terça-feira, 13 de junho de 2006

Eugénio de Andrade (1923-2005)

Dois poemas de Jorge de Sousa-Braga, dedicados a Eugénio de Andrade e com cerca de 20 anos de diferença. (Mal ele sabia):

Carta de Amor
A Eugénio de Andrade

Um dia destes
vou-te matar
Uma manhã qualquer em que estejas (como de
costume)
a medir o tesão das flores
ali no Jardim de S. Lázaro
um tiro de pistola e ...
Não te vou dar tempo sequer de me fixares o rosto
Podes invocar Safo Cavafy ou S. João da Cruz
todos os poetas celestiais
que ninguém te virá acudir
Comprometidos definitivamente os teus planos de
eternidade
Adeus pois mares de Setembro e dunas de Fão
Um dia destes vou-te matar
Uma certeira bala de pólen
mesmo sobre o coração.

(Carta de Amor, Jorge de Sousa Braga, 1981)


O velho poeta
homenagem a Eugénio de Andrade

O seu desejo era que plantassem
um espinheiro numa nesga de

terra frente ao mar e ao rio
e que ele florisse nem

que fosse uma única vez
Esse espinheiro protegê-lo-ia

mais do frio que um edredão
A nesga de terra continua lá

e o mar e o rio e a manhã
Só o espinheiro e o poeta

é que não.

(O velho poeta, Jorge de Sousa Braga, 2005)

1 comentário:

maloud disse...

Ainda bem que o recorda. A CMP já o esqueceu.