segunda-feira, 17 de outubro de 2005

RICHARD FLORIDA, VITOR BELANCIANO OU OS PÉS PELAS MÃOS

Num texto intitulado "Criatividade é desenvolvimento" o jornalista Vitor Belanciano assina no Público de ontem um artigo sobre Richard Florida e o conceito "Creative Class".

Não é um tema novo para a Formiga Bargante. Como mais relevantes, aqui ficam dois links sobre Richard Florida, este e este.

Acontece que Vitor Belanciano não resiste ao aspecto "folclórico" que costuma rodear Richard Florida. Os leitores apressados deste economista americano de sucesso mediático (e financeiro...) costumam realçar o tema Gay. É uma receita que bate sempre certo.
E Vitor Belanciano escreve, no primeiro parágrafo do seu texto: "Uma cidade ou região sem uma cena musical vibrante e sem uma comunidade gay florescente está condenada ao declínio social e económico".

Nada mais errado.

Num dos já famosos T da teoria de Richard Florida, o da Tolerância, este T é dividido em três sub-grupos: "Attitudes", "Values" e "Self-Expression".

Para não arriscar na tradução, aqui vão, no original, os aspectos analisados nestes três sub-grupos:

Attitudes - Based on the results of the Eurobarometer Survey...based in four categories: intolerant, ambivalent, passively tolerant and actively tolerant.

Values - measures to what degree a country reflects tradicional as opposed modern or secular values. It is based on a series of quentions covering attitudes toward God, religion, authority, family, women´s rights, divorce and abortion.

Self-Expression - captures the degree to witch a nation values individual rights and self-expression. It is based on questions covering attitudes toward self-expression, quality of life, democracy, science and technology, the environment, trust, protest politics, immigrants and gays.

Como podem verificar, o tema gay corresponde a uma das muitas análises realizadas para avaliar o grau de tolerância de um país.

Só que para o artigo de Vitor Balenciano "dava mais leitores" destacar este tema, em prejuizo da leitura global das teses defendidas por Richard Florida.

Mas Vitor Balenciano vai mais longe, ao defender que o problema de Portugal, seguindo a óptica de Richard Florida, está na cultura, e vai daí "malha" nos políticos e nas linhas orientadoras para o sector da cultura.

Não é que os políticos (e já agora quem os elege, veja-se o caso de Lisboa, mas isso são outras "estórias"...) não mereçam ser "malhados", só que para se chegar a esse objectivo não se pode distorcer os conceitos de Richard Florida.

Mas, ao falar de Richard Florida, Vitor Balenciano não dá a conhecer o que, segundo a Formiga Bargate, é mais importante nos estudos feitos pela equipa de Richard Florida, a saber:

Em 2002 foi realizado um estudo intitulado EUROPE IN THE CREATIVE AGE, dirigido por Richard Florida e Irene Tinagli.

E Portugal está nesse estudo !

A Formiga Bargante aconselha vivamente os leitores que façam uma busca na net sob aquele titulo (não dá o link porque o mesmo está com problemas) e vão encontrar, logo no início da pesquisa, a versão em PDF daquele estudo. Acreditem que não devem perder este trabalho, dado que ao que Portugal se refere vão encontrar muitas (e más, para não variar) informações sobre este cantinho à beira-mar plantado.

Já agora, e para que os apoiantes de Carmona Rodrigues (se é que algum lê este blogue, o que muito admiraria a Formiga Bargante...) se interroguem em quem votaram, aqui vão dois links relacionados com as cidades e a politica das cidades.

Um sobre Londres, e a Creative London, e outro sobre Helsinquia e as políticas que estão a desenvolver para o futuro.

Tal como em Lisboa, não é ?

NOTA FINAL: Mas nem tudo é desespero: durante a reunião promovida pelo PS no hotel Altis para apresentação pública da Candidatura Carrilho, o primeiro-ministro confidênciou para a plateia que estava muito entusiasmado com a candidatura (estes políticos...) e queria agradecer "ao Manuel Maria" a oferta de um livro cujo autor ou título não podia revelar, pois não queria fazer publicidade ao mesmo, mas que era o livro do autor da teoria dos 3 T.

Tenhamos esperança: o primeiro ministro conhece Richard Flórida, e não é na versão Vitor Belanciano, é na original !

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