DO LADO DE CÁ
Edouard Manet
A Bar at the Folies Bergeres
1881-1882
Courtauld Institute Galleries, Londres
Ninguém me pode impedir de olhar para ti do mesmo modo desafiador com que olhas para todos. Durante dois anos fomos amantes nos corredores pestilentos de sexo e álcool que davam para as traseiras do bar. Durante dois anos procuramo-nos, primeiro pelo chamamento do corpo, depois para responder ao do coração. Felizmente, nunca para responder aos dois. E digo felizmente com algum pesar e contrariedade, pois até gostaria de te ter gostado mais, para que hoje em vez de estar diante de ti, ser também parte dessa matéria efémera que um dia, um dia muito longe se apagará em pó, fungos e quem sabe, em fogo. Agora que tenho 63 e tu… bom, tu não sei, mas terás sempre mais idade do que quando nos conhecemos e sempre menos idade do que eu, queria ter sabido a sensação de querer tanto quanto se é querido. Ao longo destes anos, quis e fui querido, mas nunca nessa proporção que me mostraste, sem nunca nos consumires nela.
Ninguém me pode impedir de te tirar de trás desse balcão, de te lembrar, não com o puxo disciplinado na nuca, mas com os teus cabelos soltos e vermelhos a enfeitiçarem-me. Ninguém me pode impedir de te tirar essa postura altiva e colocar a descontraída que tinhas para mim. O teu corpo nunca ficava fixo aos dois pés como estás aí, mas num só, de modo que o meu olhar era obrigado a percorrer a serpentinatta que tu fazias quando tentavas imitar as estampas da Vénus de Milo. Ninguém me pode impedir de te tirar a roupa. Não faço como os clientes; não peço uma bebida, não pago. Tiro sem pedir licença e vejo-te com os braços abandonados ao longo do corpo e as mãos pousadas de forma negligente na púbis tímida.
Minha bela… Não recordo o teu nome.
Ninguém me pode impedir de te tirar de trás desse balcão, de te lembrar, não com o puxo disciplinado na nuca, mas com os teus cabelos soltos e vermelhos a enfeitiçarem-me. Ninguém me pode impedir de te tirar essa postura altiva e colocar a descontraída que tinhas para mim. O teu corpo nunca ficava fixo aos dois pés como estás aí, mas num só, de modo que o meu olhar era obrigado a percorrer a serpentinatta que tu fazias quando tentavas imitar as estampas da Vénus de Milo. Ninguém me pode impedir de te tirar a roupa. Não faço como os clientes; não peço uma bebida, não pago. Tiro sem pedir licença e vejo-te com os braços abandonados ao longo do corpo e as mãos pousadas de forma negligente na púbis tímida.
Minha bela… Não recordo o teu nome.
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