ASCENT
Bernando Sassetti
"Todos sabem (ou imaginam) que o desafio de comunicar, a espontaneidade, a harmonia, o conflito de sons e ideias, assim como a energia sob várias formas e feitios, serão sempre lugares comuns quando falamos de música, escrita ou improvisada. Interpretá-la no momento é a expressão máxima do nosso caminho e a constante procura de caminhos outros. Eu gosto de pensar que talvez seja a vontade de olhar para dentro e, do silêncio interior, dar sequência a algumas (possíveis) imagens da nossa memória e, ao mesmo tempo, do preciso momento em que o som e a ideia são lançados; mas o maior desafio de todos é, para mim, a incerteza na procura de outros lugares, indefinidos e muito longe daquele onde vivemos – quando deixamos para trás os nossos instrumentos. Muitas vezes, penso em música como uma forma de desconstrução, e consequente construção, do discurso musical, e também como representação de imagens abstractas, presentes na consciência imediata. Estas ganham ainda maior dimensão quando, em conjunto com outros músicos, surgem como “movimentos” dramáticos, objectivos mas também indefinidos, das “histórias” que nos propomos contar. Música, essa questão cada vez mais sem limites. Talvez seja o reflexo da nossa vida; talvez seja a realidade juntamente com o universo dos sentidos. Porém, mais do que a própria realidade, este é o espelho das coisas que dela imaginamos. Do silêncio e de regresso a ele, as imagens (em forma de música) terão sempre um carácter abstracto, suspenso, inacabado... Ascent é dedicado a José Álvaro Morais, cineasta com que trabalhei no seu último filme, Quaresma. Foi ele que me indicou o caminho do silêncio e a sua importância na arte".
Bernardo Sassetti
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