quarta-feira, 30 de novembro de 2005

O PRÓXIMO QUADRO COMUNITÁRIO DE APOIO (2007/2013) E UM ESTUDO DE UMA EQUIPA LIDERADA POR AUGUSTO MATEUS

Foi ontem apresentado ao governo um estudo de uma equipa chefiada por Augusto Mateus, no qual, e pela primeira vez em Portugal, é apresentada uma "fotografia" do país baseada em 35 indicadores de desenvolvimento económico e social.

Esta fotografia não é só a sépia (virada para o passado) mas é também a cores (sombrias, mas a cores), ou seja, virada para o próximo futuro.

É matéria que deveria interessar a todos, mas a todos os portugueses. Trata-se, afinal, de conhecer melhor sobre que terreno nos movemos, e, a partir dai, tentar traçar itinerários para o futuro.

Não temos grande esperança de que tal venha a acontecer, dada a tendência para protestar e não actuar, de se recriminar em lugar de se envolver, de deixar para os outros (entenda-se políticos) a tomada de decisões nas quais todos nos deviamos envolver, mas não o fazemos.

É mais cómodo assinar a TVsport e assistir ao último Benfica-Porto, e, no intervalo, "bater" na "cambada de políticos corruptos, incompetentes e inconsistentes que nos governam", -mas espera aí que já seguimos a conversa porque acabou o intervalo-.

A Formiga Bargante vai tentar obter o estudo, e depois logo conversamos.

No entanto, e de um pequeno dossier dedicado pelo Público ao assunto, na edição de ontem, duas questões, entre outras, nos chamaram particularmente a atenção.

Numa delas,pergunta a jornalista Lurdes Ferreira a Augusto Mateus:

P - A cintura do Grande Porto assume-se como uma das regiões mais problemáticas do país. Foi a grande surpresa deste estudo ?

R - Há muito que se sabia que a região Norte tinha características positivas do ponto de vista da iniciativa, mas era orientada para actividades com dificuldades, pelo que foi produzindo uma menor coesão social, a que se juntaram problemas de competitividade. Hoje, tem necessidade de fazer uma profunda reestruturação e com limitações significativas do ponto de vista da qualidade do território e das pessoas.


A outra questão, faz parte de um conjunto de 7 recomendações deste estudo, destacadas pelo Público:

" A redução drástica da - complexidade dos instrumentos de programação, ou seja número de programas, eixos medidas e acções e uma ainda mais drástica redução do número de projectos financiados -, com o objectivo de passar a uma - muito maior capacidade de induzir, viabilizar e acompanhar projectos de elevada qualidade, dimensão e sustentabilidade -.

Destas duas questões surgem-nos duas perguntas:

1 - relativamente à primeira questão "há muito que se sabia que a região Norte..." leva-nos a perguntar se, sabendo "há muito" que os dinheiros comunitários estavam a ser mal aplicados (veja-se o exemplo do Vale do Ave e todo o desemprego que por lá existe e que vai aumentar, e muito...) qual a razão ou razões que levaram o poder político a não tentar inverter a situação.

Era sabido, desde há dez anos, repetimos, DEZ ANOS, que o acordo negociado no GATT sobre a liberalização dos texteis iria trazer sérios problemas à nossa indústria téxtil.

Portanto, esta demissão do poder político é criminosa, tanto mais que seria interessante saber qual o dinheiro comunitário e nacional aplicado na zona do Grande Porto, em que programas, em que empresas,e já agora, aprovado por quêm.

Quanto à segunda questão, Augusto Mateus, com a diplomacia que lhe é conhecida, aborda o problema sem chamar os bois pelos nomes.

Ao abrigo dos fundos comunitários, todos eles, foram criados milhares de postos de trabalho em estruturas que nada acrescentam ao desenvolvimento do pais, e que se limitam a parasitar aquelas verbas.

Ele é a comissão disto, é o estudo para aquilo, são as formações profissionais com os resultados conhecidos (pouco, mas conhecidos...), são as estruturas para acompanhamento de milhares de pequenos projectos, enfim, um verdadeiro festival de "fartar vilanagem".

E sempre são uns milhares de postos de trabalho a distribuir por amigos e colegas de partido.

E, no fundo, o que Augusto Mateus vem dizer é que esta situação é insustentável, como, aliás, sempre foi.

Vai ser diferente no periodo 2007/2013 ?

Necessário é, se existe força ou vontade política para o fazer é que é a dúvida.

Mas se todos nós (vá lá, uma parte minimamente significativa...) se envolvesse na discussão e acompanhamento destas questões, seria eventualmente mais fácil.

Verdade ?

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