domingo, 14 de maio de 2006

DO EXCELENTE (INFELIZMENTE RARO) JORNALISMO QUE AINDA SE FAZ EM PORTUGAL

"Não é aqui o lugar de examinar à lupa as acusações formuladas em Sob o Signo da Verdade, mas vale a pena reter o "efeito de condensação" produzido por dois microeventos: o famoso video da campanha (em que a mulher e o filho do candidato surgem durante um minuto em cerca de 13 minutos de emissão) e aquilo que o autor designa pela "golpada do (não) aperto de mão". São ambos discutíveis. O primeiro é questionável enquanto estratégia eleitoral, embora esteja longe de constituir excepção na cena política portuguesa, onde se banalizou a presença da mulher e da família em actos de campanha. O segundo porque, embora seja difícil inscrevê-lo na distinção entre público e privado (conforme pretende o autor), raramente foi explicado no seu contexto, enquanto reacção pessoal e emotiva (talvez inadequada à politica prifissional, mas compreensível) à provocação do seu adversário que reiterou, com conhecimento de causa, mentiras que já tinham sido objecto de desculpas públicas por quem as proferira, em sede judicial (a incrível história das instalações sanitárias do Palácio da Ajuda).
Estes episódios podem suscitar diferentes juízos acerca do comportamento político de Manuel Maria Carrilho, mas há um aspecto que se afigura inquestionável: não é legítimo "condensar" todo o debate sobre Lisboa, em período eleitoral, em dois episódios laterais, maximizados pela televisão e demais orgãos de comunicação. O sistema político e mediático que tal permite não está de boa saude".
Mário Mesquita
in: jornal Público de 14.5.2006

Depois dos tristes artigos escritos por Miguel Sousa Tavares e Vasco Pulido Valente e o silêncio da quase totalidade dos visados pelo livro de Carrilho, eis que alguém com o prestígio e qualidade de Mário Mesquita coloca o problema nos seus exactos contornos:
"não é legítimo "condensar" todo o debate sobre Lisboa, em período eleitoral, em dois episódios laterais, maximizados pela televisão e demais orgãos de comunicação. O sistema político e mediático que tal permite não está de boa saude".

Tudo o resto, máu feitio, falta de carácter, vaidade e por ai fora, são ruido e mais ruido para esconder o que realmente está em causa: a nossa comunicação social está doente e bem doente, mas as vitimas não são os jornalistas, as vítimas somos nós, cidadãos manipulados e utilizados por um poder sem controlo.

Nota final: o artigo de Mário Mesquita é muito mais extenso e sem a mínima dúvida fundamental para se entender o que está em jogo.

Comprem o Público ou o artigo na edição online do jornal, mas não percam a sua leitura.

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