sexta-feira, 21 de abril de 2006

"BELÉM REDESCOBERTA" OU O CÚMULO DA ASNEIRA

É oficial.

Na passada terça-feira, dia 18, e com a presença de Suas Excelências os Ministros da Cultura, Isabel Pires de Lima, da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, da Defesa Nacional, Luís Amado, da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, Jaime Silva, da Ciência e Ensino Superior, Mariano Gago, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Carmona Rodrigues e o Presidente da Associação de Turismo de Lisboa, Carlos Fontão de Carvalho, foi apresentado o projecto "Belém Redescoberta, Economia, Turismo, Cultura e Cidade de mãos dadas".

Muito embora o nome do projecto seja semelhante aos títulos dos textos aqui publicados, juramos que este é mesmo o nome oficial do projecto, com "boldes" incluidos.

Ao consultar a informação disponível, a primeira sensação é de susto, mas a segunda é de horror.

Este projecto, pomposamente apresentado por 5 MINISTROS 5, 1 PRESIDENTE DE CÂMARA 1, E 1 PRESIDENTE DE ASSOCIAÇÃO DE TURISMO 1, é um conjunto de ideias mais ou menos "impactantes", que, no seu conjunto, não passam de um mero projecto de marketing rascoso, feito sem um minimo de rigor e análise.

Desde a pomposa e mentirosa afirmação de que a colecção Berardo é "um dos mais importantes acervos de arte moderna e contemporânea a nível mundial", afirmação já desmentida, entre outros, por Raquel Henriques da Silva que afirmou, numa entrevista à revista Pública, que a importância da colecção advém do facto de não existir outra em Portugal, ou de Augusto M.Seabra que afirmou, e não foi desmentido, que a colecção não estava sequer entre as melhores 25 europeias, excluindo portanto os Estados Unidos e o Japão, países onde se encontram as maiores e melhores colecções de arte moderna e contemporânea, até à pretenção de instalar, e reproduzimos:

Galerias de arte e ateliês de artistas
Atracção de restaurantes de gastronomia sofisticada, criativa e moderna
Atracção de lojas de alimentação, vinhos e outros produtos gastronómicos
Atracção de espaços "trendy": pequenas galerias, boutiques especializadas, bares, livrarias
Jantares-cruzeiros no rio a partir de Belém

e, para terminar em beleza;

Programação permanente de animação, incluindo mais regularidade no render da Guarda no Palácio de Belém.
Passeios de charrete

Entretanto, e com o dinheiro do novo Casino de Lisboa, irá ser construido um novo museu para albergar o actual Museu dos Coches, será recuperado o Jardim Tropical e o Museu de Marinha vai ser rejuvenescido.

O primeiro susto que este programa provoca é a constatação de que, ao mais alto nível da nossa governação, ainda não foi entendido o que é, actualmente, a dinâmica das cidades e da competição entre elas.

Todas as médias cidades (o campeonato das grandes cidades já foi perdido por Lisboa...), como Sevilha ou Valência, só para citar as mais próximas, baseiam as suas actividades de marketing e promoção no conceito de cidade como um todo, e a partir daí desenvolvem projectos parcelares, mas sempre na óptica do reforço da imagem da cidade como destino global atractivo e estimulante.

A força de Madrid, Barcelona, Sevilha ou Valência não reside nos "Bairro Alto", "Baixa-Chiado" ou "Belém" lá do sitio, mas sim no conceito de que aquelas cidades, como um todo, são destinos apeteciveis e estimulantes, e que depois, e só depois, é que surgem os locais especificos, que cada um encontra à medida dos seus interesses.

Alguém conhece um plano estratégico para Lisboa ?

Regressamos a este tema na próxima segunda-feira.

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