DO LADO DE CÁ - IV
Edouard Manet
A Bar at the Folies Bergeres (e pormenor no canto superior direito)
1881-1882
Courtauld Institute Galleries, Londres
Aproximou-se do balcão claudicante, com a voz enrolada, os olhos brilhantes e minúsculos como se fosse um exemplar fóssil de um membro da dinastia Tang, e com o indicador perdido no ar, pediu: “A menina serve-me um copinho daquilo? Um copinho grande, por favor.” Enquanto ela lhe explicava as restrições daquele bar quanto à venda de bebidas alcoólicas e até o risco que ele corria, mesmo não bebendo mais, de ser expulso por perturbar, com a sua figura ridícula, tão célebre lugar, ele enfiava a mão que outrora estava perdida no ar a apontar para a prateleira, no fundo do bolso das calças de risca branca. E lá dentro procurava o dinheiro, meia-dúzia de moedinhas que para ele funcionavam como uma medalha no peito colocada por um rei, ou como uma coroa de conde com nove pérolas. As calças de risca branca, tão direitas e paralelas pela manhã estavam, agora que a noite findava, a fazer xadrez e quando olhava para elas não conseguia deixar de se sentir traído por aquelas linhas que se aproximavam como a linha do comboio lá ao fundo da perna. A baba escorria-lhe pelo queixo e como o fio de uma teia tecida por uma aranha, prolongava-se pelo colete numa curva de tal forma que se podia dizer que tinha não um relógio de bolso, mas dois e que ambas as correntes estavam à vista: uma terminava no bolso e outra, mais fina e oscilante, partia da boca para terminar um pouco mais abaixo do coração, mesmo no sítio onde lhe dava aquela sede desgraçada.
Por vezes, de tão inclinado que estava a tirar o dinheiro do bolso das calças e a maldizer as riscas das mesmas, o chapéu alto e preto rolava da cabeça até ao chão e rodopiava sobre si mesmo até descansar mais à frente, cansado, tonto ou ébrio.
Por vezes, de tão inclinado que estava a tirar o dinheiro do bolso das calças e a maldizer as riscas das mesmas, o chapéu alto e preto rolava da cabeça até ao chão e rodopiava sobre si mesmo até descansar mais à frente, cansado, tonto ou ébrio.
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