quarta-feira, 17 de outubro de 2007

25 ANOS DEPOIS - I
No Reino dos Falsos Avestruzes
João Martins Pereira

No próximo mês de Dezembro completam-se vinte e cinco anos relativos à entrega de um original da autoria de João Martins Pereira à editora A Regra do Jogo para publicação de um livro, o qual seria colocado no mercado em 1983, sob o título No Reino dos Falsos Avestruzes – Um olhar sobre a política”.

Ao longo dos próximos dias iremos transcrever um “capítulo” desse livro intitulado Os Cães de Caça (ou os vendedores de mitos).

A actualidade do texto de João Martins Pereira, passados que são vinte e cinco anos sobre a sua feitura, dispensa quaisquer comentários.

Só lamentamos o afastamento de João Martins Pereira.

Homens como ele fazem muita falta a esta nossa embrionária democracia.

Os cães de caça (ou os vendedores de mitos)

“O 25 de Abril trouxe-nos, entre muitas outras coisas, os “intelectuais de direita”. Era lógico que assim fosse, e é mesmo benéfico ao ponto de podermos incluir tal facto entre as “conquistas de Abril”. Com efeito, tirando uma ou outra figura que descuidadamente escorregou na casca de banana marcelista, pode afirmar-se que tudo o que por aí ia de “cabeça pensante” com o mínimo de caco era oposicionista.Claro que ser oposicionista não significava ser de esquerda, mas nessa altura era conveniente manter-se a confusão do melting pot onde todos cabiam, já que o objectivo número um era obter “as liberdades” – coisa importante para toda a gente, e vital para os intelectuais. Dir-se-à que um intelectual de direita dispunha então de toda a liberdade, o que nos restitui à questão de saber por que não existiam.
As razões são várias, mas como me não interessa deter-me neste ponto, mas apenas constatá-lo, direi que só existia verdadeira liberdade para os “intelectuais de extrema-direita” – expressão que é uma autêntica contradição nos termos, tanto a razão é violentada por regimes políticos desse perfil.
Poderá mesmo observar-se que, neste século, os mais influentes “intelectuais de extrema-direita” ou desenvolveram as suas teorias em regimes democráticos (caso típico de um Maurras, de um Sardinha entre nós) ou fizeram da política uma fé, muitas vezes em situações-limite que impõem escolhas simples e extremas (caso dos intelectuais colaboracionistas ou pro-nazis, hoje em boa parte recuperados como “artistas” que eram, não como doutrinadores; um Céline, um Drieu, um Ezra Pound).
in: joão martins pereira - no reino dos falsos avestruzes - editora "a regra do jogo" - 1983

Sem comentários: