MANUEL SALGADO OU, DE UMA ENTREVISTA DE FAZER MEDO AO MEDO (II)
- Prevêem demolições ?
- Admitimos demolições. Acho que devia haver demolições exemplares. Na Rua do Alecrim, há um prédio clandestino que está embargado, vazio, em obra. É chegar lá e cortar. Porque ou acreditamos que é necessário reabilitar ou não.
in: Manuel Salgado em entrevista ao jornal Público de 10.6.2006
As afirmações genéricas, do tipo "admitimos demolições", mesmo sendo tipificadas com "demolições exemplares", são sempre de se ficar com "pele de galinha".
É que sob a capa das "demolições exemplares" cabe tudo aquilo que se pretenda lá colocar.
A arquitecta Maria Helena Ribeiro dos Santos, no seu livro "A Baixa Pombalina - Passado e Futuro", escreve, a páginas 115, o seguinte:
9.4 - A Especulação Imobiliária
... Esta situação (lei das rendas - nota formiga bargante) fez aumentar desproporcionadamente o valor de venda de edificios devolutos. Se o edifício for velho, e tiver atingido um estado de degradação avançado por falta de manutenção, melhor ainda. Mais fácilmente poderá ser obtida uma autorização para demolir o interior, com base na falta de segurança e perigo público, e construir um novo edifício.
Existem evidentemente leis para obrigar os proprietários a fazer obras de conservação, mas raramente são aplicadas.
Particularmente na Baixa este processo de degradação "forçada" tem sido frequentemente usado. Pode ver-se, mesmo nas ruas principais, edifícios antigos devolutos, em mau estado, com as janelas abertas, os vidros partidos, e os telhados com vegetação a crescer. Os seus donos estão a tentar activamente destruir os madeiramentos interiores, para justificar a subsequente intervenção radical: demolir e construir de novo.
Para a especulação imobiliária o que interessa é a área do lote, não o edifício antigo. Em vez de quatro ou cinco pisos existentes, com um pouco de sorte poderão vir a construir sete, e mais um ou dois em cave".
Se pensam que este texto de Maria Helena Ribeiro dos Santos é exagerado, experimentem subir ao terraço (bem agradável, por sinal) do hotel que foi construido no edifício dos antigos Armazens do Chiado.
Ai, e na companhia de uma bebida revigorante (que bem vão precisar dela...) olhem a Baixa Pombalina do ar, e apreciem o estado de degradação a que chegou.
Uma coisa é vêr a Baixa Pombalina ao nível da rua, e outra, muito diferente, é escolher um sítio elevado para ficarmos com uma ideia de conjunto.
Sigam o conselho da Formiga Bargante, e face ao que vão vêr, digam se não ficam também com "pele de galinha" ao lêr e ouvir falar de "demolições exemplares".
Afinal, quando Manuel Salgado fala de "filet mignon" até está a usar o termo correcto: pelo andar da carruagem, a operação de "abate/desmanche" da "carcaça" da Baixa-Chiado é bem capaz de estar a caminho, e o "matadouro" para tal operação, o denominado "Plano para a Baixa-Chiado".
Veremos.
terça-feira, 20 de junho de 2006
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