BELUGA OU A FORMIGA A QUATRO MÃOS
Kunstkammern e Entartetekunst
No século XVII as cortes europeias eram locais estranhos, embora já afastados do carácter de outrora. Passaram de ninhos de conspiração, morte e traição, para oligarquias, e destas para lugares que privilegiavam a circulação do conhecimento. Com a passagem do feudalismo, o Homem passou a ser encarado não como um guerreiro, mas como um cortesão. Ao mudar o conceito de guerra e a forma como esta se processava, mudou também o papel do homem na sociedade e na corte.
O mundo das cortes acolhe de forma entusiástica o Maneirismo porque este mostra uma imagem de requinte que as cortes necesitavam para se legitimar como centros de interesse e distanciar-se do seu passado menos recomendável. Os dois príncipes do Maneirismo foram Francisco de Médici e Rudolfo II. Este último vindo da Casa dos Habsburgo: era sobrinho/primo de Filipe II e filho de Maximiliano, vivendo assim entre o Catolicismo e o Reformismo. No seu tempo a Boémia estava mergulhada no caos e Rudolfo II isola-se no seu mundo não antes sem se fazer rodear de um universo humanista. Chamou até si Archimboldo, realizou experiências alquímicas, rodeou-se de charlatães e burlistas e conseguiu reunir um fantástico gabinete de curiosidades ou Kunstkammern.
No século XVII as cortes europeias eram locais estranhos, embora já afastados do carácter de outrora. Passaram de ninhos de conspiração, morte e traição, para oligarquias, e destas para lugares que privilegiavam a circulação do conhecimento. Com a passagem do feudalismo, o Homem passou a ser encarado não como um guerreiro, mas como um cortesão. Ao mudar o conceito de guerra e a forma como esta se processava, mudou também o papel do homem na sociedade e na corte.
O mundo das cortes acolhe de forma entusiástica o Maneirismo porque este mostra uma imagem de requinte que as cortes necesitavam para se legitimar como centros de interesse e distanciar-se do seu passado menos recomendável. Os dois príncipes do Maneirismo foram Francisco de Médici e Rudolfo II. Este último vindo da Casa dos Habsburgo: era sobrinho/primo de Filipe II e filho de Maximiliano, vivendo assim entre o Catolicismo e o Reformismo. No seu tempo a Boémia estava mergulhada no caos e Rudolfo II isola-se no seu mundo não antes sem se fazer rodear de um universo humanista. Chamou até si Archimboldo, realizou experiências alquímicas, rodeou-se de charlatães e burlistas e conseguiu reunir um fantástico gabinete de curiosidades ou Kunstkammern.
Arcimboldo
Retrato de Rudolfo II
Eram salas onde se podia encontrar peças de diferentes países e fruto das visitas e conquistas dos monarcas, mas também peças exóticas, e estranhas, obras de arte, medalhística, antiguidades greco-romanas, raridades, coisas novas para a Europa, relojoaria (que Rudolfo montava e desmontava). As “curiosidades” amontoavam-se segundo a sua proveniência ou material, e misturavam-se umas com as outras. Foi esta a base do coleccionismo, embora a meu meu ver não seja a base da museologia, uma vez que estas colecções eram mais apreciadas quanto mais escondidas estavam.
William van Haecht
Archduke Albert visits the kunstkammern of Cornelius van der Geest
1628
Rubenshuis, Antuérpia
No século XX, em 1937 o regime nazi faz uma mostra de arte degenerada ou Entartetekunst. Era arte degenerarda toda a arte moderna que, baseado num conceito (curiosamente) de um judeu de que as deformações que produzimos são deformações de carácter, [uma espécie de inversão do neoplatonismo tradicional como o fez Goethe: o que está dentro está antes fora)], o regime nazi tomou todas as formas de arte que não privilegiavam o figurativismo. No fundo esta era uma das muitas justificações para certas formas de arte serem consideradas degeneradas: eram realizadas por artistas judeus ou de raça não ariana, colocavam em causa o ideal nazi de supremacia e hegemonia, ao retratarem o corpo feminino nu na sua fragilidade e defeitos eram um insulto às mulheres alemãs, eram de difícil compreensão simplesmente porque a sua compreensão obrigava a alguma aceitação e abertura. Havia ainda o facto de a Alemanha viver um período difícil de tal forma que um pouco de alimento era muito caro. Estas obras de arte que atingiam preços exorbitantes eram uma afronta a uma Alemanha debilitada.
Joseph Goebbels, Hitler e Adolf Ziegler de visita
à exposição nazi de arte degenerada
Por isso o regime promoveu uma exposição itinerante que começou em Munique e percorreu mais oito cidades entre a Alemanha e a Áustria. As obras de arte consideradas más eram dispostas nos locais de exposição de forma que não pudessem ser sequer apreciadas. Aliás as exposições serviam não para apreciar, mas para depreciar. As pinturas eram colocadas lado a lado e uma por cima das outras, penduradas por uma corda a cobrir totalmente as paredes dos espaços expositivos, sem moldura e acompanhadas de frases de insulto escritas na parede. Tal como nas kunstkammerns, havia uma divisão temática e que se prendia com as diferentes visões da religião, a arte judaica e a representação modernista da mulher. Os alvos preferenciais eram os artistas dadaístas, os surrealistas e os expressionistas. Cá fora faziam-se filas semelhantes às do Pavilhão de Macau na Expo 98 para criticar e refrescar na memória o que era proibido apreciar e para picar o ponto frente aos oficiais nazis.
Oficiais nazis na exposição da Entartete Kunst
em Dusseldorf, 1938
Com o primeiro exemplo aprendemos a partilhar e com o segundo espero que tenhamos aprendido a não espartilhar.
4 comentários:
Questiono-me: que tipo de quadros teria Hitler...por exemplo no seu quarto? Retratos de si mesmo, suponho(que pergunta a minha..!!)
Genial de Génio a analogia inversa. beijo ju-amor
Curiosamente, a Reichskulturkammer, ou "Ministério da Cultura Nazi", tinha um estilo artístico de eleição (e imposição). Era a Arte heróica: meninos loiros, o protótipo da raça ariana em posições de discóbolo, a saltar barreiras, a velejar, mulheres bonitas em trabalhos dignos (semelhante ao que uma das personagens de "Aparição" diz ao narrador: "conte-lhes histórias bonitas de meninos ricos que dão esmolas a meninos pobres"). Só que a exposição de arte degenerada teve mais visitantes que esta de Arte heróica. Quanto aos quadros, e como "quem desdenha quer comprar", ou neste caso, quer sacar, depois de terminada a exposição, muitos desses quadros foram destruídos, mas outros foram directos para as paredes dos aposentos de oficiais nazis só para deleite antes de adormecer. Quando a Rússia entrou em Berlim no fim da guerra, fez o mesmo: saqueou e parte desse saque está no Museu Hermitage.
Às vezes penso que Hitler tinha um Van Gogh na parede, outras tenho a certeza que ele apreciava e acreditava na Arte Heróica.
Retratos de si mesmo... hummmm, não sei.
Você fez um página interia em meu nome e achou, parvo mortal, que eu me esqueceria. Erro meu amigo, desvario e olhar sem guarda, descansado como um "lagarto" ao sol.
Voltei! Aqui estou para lhe levar a alma (não sei se você percebeu mas é a "alma do BLOG").
É que o retrato está quase concluído. Faltam-lhe uns pequenos retoques, não é que se for publicado não o reconheçam. Claro que reconhecem, mas falta algo digno das galerias do Chiado. Você adoraria lá estar, lá ficar para sempre.
E agora Professor passados tantos dias, semanas ou eternidade, ainda alguém mantém a confiança neste Blog?
A tentação de quebrar o isolamento foi mais forte. Não foi? Ser anónimo é ser alguém sem alma (pelo menos que se conheça, isto à parte a cobardia) sem presença.
Mas foi mais forte!Não foi?
Voltarei!
Nunca vi um diabrete tão Merdoso
Tanta Parra e tão pouca Uva!
Vá lá...MOSTRE-SE!
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