domingo, 23 de julho de 2006

à excepção do primeiro verso...

que eu sempre fui bom cavaquista*
nem é preciso repeti-lo:
anos depois já só se avista
tanto canário, tanto grilo,
tanto gorjeio, tanto trilo
que de promessas se guarnece:
um mundo e outro, isto e aquilo,
e o povo tem o que merece.

vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais que o esquilo,
de galho em galho ser artista,
e armar o estado em crocodilo.
voracidade? era de estilo.
economia? ai que arrefece!
vi portugal vendido ao quilo
e o povo tem o que merece.

vi muito pássaro na pista
já de asa murcha e intranquilo,
já sem alface nem alpista
e já sem grão dentro do silo,
secou a teta e o mamilo,
chegou a hora, chega o stress.
há vários anos que eu refilo,
e o povo tem o que merece.

senhor, na entrada deste asilo,
mordeu-se a isca da benesse
e o povo tem o que merece.

(Balada do bom cavaquista, Vasco Graça Moura)
*pode substituir-se por guterrista, barrosista, santanista...

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