DA BAIXA-CHIADO, DAS "IDEIAS FORTES" E DOS "COMISSARIADOS FRACOS"
Fiel ao principio de "ter todas as respostas prontas antes de as perguntas serem formuladas", Maria José Nogueira Pinto apresentou ontem à comunicação social as "ideias fortes" encontradas pela comissão para a revitalização da Baixa-Chiado, a que preside.
E se algumas dúvidas existiam quanto ao carácter "passadista" desta comissão, ontem ficaram desfeitas.
As chamadas "ideias fortes" são um conjunto de "velhas ideias", recicladas de muitas outras propostas anteriores, e, o que é pior, sem tomar em linha de conta o que de mais interessante e original acontece por esse mundo fora nas cidades que se querem assumir como cidades atractivas para os seus habitantes e para quem as visita.
Eis algumas dessas ideias fortes:
1 - "Frente ribeirinha completamente nova desde o Cais do Sodré quase até Santa Apolónia".
Esta é uma das mais graves propostas apresentadas pela vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, ao pretender rompeer o equilibrio da zona histórica da cidade.
A frente ribeirinha, nomeadamente a que vai do Cais do Sodré até Santa Apolónia, faz parte de um conjunto mais amplo, que começa junto ao "ainda" Ministério da Marinha, prossegue pelo Terreiro do Paço, Largo Terreiro do Trigo e Alfama, e acaba em Santa Apolónia.
Qualquer intervenção nesta zona tem que ser muito meditada, dado que os equilibrios são muito frágeis, e pelo "andar da carruagem" receamos que se queira fazer "novo pelo novo", com consequências tremendas para Lisboa.
2 - "Manuel Salgado defende que os pisos superiores dos edifícios da praça (Terreiro do Paço) continuem a ser -uma centralidade política e institucional- deixando as arcadas para utilizações públicas, como esplanadas".
Mais um exemplo do "alto teor" de inovação que este comissariado apresenta.
Para Manuel Salgado e a "sua" comissão, as "utilizações públicas" das arcadas do Terreiro do Paço resumem-se a esplanadas. Mas será que esta gente ainda não entendeu que hoje em dia os públicos, e essencialmente os mais novos, são mais exigentes e que conjuntamente com as esplanadas pretendem outro tipo de "utilizações públicas" como livrarias, bibliotecas com acesso às novas tecnologias de informação, pequenos espaços para concertos e representações teatrias mais experimentais (de que a Casa Conveniente, no Cais do Sodré, pode servir de exemplo), enfim, um conjunto diversificado de ofertas, mas que se complementam entre si.
3 - "Atrair bancos, seguradoras e outras sociedades financeiras".
Esta então, é de "caixão à cova". Se o problema da desertificação da Baixa começa a partir das 19 horas, e se estes serviços estão vazios a partir desta hora, em que medida é que o retorno destas entidades vai servir para "animar a malta, aliás a Baixa"?
4 - "Em termos de horários, a Baixa deverá ser a zona comercial que abre mais tarde e fecha mais tarde".
Em que estudos ou inquéritos se basearam "estas almas" para fazerem uma tão "bombástica" proposta?
Se os ilustres membros desta comissão de reanimação da Baixa-Chiado se dessem ao trabalho de "passear/trabalhar" alguns dias na Baixa, a partir das 19/20 horas, perceberiam que estar aberto até mais tarde é o caminho mais fácil e barato para a falência dos estabelecimentos que ainda resistem na Baixa.
Mas como este é um tema muito importante para a Formiga Bargante, voltaremos nos próximos dias com vários textos sobre esta questão.
quarta-feira, 31 de maio de 2006
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