclama, mal diga-se, o CDS) ao tempo das grandes obras sartrianas!
In: joão martins pereira – no reino dos falsos avestruzes – editora “a regra do jogo” - 1983

A PRIMEIRA GRANDE INICIATIVA
DO AMANUENSE PAULO HENRIQUES


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA



















about rudolf koppitz (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006

UM DOCE A QUEM ADIVINHAR QUEM É QUE
CONVIDA PARA ESTA EXPOSIÇÃO



Amanhã daremos a solução para este passatempo.
E mais, muito mais...

25 ANOS DEPOIS - II
No Reino dos Falsos Avestruzes
João Martins Pereira

Os cães de caça (ou os vendedores de mitos)
O pós-25 de Abril veio clarificar o posicionamento político dos antigos sectores oposicionistas. Como cada um pôde, felizmente, dizer tudo o que lhe ia na alma, começou-se a perceber que a grande "unidade anti-fascista" se desdobrava agora em diversas famílias partidárias. O período que decorre até ao 25 de Novembro não terá, neste aspecto, sido particularmente esclarecedor. A descompressão social foi de tal ordem, o "radicalismo" nas acções e na línguagem tão avassalador, que o simples discurso apelando à razão ou à moderação se via apodado de reaccionário, se não de fascista. Uma boa parte Uma boa parte da intelectualidade fascinou-se com a movimentação popular e com a descoberta de algo até então puramente livresco que era "um exército revolucionário": tornou-se de algum modo "esquerdista", se não "libertária". Outra parte foi-se acolher à sombra tutelar do "Partido", esperando porventura, a partir da célula dos intelectuais, insuflar-lhe uma nova dinâmica e uma maior flexibilidade. Os restantes andaram simplesmente "por aí", a ver em que paravam as modas, os mais conhecidos misturados agora nesse novo "melting pot" que era o Partido Socialista. Todos eles, no entanto, iam escrevendo coisas sobre o povo, o MFA e outros que tais temas próprios do tempo que corria. Enfim, so já no período de "normalização", depois de Novembro, se começam a definir as coisas, lentamente, que a decantação dos sobressaltos e das ideias é morosa como a dos precipitados na análise química. Aqueles para quem a "oposição" era já uma longínqua memória ou nunca mesmo existira, são os primeiros a levantar a cabeça: um Alçada aparece a dirigir "O Dia", um José Miguel Júdice adquire fama no "Diabo". Por essa altura, ainda um Cunha Rego era eminência parda de Soares, um Pulido Valente (ainda no PS) começava a enamorar-se de Eanes - e dar-lhe-ia forte esta inclinação, tempos depois -, um José Augusto Seabra afastava-se de Sá Carneiro a quem acusava de falta de democraticidade, um Barreto era ministro do PS, um Sttau Monteiro mantinha-se "compagnon de route" (se não mais) do PCP. Manuel de Lucena retomava um percurso que alguns textos seus sobre a "questão colonial" anteriores ao 25 de Abril prenunciavam. Em algumas intervenções pontuais ia-se desenhamdo o futuro conselheiro de Soares Carneiro: surpreendeu, à época, a sua defesa de Mota Freitas, o da rede bombista. No plano teórico, desenvolvia ao mesmo tempo laboriosas e intragáveis congeminações, destinadas às "elites" política e intelectual, sobre o corporativismo de antes e de depois do 25 de Abril, tendo como preocupação dominante a "questão de Estado". Estava em gestão o actual cronista permanente e ideólogo destacado do clube de "A Tarde".
in: joão martins pereira - no reino dos falsos avestruzes - editora "a regra do jogo" - 1983

EL MUSEO PERFECTO

La desazón que nos produce la actividad confusa y la desolación de las salas de los museos, no encaja con esa nueva moda teórica de debatir cuál es, cuál debe de ser, el modelo del museo perfecto. Esta idea de trazar un perfil de museo perfecto nos parece, de entrada, prepotente y excluyente. Si partimos de la convicción de que lo perfecto no existe, pero que si existiera sería inevitablemente aburrido, la idea de crear un museo perfecto nos desalienta tanto como nuestros muy imperfectos museos, nos aburre tanto como estos encuentros endogámicos que pretenden dictar modelos de existencia. Por otra parte, crear este artificial debate a partir de un club de amigos, a los que en alguna ocasión has tenido trabajando para ti, es un juego un tanto sucio para que ese perfil de museo perfecto (y aburrido) se parezca al que dirige el inventor del asunto. Una de las conclusiones de las últimas reuniones de los directores de museos españoles con teóricos extranjeros, da un resultado extraño, una excepcional unanimidad en fomentar un modelo de museo vacío, sólo ocupado por unas etéreas ideas que flotan como fantasmas por sus salas vacías, salas en las que no hay público y en las que posiblemente, a no tardar, tampoco haya obras, sólo documentos. El público, el espectador, parece no tener nada que contar. Tal vez nos olvidamos de que los visitantes a los museos somos todos, pero que cada vez somos más nosotros, es decir sólo nosotros. La politización de todos (iba a decir la mayoría pero no son la mayoría, son todos) nuestros museos nos deja un paisaje aterrador. Porque politización no significa solamente que están sometidos a los intereses y vaivenes de unos políticos mayoritariamente ignorantes en materias culturales (no quiero pensar en qué más son ignorantes) que ponen y quitan directores, cambian exposiciones, líneas de actuación, usando el museo como si fuera su sala de juegos. Politización también se puede aplicar cuando los directores de algunos museos usan a éstos y en general a la cultura como una estrategia de poder público o de enriquecimiento personal. Politización debería considerarse también la idea de que...
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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA























about christopher coppola (link)

O Simétrico, Capítulo IV


(...)
"Pousava com alguma precipitação, estendendo a braço direito na direcção do cabide, o chapéu-de-chuva dois anzóis à frente do chapéu de senhora e ao mesmo tempo atirava o saco com a bata para cima do sofá. Não tinha empregada, mas a casa estava impecavelmente limpa, como se nunca lhe tivesse sido tirado o plástico de protecção, como se acabasse de ser enxertada, isto porque o tempo que por lá deambulava era passado quase sem tocar em nada. A não ser nas plantas, mas para isso tinha reservado uma parte entre a cozinha e a varanda e isto em nada perturbava aquela arrumação programada. Quando arrumava, num dia previamente marcado no seu calendário mental e cuja mudança por um ou outro motivo lhe causava algum mal estar, irritação e até surpresa - pois nunca se imaginava nesse dia num outro local a não ser em casa -, deixava tudo de tal forma irrepreensível, que demorava muito tempo a sujar-se de maneira a ter de estipular outro dia na sua memória. Ficava assim liberto e sentia dessa forma ter cumprido um dever de grande importância, tanto que achava merecer uma recompensa e aí sim, saia para apreciar o que se passava lá fora. Embora achasse que o que lhe interessava, tudo o que o podia fazer feliz estava entre os elementos que compunham aquela arrumação e que interagiam com toda a harmonia, não conseguia deixar de sentir um fascínio por esse mundo de caos que começava para lá da janela.


Ao entrar, coordenava estes movimentos com o abrir do correio que tinha apanhado na porta da entrada na respectiva caixa de correio. Nunca esperava nada de extraordinário e quando lhe surgia algo de inesperado como uma carta de quando em quando de um parente muito afastado, ou uma promoção nova com publicidade cheia de cores e letras apelativas, notava um pequeno desagrado por sentir que havia alguém que não atribuía ao seu momento de refeição a importância de que ele estava certo, esse momento possuir. E quando finalmente todas estas amarras triviais haviam sido rompidas pela força da fome, descansava-a no prato de iscas com arroz de tomate, que preferia malandrinho, mas de que, por hábito inquebrável de preparar o almoço por volta das sete da manhã, via-se obrigado a abdicar. Fazia aquela refeição com todo o método exigido a uma última ceia: sempre o mesmo prato, primeiro o arroz já seco, mas ainda com a temperatura certa para uma fome que se recusava a esperar, e depois as iscas libidinosas no seu molho de cebolada, molho esse cujo brilho o enfermeiro espalhava gulosamente sobre o arroz, para o imaginar malandro tal como gostava e como de facto lhe sabia; o copo de vinho, em quantidade parca para uma refeição que durava sempre cerca de 30 minutos. E depois era a deliciosa repetição dos gestos: o desembrulhar do jornal sem o rasgar, o pousar do prato perto do tacho, em cima da boca do fogão, o servir-se com a grande colher – como se se tratasse de um instrumento maçónico – os dois passinhos que o separavam da mesa e que dava como numa dança, o puxar do banco com o pé, enquanto o resto do corpo se preparava para se sentar naquela superfície ainda em movimento, os dois talheres na mão esquerda, juntamente com o prato, o copo na mão direita e tudo junto ao mesmo tempo a assentar arraiais na toalha branca como uma grande festa de aldeia com duração indefinida."

(...)

25 ANOS DEPOIS - I
No Reino dos Falsos Avestruzes
João Martins Pereira

No próximo mês de Dezembro completam-se vinte e cinco anos relativos à entrega de um original da autoria de João Martins Pereira à editora A Regra do Jogo para publicação de um livro, o qual seria colocado no mercado em 1983, sob o título No Reino dos Falsos Avestruzes – Um olhar sobre a política”.

Ao longo dos próximos dias iremos transcrever um “capítulo” desse livro intitulado Os Cães de Caça (ou os vendedores de mitos).

A actualidade do texto de João Martins Pereira, passados que são vinte e cinco anos sobre a sua feitura, dispensa quaisquer comentários.

Só lamentamos o afastamento de João Martins Pereira.

Homens como ele fazem muita falta a esta nossa embrionária democracia.

Os cães de caça (ou os vendedores de mitos)

“O 25 de Abril trouxe-nos, entre muitas outras coisas, os “intelectuais de direita”. Era lógico que assim fosse, e é mesmo benéfico ao ponto de podermos incluir tal facto entre as “conquistas de Abril”. Com efeito, tirando uma ou outra figura que descuidadamente escorregou na casca de banana marcelista, pode afirmar-se que tudo o que por aí ia de “cabeça pensante” com o mínimo de caco era oposicionista.Claro que ser oposicionista não significava ser de esquerda, mas nessa altura era conveniente manter-se a confusão do melting pot onde todos cabiam, já que o objectivo número um era obter “as liberdades” – coisa importante para toda a gente, e vital para os intelectuais. Dir-se-à que um intelectual de direita dispunha então de toda a liberdade, o que nos restitui à questão de saber por que não existiam.
As razões são várias, mas como me não interessa deter-me neste ponto, mas apenas constatá-lo, direi que só existia verdadeira liberdade para os “intelectuais de extrema-direita” – expressão que é uma autêntica contradição nos termos, tanto a razão é violentada por regimes políticos desse perfil.
Poderá mesmo observar-se que, neste século, os mais influentes “intelectuais de extrema-direita” ou desenvolveram as suas teorias em regimes democráticos (caso típico de um Maurras, de um Sardinha entre nós) ou fizeram da política uma fé, muitas vezes em situações-limite que impõem escolhas simples e extremas (caso dos intelectuais colaboracionistas ou pro-nazis, hoje em boa parte recuperados como “artistas” que eram, não como doutrinadores; um Céline, um Drieu, um Ezra Pound).
in: joão martins pereira - no reino dos falsos avestruzes - editora "a regra do jogo" - 1983

terça-feira, 16 de outubro de 2007

TENHAM UM MUITO BOM DIA
















about pascal maitre (link)



NÓS POR CÁ TODOS BEM

Temas do rectângulo

Quando da próxima vez levantarmos a voz contra os "fracos reis" que nos governam,
tenhamos a coragem de reconhecer neles a triste imagem da "fraca gente"
em que nos deixámos transformar.
viriato soromenho marques - visão 18.5.2006