quarta-feira, 8 de março de 2006

PEOPLE TO TAKE CARE OF:

Almada Negreiros, Mãe

(…)
Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser
qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio
que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!

Fernando Pessoa, Põe-me as mãos nos ombros

Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.


Joaquim Cardoso Dias, O preço das casas

(...)
este poema de escrever hoje o frio e fazer
uma cama nas folhas o eco da casa a
palavra vento uma noite de tempestade
da minha infância todas as lágrimas de gritar
no escuro para as paredes do quarto
mãe tenho medo

mãe deixa-me ir para a tua cama mãe

Em comum estes três homens de veia lírica tão empolada que mais parece uma anaconda, têm as “saudades maternas”. E coloco-as assim entre aspas porque não são saudades da mamã. São saudades de:

Um tempo em que a incerteza tinha dois minutos para se manifestar antes que alguém os chamasse para tocar campainhas de portas e fugir, ou para roubar pêssegos da árvore do vizinho;

Um tempo em que o amor era de graça e em que ser mais ou menos querido não dependia de um desempenho mais ou menos exemplar;

Um colo amoroso e tão desejado como seria um ombro insuspeito para Santa Maria Egipciana depois de um dia de labuta;

Um luxo tão leve como o da mão que tudo apazigua e que lava a alma sem se molhar;

Um tempo que ainda não era tempo suficiente para se sentir saudades.

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