Depois de quase um ano à frente do MiMi – Ministério dos Milagres e a poucas semanas do descanso de Verão, Senhor Deus falou com o Diário de Portvgálius acerca de várias questões que dominam o panorama nacional e internacional. Para a próxima semana fica uma espécie de inquérito Proust ao Ministro do Ministério dos Milagres.
DP – Senhor Deus, vamos começar pelo acontecimento mais recente, a participação de Portugal no Mundial. Ficou contente com o quarto lugar?
SD – As minhas obrigações no ministério não me permitem acompanhar muito o futebol e devo confessar-lhe que os meus desportos favoritos são o lançamento de hóstias à boca de beatas e os 400 metros joelhos.
DP- Santuário de Fátima ou Lourdes?
SD – Como bom português deveria escolher o de Fátima, mas o de Lourdes dá mais luta aos fiéis, por isso escolho o de Lourdes. Além disso os franceses são um povo que sofre muito: têm a extrema-direita mais ridícula da Europa, têm os pior café e como se isso não bastasse, tiveram as filmagens do Código da Vinci e vão ter que levar até ao fim da vida com esse grande fardo que é a deturpação da verdade por parte de Dan Brown. Se me permitisse gostaria de fazer aqui um apelo a Dan Brown: Caro senhor era só para corrigi-lo. Quando no filme diz vezes sem conta "Constantin in Rome", era favor de substituir Roma por Constantinopla pois a capital do império romano dessa época era no Oriente. Constantino nunca governou a partir de Roma.
DP – Então viu o filme?
SD – Não, tinha um dossier para ler, o que foi uma grande maçada porque geralmente só tenho de ler resenções. Celebramos um protocolo com o Centro de Emprego e temos jovens doutorados a ler os nossos dossiers e a colocar post-its nas partes mais importantes.
DP – Gostaria agora de falar do problema do aumento da idade de reforma…
SD – Problema, onde?
DP – Senhor Deus, calculamos que para si e para os seus assesssores o problema das reformas não se coloque, mas para a maioria da população que viu o tempo de trabalho aumentado para lhes ser concedida a reforma por inteiro, é de facto um problema.
SD – Engana-se cavalheiro. No MiMi, trabalhamos até morrer e até depois de morrer. Veja o caso dos santos: gente normal, que pegava às nove e saía às 17h, com a sua marmita e depois, depois dá-lhes uma coisa, vem um tipo mau e arranca-lhes a pele ou incendeia-os. E que é que eles fazem? Pois em vez de morrerem, mantêm-se vivos não vá o país precisar deles. E a verdade é que o país precisa e recorre cada vez mais aos santos nas suas orações. Quanto ao ser um problema para o resto dos portugueses, não vejo porquê. É necessário forrar o cofre da Segurança Social para no futuro termos como sustentar o número de desempregados – daí a minha ideia de pôr os doutorados a colar posts-its -, de pobres e de pessoas com mais de 65 anos. E toda a gente sabe que no MiMi se cumpre a tradição. Somos muito dados à relação com o passado, com as nossas raízes e as nossas raízes dizem-nos que nestes casos quem "se lixa é o mexilhão". Ora toda a gente sabe que o mexilhão é o povo.
DP – E não acha isso injusto? Que sejam sempre os mesmos e os que menos recursos têm, a pagar a factura.
SD – E não acha que o povo tem muitos benefícios? O povo tem "Serralves em festa", onde até se pode descalçar e palitar os dentes que é considerado cultura; o povo tem três a quatro casamentos por Verão, que é considerado, consoante a prenda oferecida aos noivos, um factor de riqueza; o povo tem a possibilidade, caso deseje, de se tornar santo, o povo tem o processo Casa Pia para debitar os seus lugares-comuns. Além disso, o trabalho liberta.
DP – Isso era o que estava escrito à entrada de Auschwitz.
SD – Não dramatize. Há pouco tempo estive no Irão a fazer um curso de "Retoques Estalinistas na Fotografia da História", com esse grande mentor que é Mahmoud Ahmadinejad e aprendi que o Holocausto é um pedaço da história muito feio, que não fica lá bem. Repare que o Holocausto fica mesmo entre duas guerras e se o meu ministério não se envolve em guerras, também não se envolve em holocaustos.
DP – Bem, passemos aos atentados terroristas e à política praticada pelos EUA no Iraque. Não lhe parece que a América está num beco sem saída: se continua no Iraque cresce o sentimento iraquiano anti-americano por uma paz que já devia estar consolidada, se sai do Iraque arrisca-se a ser visto por aqueles que apoiaram a América, e por aqueles que não apoiaram, como um falso profeta, que não cumpre aquilo a que se propõe.
SD – Cavalheiro, se faz perguntas mais pertinentes que a minha capacidade de dar respostas brilhantes, perde-se a entrevista.
DP – Peço desculpa e refaço a questão: o que pensa da presença das forças Norte Americanas no Iraque.
SD – O que falta na América é um MiMi. Toda a gente sabe que Deus ajuda a quem se ajuda. Se os americanos tivessem um MiMi já não teriam de se ver nessa posição de ser "preso por ter cão e preso por não ter", se bem que no caso deles, a impunidade esteja na ordem do dia. Acho que o próprio Iraque deveria ter um MiMi.
DP – Mas isso seria negar ao Iraque a sua possibilidade de ser multi-religioso.
SD – Mas se eles já viram que não resulta terem tantas religiões, que se concentrem numa só, no Cristianismo que vale por todas as outras…
DP – Não acha um pouco perigoso dizer isso na sua posição?
SD – Cavalheiro, acha que com a quantidade de ataques que todos os dias há lá, os deuses deles me vão ouvir? Além disso, os contactos com o Iraque estão temporariamente interrompidos. Pensa-se que uma célula da Al-Qaeda tenha planeado um atentado em Itália, um em França e um na Eslovénia. Portugal está seriamente aborrecido por não fazer parte dessa rota brilhante que finalmente nos ía colocar na imprensa internacional por outros motivos que não as estatísticas, os fogos, os casos das mães de Bragança e o futebol.
DP – Tem alguma indicação de porque é que Portugal ficou fora da rota dos atentados.
SD – Ao que parece a Al-Quaeda tinha um mapa do ano passado de um livro da quarta classe em que o nosso país estava pintado com a mesma cor que Espanha. Depois acho que por causa do respeito que têm aos futebolistas portugueses. Isso é que eu acho ultrajante; não conhecem o nome de um santo, mas sabem dizer "Cristiano Ronaldo". Também, Cristiano, Cristão… Bem, estão no bom caminho. De qualquer forma, prefira que soubessem quem foi o campeão mundial de missas campais em 2005, ou o vencedor do Graal de ouro para vinho de missa do ano.
DP – E quem foram esses vencedores?
SD – O primeiro foi o padre José Luís da Freguesia de Freamunde, e o segundo foi para "Frei Carlitos", um verde muito levezinho que ajuda os sacerdotes a levar 6 missas sem soluços, nem voz enlameada.
SD – As minhas obrigações no ministério não me permitem acompanhar muito o futebol e devo confessar-lhe que os meus desportos favoritos são o lançamento de hóstias à boca de beatas e os 400 metros joelhos.
DP- Santuário de Fátima ou Lourdes?
SD – Como bom português deveria escolher o de Fátima, mas o de Lourdes dá mais luta aos fiéis, por isso escolho o de Lourdes. Além disso os franceses são um povo que sofre muito: têm a extrema-direita mais ridícula da Europa, têm os pior café e como se isso não bastasse, tiveram as filmagens do Código da Vinci e vão ter que levar até ao fim da vida com esse grande fardo que é a deturpação da verdade por parte de Dan Brown. Se me permitisse gostaria de fazer aqui um apelo a Dan Brown: Caro senhor era só para corrigi-lo. Quando no filme diz vezes sem conta "Constantin in Rome", era favor de substituir Roma por Constantinopla pois a capital do império romano dessa época era no Oriente. Constantino nunca governou a partir de Roma.
DP – Então viu o filme?
SD – Não, tinha um dossier para ler, o que foi uma grande maçada porque geralmente só tenho de ler resenções. Celebramos um protocolo com o Centro de Emprego e temos jovens doutorados a ler os nossos dossiers e a colocar post-its nas partes mais importantes.
DP – Gostaria agora de falar do problema do aumento da idade de reforma…
SD – Problema, onde?
DP – Senhor Deus, calculamos que para si e para os seus assesssores o problema das reformas não se coloque, mas para a maioria da população que viu o tempo de trabalho aumentado para lhes ser concedida a reforma por inteiro, é de facto um problema.
SD – Engana-se cavalheiro. No MiMi, trabalhamos até morrer e até depois de morrer. Veja o caso dos santos: gente normal, que pegava às nove e saía às 17h, com a sua marmita e depois, depois dá-lhes uma coisa, vem um tipo mau e arranca-lhes a pele ou incendeia-os. E que é que eles fazem? Pois em vez de morrerem, mantêm-se vivos não vá o país precisar deles. E a verdade é que o país precisa e recorre cada vez mais aos santos nas suas orações. Quanto ao ser um problema para o resto dos portugueses, não vejo porquê. É necessário forrar o cofre da Segurança Social para no futuro termos como sustentar o número de desempregados – daí a minha ideia de pôr os doutorados a colar posts-its -, de pobres e de pessoas com mais de 65 anos. E toda a gente sabe que no MiMi se cumpre a tradição. Somos muito dados à relação com o passado, com as nossas raízes e as nossas raízes dizem-nos que nestes casos quem "se lixa é o mexilhão". Ora toda a gente sabe que o mexilhão é o povo.
DP – E não acha isso injusto? Que sejam sempre os mesmos e os que menos recursos têm, a pagar a factura.
SD – E não acha que o povo tem muitos benefícios? O povo tem "Serralves em festa", onde até se pode descalçar e palitar os dentes que é considerado cultura; o povo tem três a quatro casamentos por Verão, que é considerado, consoante a prenda oferecida aos noivos, um factor de riqueza; o povo tem a possibilidade, caso deseje, de se tornar santo, o povo tem o processo Casa Pia para debitar os seus lugares-comuns. Além disso, o trabalho liberta.
DP – Isso era o que estava escrito à entrada de Auschwitz.
SD – Não dramatize. Há pouco tempo estive no Irão a fazer um curso de "Retoques Estalinistas na Fotografia da História", com esse grande mentor que é Mahmoud Ahmadinejad e aprendi que o Holocausto é um pedaço da história muito feio, que não fica lá bem. Repare que o Holocausto fica mesmo entre duas guerras e se o meu ministério não se envolve em guerras, também não se envolve em holocaustos.
DP – Bem, passemos aos atentados terroristas e à política praticada pelos EUA no Iraque. Não lhe parece que a América está num beco sem saída: se continua no Iraque cresce o sentimento iraquiano anti-americano por uma paz que já devia estar consolidada, se sai do Iraque arrisca-se a ser visto por aqueles que apoiaram a América, e por aqueles que não apoiaram, como um falso profeta, que não cumpre aquilo a que se propõe.
SD – Cavalheiro, se faz perguntas mais pertinentes que a minha capacidade de dar respostas brilhantes, perde-se a entrevista.
DP – Peço desculpa e refaço a questão: o que pensa da presença das forças Norte Americanas no Iraque.
SD – O que falta na América é um MiMi. Toda a gente sabe que Deus ajuda a quem se ajuda. Se os americanos tivessem um MiMi já não teriam de se ver nessa posição de ser "preso por ter cão e preso por não ter", se bem que no caso deles, a impunidade esteja na ordem do dia. Acho que o próprio Iraque deveria ter um MiMi.
DP – Mas isso seria negar ao Iraque a sua possibilidade de ser multi-religioso.
SD – Mas se eles já viram que não resulta terem tantas religiões, que se concentrem numa só, no Cristianismo que vale por todas as outras…
DP – Não acha um pouco perigoso dizer isso na sua posição?
SD – Cavalheiro, acha que com a quantidade de ataques que todos os dias há lá, os deuses deles me vão ouvir? Além disso, os contactos com o Iraque estão temporariamente interrompidos. Pensa-se que uma célula da Al-Qaeda tenha planeado um atentado em Itália, um em França e um na Eslovénia. Portugal está seriamente aborrecido por não fazer parte dessa rota brilhante que finalmente nos ía colocar na imprensa internacional por outros motivos que não as estatísticas, os fogos, os casos das mães de Bragança e o futebol.
DP – Tem alguma indicação de porque é que Portugal ficou fora da rota dos atentados.
SD – Ao que parece a Al-Quaeda tinha um mapa do ano passado de um livro da quarta classe em que o nosso país estava pintado com a mesma cor que Espanha. Depois acho que por causa do respeito que têm aos futebolistas portugueses. Isso é que eu acho ultrajante; não conhecem o nome de um santo, mas sabem dizer "Cristiano Ronaldo". Também, Cristiano, Cristão… Bem, estão no bom caminho. De qualquer forma, prefira que soubessem quem foi o campeão mundial de missas campais em 2005, ou o vencedor do Graal de ouro para vinho de missa do ano.
DP – E quem foram esses vencedores?
SD – O primeiro foi o padre José Luís da Freguesia de Freamunde, e o segundo foi para "Frei Carlitos", um verde muito levezinho que ajuda os sacerdotes a levar 6 missas sem soluços, nem voz enlameada.
1 comentário:
olá. então?como vai a vida?a diarreia?melhor?bem só pra ti, cá vai um poema:
olá olá
olá meu amigo
eras tão bom, tão bom
vai comer merdas ás colheres
Enviar um comentário