quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

LEITURAS IMPOSSÍVEIS

“O Código De Midas descodificado” – por Dan Beluga
(Algumas indicações verdadeiras sobre um mito. Um livro que não existe, mas podia muito bem existir. Um livro para ler, ao contrário do presente post.)



- Midas conhecia a vida dionisíaca através do profeta Orfeu. Quando um dia lhe surgiu um velho sátiro embriagado, reconheceu de imediato Sileno, amigo de Dionísio.
- Selénio é o nome de uma substância usada para dar o tom dourado ao vidro. É mais barato que o ouro, obviamente e por isso muito usado. Pode ser visto quando observamos uma peça de vidro colorido a contra-luz. Se tiver Selénio ou ouro, a zona iluminada adquire outra cor.

- Quando era bebé, Midas foi alimentado por um carreiro de formigas que levavam até a sua boca grãos de trigo dourado (daí o problema com o Midas touch).
- Hoje em dia a história tornou-se mais modesta: as formigas não alimentam bebés, mas são capazes de alimentar cigarras desde que estas peçam muito.

- O lado pedagógico da história: enaquanto que para Midas o maior desejo era poder transfomar tudo o que tocasse em ouro, a Utopia de Thomas Mann regenera o Homem e coloca-o, ainda que num plano utópico, numa situação em que a matéria não tem importância (na ilha o ouro está acessível a todos mas ninguém o deseja mais do que outra coisa qualquer).

- Midas era um ganancioso sem juízo. A arbitar o concurso entre Apolo e Pã, juntamente com Tmolo, deus do rio, afirma de imediato: “Gostei mais da música de Pã”, como se depois do incidente com o ouro a sua credibilidade fosse alguma, ainda que para arbitrar um simples concurso. Dizia-se que Midas tinha criado a flauta para Pã e por isso decidiu a favor dele.
- Um dia um modesto sapateiro de clientes pobres como ele recebeu a encomenda e visita de um nobre. Excitado com presença tão distinta começa a opinar sobre a sola do sapato, a biqueira, a meia, a beira do calção ao que o nobre repondeu: “Não suba o sapateiro acima da chinela”.

- O rei Midas resolveu um dia opinar sobre um concurso de música entre Pã e Apolo. Opinou a favor do primeiro e Apolo, para castigar o monarca deu-lhe umas orelhas de burro. O rei Midas envolveu as orelhas num turbante mas o seu barbeiro decobriu e como não conseguia guardar segredo cavou um buraco no chão, gritou o segredo lá para dentro e fechou o buraco. Naquele lugar nasceram caniços que quando o vento lhes batia diziam: “O Rei Midas tem orelhas de burro! O Rei Midas tem orelhas de burro!”
- Mais tarde contaram-nos a história de outra forma. Já não se tratava do vento a revelar o segredo do Rei Midas, mas uma criança que faz aquilo que ninguém tinha coragem de revelar: “O Rei vai nu! O Rei vai nu!” Talvez porque tanto num caso como no outro nenhum dos detractores podia ser sancionado.

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