quinta-feira, 13 de outubro de 2005

ALBERTO FERREIRA - ESTUDOS DE CULTURA PORTUGUESA SÉCULO XIX (3)

Como e porquê?

Como: reflectindo, sem preconceitos acentuadamente ideológicos, acerca do que li dos educadores oiticentistas na relação directa (e diria imediata, se fosse possivel) com o experimento quatidianamente na sociedade de novecentos e setenta e tal. Parece ser próprio da nossa época a desigual repartição de forças entre o que se pretende mutável e mudável, entre o que anseia transformar-se radicalmente e aquilo (ou aqueles) que querem sustentar a rotina, a tradição, o passado (ultrapassado), o estado, o imobilismo, o que se suspende receando e travando o futuro.

Desigual porque as forças de rotina e tradição (de uma só e terrivel e ortodoxa tradição) imobilizaram as estruturas, cimentaram-se de peias legislativas, de retraimentos negativos, de palavras de ordem que se mostraram contrárias ao sentido da evolução social. Ninguem imaginaria há trinta anos quanto nos havia de custar o prolongamento da falta de instrução e de conhecimentos da massa trabalhadora.

Quase ninguém se preocupou em prever o que seria a década de setenta desemparada de investigação científica, sem tecnologia própria, sem indústria pesada nem de bens de consumo. Vivemos, porém, a furiosa necessidade de transformação. Sente-se por todo o lado. O fenómeno é universal. Tudo consiste em saber se iremos continuar ronceiramente o passado, se iremos combater a tendência inexorável para a mudnaça de mentalidade e de estruturas sociais.

A velocidade mundial do progresso poderá ser travada aqui e agora ?

Conseguiremos ficar numa laguna esquecida, com o Mundo aos berros ?

Vivemos, mais do que nunca, um tempo efervescente, desejoso de transformações. A juventude sublinha e prossegue o renovado sonho do homem: desvelar o mundo exterior, transformá-lo segundo o projecto humano.

E ela exiga fortemente o seu aotoconhecimento, a definição so seu campo de acção, a designação dos fins da sua passagem na visa, pretende reencontrar as linhas históricas que a explicam, desbravar caminhos que se prolonguem para além do seu viver vegetativo, que o mesmo é dizer para além da sua morte.

Eis porque o meu "contar" os textos pedagógicos de oiticentos se insere numa filosofia de vida, numa concepção geral do mundo. O passado tem significado enquanto projecto actualizado, ou seja, enquanto manifestação valiosa da vontade e da aspiração dos que nos antecederam o fazer da história, o que permanece vivo apesar das tumbas e dos túmulos que pesam na memória dos homens.

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