DAS RAZÕES PELAS QUAIS CAVACO SILVA NÃO DEVE NEM PODE SER O PRÓXIMO PRESIDÊNTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Que país é este que se prepara para eleger um Presidente da Républica em Janeiro?
Que povo é este que habita este país?
No fundo, quem somos ?
Para percebermos das razões que levam a Formiga Bargante a afirmar, convictamente, que Cavaco Silva seria (será?) um péssimo serviço ao País, enquanto Presidente da República, convém tentar perceber que pessoas somos.
Todos os dados que passaremos a apresentar, referem-se à Europa Comunitária a 15 mais os Estados Unidos (EUA), dado que na altura em que estes estudos foram realizados ainda não estava concretizado o alargamento para 25 países.
E vamos dividir estes estudos em três grandes linhas, Talento, Tecnologia e Tolerância, aproveitando o trabalho de Richard Florida intitulado "Europe in the Creative Age".
1 - TALENTO
1.1 -Creative Class(employed in creative occupations as percentage of total employment)
Segundo um estudo da ILO (http://laborstat.ilo.org,) e com dados referentes a Outubro de 2002 Portugal encontra-se em último lugar dentro da amostra referida.
1.2 - Human Capital(percentage of population 25-64 with a bachelor degree or above)
Segundo dados da OCDE de 2001, Portugal está em 13º lugar, tendo, depois de si, a Áustria e a Dinamarca.
1.3 - Scientif Talent (number of researchers in scientif disciplines per thousand workforce)
Segundo dados do Eurostat de 2001, Portugal estava em penúltimo lugar, seguido da Grécia.
2- TECNOLOGIA
2.1 - Innovation index (patents applications to the US Patent Office per million population)
Segundo um relatório da Comissão Europeia (Towards a european reserch area-key figures for 2001) Portugal estava em último lugar.
2.2 - Technology Innovation index (high-tech patents per million population)
Segundo o mesmo estudo referido na alinea anterior, Portugal estava em último lugar.
2.3 - R&D Index (r&d expenditure as percentage of GDP)
Ainda segundo o Eurostat, e relativamente a 2001, Portugal estava em oitavo lugar
3 - TOLERÂNCIA
3.1 - Attitudes index (percentage of population that express tolerant attitudes toward minorities)
Segundo o European Monitoring Centre on Racism and Xenophobia e o SORA-Institute for social research analysis, e com dados de 2001, Portugal estava em nono lugar, tendo atrás de si a França, a Alemanha, a Bélgica e a Grécia.
3.2 - Values Index (degree to which a country is based on traditional values versus more racional/secular values)
Segundo um estudo da Universidade do Michigan (world values survey) Portugal estava em penúltimo lugar, seguido pela Irlanda.
3.3 - Self-expression index (degree to wich a country recognizes and accepts self expression values)
Ainda segundo o estudo citado na alínea anterior, Portugal estava em último lugar.
Se juntarmos a estes dados concretos o conhecimento mais abstracto que temos do estado da justiça, do aparelho produtivo, do aparelho de estado e do sistema educativo, temos elementos mais do que suficientes para fazer um retrato do país e das pessoas que o habitam.
Quanto ao país, já todos sabemos, de forma mais ou menos fundamentada, que Portugal está muito longe dos padrões a que aspira, os padrões europeus, em todos os segmentos em que se queira fazer essa análise.
Já quanto às pessoas, parece ser claro que somos, globalmente, analfabetos, intolerantes, preconceituosos e, afirma a Formiga Bargante, um povo com medo.
Medo de um presente difícil, mas, principalmente, de um futuro que se sente muito negro, mas que ninguém quer interiorizar, porque desde esse momento seriamos todos nós, enquanto individuos, que nos tinhamos que interrogar sobre o nosso lugar nesse novo mundo que vislumbramos, mas do qual temos imenso medo.
Assim, é muito mais fácil deitar as culpas para os políticos (mas quem é que os elege? quem vota neles?) que são "uma cambada de corruptos e incompetentes" e continuarmos a discutir quem será o novo treinador do FCP, ou quando será a próxima greve para defender sabe-se lá o quê, ou qual será a próxima novela da SIC ou da TVI, ou qualquer outra bos contribuição da 1ª Companhia e da inanarrável Júlia Pinheiro.
E é aí que surge Cavaco Silva.
Calado, permite que todas as frustações, todos os recalcamentos, todas as despeitas, todas as amarguras, todas as desistências se revejam no "salvador da pátria" que nos vai salvar dos políticos "corruptos e incompetentes", e a partir daí resolver as problemas de Portugal, ficando o resto do Zé Povo muito quietinho, "a ver a banda passar".
E é isto que Cavaco Silva pretende.
Ele que não lia jornais, que nunca se enganava e que raramente tinha dúvidas (lembram-se?) aí está para nos libertar da maçada de nos incomodarmos a pensar no que está mal no país e em nós mesmos, no que é preciso mudar no país mas também em cada um de nós.
Só que tudo isto é um enorme embuste.
Portugal só mudará se todos nós mudarmos, e, acima de tudo, se tivermos estimulos e vontade para mudar.
O último "salvador da Pátria" que tivemos (tivemos outros, mas este foi o último) foi Salazar com os resultados conhecidos.
Cavaco igual a Salazar ? Decerto que não. Mais perigoso, certamente.
Cavaco representa o passado, Cavaco é incapaz de compreender o presente, e muito menos de antever o futuro.
Quando a Irlanda e a Finlandia, entre outros, investiam nas pessoas, no conhecimento e na transformação das suas sociedades, Cavaco, enquanto primeiro-ministro, investia em auto-estradas e em betão, ignorando, por não compreender, o que estava em jogo.
E é ele que hoje se apresenta como o factor de desenvolvimento de Portugal...
Não, Cavaco não serve e ser fosse eleito (será?) traria consequências tremendas para Portugal.
Precisamos de agentes de mudança e não de gente que nunca se engana e raramente tem dúvidas.
Nota: escrito horas antes do primeiro debate entre os dois candidatos presidências Cavaco Silva/Manuel Alegre.
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