segunda-feira, 19 de junho de 2006

MANUEL SALGADO OU, DE UMA ENTREVISTA DE FAZER MEDO AO MEDO.(I)

A entrevista com o arquitecto Manuel Salgado, publicada no passado dia 10 no jornal Público, é de deixar qualquer cristão (quanto mais os pagãos, como a formiga bargante) com ataques de angustia e insónia constantes.

Nas declarações de Manuel Salgado relativas ao plano para a Baixa-Chiado, que o comissariado que ele integra está a preparar, não existe uma única ideia original, mas pior, muito pior do que essa falta de originalidade, que até podia ser bom sinal, é a absoluta ignorância demonstrada relativamente ao que hoje em dia é o papel das cidades na mobilização dos seus habitantes para os desafios de um novo modelo de sociedade em formação, a sociedade do conhecimento, e no caso de Lisboa com responsabilidades acrescidas, dado sêr a capital do "reino" e têr a "obrigação" de servir de exemplo de dinamização e mobilização para uma cidade mais participada, na qual as diferentes culturas que a habitam sejam reconhecidas e estimuladas, de forma a aumentar a diversidade humana e cultural e, dessa forma, constribuir para níveis mais elevados de uma sociedade mais tolerante e desenvolvida.

Para Manuel Salgado, "será uma revolução uma frente ribeirinha de um quilómetro, sem automóveis, diante do Terreiro do Paço".

Quando um simples acto de bom senso, o aproveitamento da frente ribeirinha para usufruto da população, é considerado "uma revolução" por um dos responsáveis pelo famigerado plano da Baixa-Chiado, como não tremer ao pensar nas propostas que vão surgir em Setembro?

Mas, para já, Manuel Salgado espalha algumas "pérolas de cultura" na citada entrevista.

Assim, para Manuel Salgado, "... a frente ribeirinha é o filet mignon desta intervenção".

Mas será que ninguém consegue explicar a "estas alminhas" que a Baixa-Chiado é um conjunto homogéneo, de uma importância vital para a definição de Lisboa como uma capital europeia moderna, tolerante e empreendedora, e que não se trata de retalhar esta unidade em "filet mignon", "bifes da vazia ou do lombo" ou qualquer outra denominação "gourmet", como se faz em qualquer talho, de preferência francês?

Ou será a lógica do abate do gado e do "desmanchar" da carcaça em peças várias, de forma a aumentar a mais valia do animal, que está subjacente ao projecto da Baixa-Chiado?

E será que todos nós vamos ficar indiferentes a este "abate/desmanche clandestino" ?

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