PEOPLE TO TAKE CARE OF:
Almada Negreiros, Mãe
(…)
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser
qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio
que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!
Fernando Pessoa, Põe-me as mãos nos ombros
Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.
Joaquim Cardoso Dias, O preço das casas
(...)
este poema de escrever hoje o frio e fazer
uma cama nas folhas o eco da casa a
palavra vento uma noite de tempestade
da minha infância todas as lágrimas de gritar
no escuro para as paredes do quarto
mãe tenho medo
Em comum estes três homens de veia lírica tão empolada que mais parece uma anaconda, têm as “saudades maternas”. E coloco-as assim entre aspas porque não são saudades da mamã. São saudades de:
Um tempo em que a incerteza tinha dois minutos para se manifestar antes que alguém os chamasse para tocar campainhas de portas e fugir, ou para roubar pêssegos da árvore do vizinho;
Um tempo em que o amor era de graça e em que ser mais ou menos querido não dependia de um desempenho mais ou menos exemplar;
Um colo amoroso e tão desejado como seria um ombro insuspeito para Santa Maria Egipciana depois de um dia de labuta;
Um luxo tão leve como o da mão que tudo apazigua e que lava a alma sem se molhar;
Um tempo que ainda não era tempo suficiente para se sentir saudades.
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