segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

OS VOTOS EM MANUEL ALEGRE E OS COMENTADORES DE SERVIÇO

Uma semana após as eleições para a Presidência da República, a Formiga Bargante continua a assistir com muita curiosidade aos comentários relativos à votação obtida por Manuel Alegre.

Os 1.125.077 votos obtidos por Alegre continuam a merecer a atenção dos nossos comentadores de serviço, desde Pacheco Pereira a Pulido Valente, ou de Marcelo Rebelo de Sousa a Alfredo Barroso, entre muitos outros.

Tendo por base "o seu profundo conhecimento do povo português" os nossos queridos comentadores de serviço rápidamente interpretaram aqueles votos como um fenómeno passageiro, sem outro significado para além de um descontamento mais ou menos declarado em relação às estruturas partidárias, e que passada esta fase de visibilidade do protesto, aquele mais de um milhão de eleitores de Manuel Alegre voltarão à "doce quietude" do seu dia a dia, e salvo pequenos ajustamentos partidários (é necessário que algo mude para que fique tudo na mesma), nenhumas outras consequências advirão daquele grupo de votantes.

Provávelmente até terão razão.

Mas essa será uma razão de superficie e não de profundidade.

O descontentamento existe e não vai "evaporar-se", só porque não encontra canais de comunicação através dos quais possa exprimir tal descontentamento.

Continuará a existir, e estará disponivel para um próximo "chamamento", venha ele da direita ou da esquerda. Foi assim com Le Pen em França, que era um fenónemo anunciado desde logo data, foi assim na Áustria e nada nos garante que não venha a ser assim em Portugal.

Paulo Portas não está parado, bem longe disso, e todos lhe reconhecem capacidades mais do que suficientes para dirigir um movimento populista de direita, na altura que considere mais conveniente.

Mas terá que ser assim ?

Não, não tem.

Manuel Alegre e o grupo de pessoas que o apoiou têm, neste momento, uma responsabilidade muito particular nas decisões que irão tomar relativamente ao movimento cívico que pretendem fundar.

Deverão entender que o mais de um milhão de cidadãos que votaram em Manuel Alegre são constituidos por pessoas de direita e de esquerda, pessoas desiludidas com a nenhuma hipótese de participação na vida pública, pessoas cada vez mais informadas e exclarecidas, mas que nos aparelhos partidários não encontram qualquer espécie de possibilidade de participação na vida dos partidos com os quais se sentem identificados.

Daí, tal movimento cívico deverá estar atento a grandes causas nacionais, mas tentar também acompanhar causas mais locais, mais próximas dos cidadãos e do seu dia a dia, das suas preocupações mais próximas e concretas, mais ao nivel local, onde o poder é exercido, na maioria dos casos, por pequenos tiranetes, com consequências negativas directas na vida de cada um de nós.

Missão muito, mas mesmo muito difícil, mas, exactamente por isso, aliciante e gratificante.

Mãos à obra, Manuel Alegre, e mais 1.125.077 portuguêses que nele votaram.

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