quarta-feira, 26 de julho de 2006

"O que é que as mulheres querem" ou “à falta de uma resposta, o que é que as mulheres fazem para conseguirem aquilo que querem”.

Os bytes disponíveis na Formiga e na minha cabeça não permitem que me estenda, mas vamos hoje apresentar aqui alguns truques as mulheres usavam e usam, ainda que de uma forma mais subtil, para alcançarem aquilo que queriam: a admiração dos homens e das outras mulheres. No que diz respeito ao cabelo, podemos dizer que na Antiguidade Clássica as perucas eram bem vistas, enquanto que à medida que caminhávamos para a Idade Média, o cabelo falso era tomado como uma fuga aos cânones ditados pela palavra do Evangelho. Este não dava indicações precisas, mas a interpretação por parte dos teólogos de livros como o Cântico dos Cânticos dava a entender que a mulher se devia mostrar o mais próximo possível da Virgem, o símbolo máximo de beleza, e por isso, o mais natural possível para agradar a Deus e não aos homens. As tranças que Rapunzel deverá ter lançado para o seu amado eram falsas, mas feitas por cabeleireiros com o cabelo das próprias.

Frank Cadogan Cowper
Rapunzel
1900

Vemos isso em muitas obras que retratam cenas de cavalaria da Idade Média. Mais tarde, no Renascimento, havia uma espécie de código quanto aos cabelos femininos: se uma mulher era retratada com os cabelos soltos, era porque era virgem, se não, tinha de ser casada. Penso que se devia observar uma situação intermédia que combinava as mulheres que nem casadas nem virgens insistiam no penteado solto. Em relação ao rosto, destacamos duas curiosidades: os sinais que as senhoras do séc. XVII colocavam e as grandes testas do séc. XV e XVI. Os sinais eram recortados de veludo preto e colados à face ou ao peito com gordura animal. Na época das testas altas, os cabelos eram – pasme-se – arrancados com uma pinça (ou instrumento parecido), um a um.

Sandro Botticelli The birth of Venus
1485
Uffizi, Florença

Na Idade Média as mulheres eram de dois tipos: as que se assemelhavam à Virgem e as que se assemelhavam às mulheres cantadas por Boccaccio, o tipo pastorinha ingénua que não se coibia de cobrir de favores o cavaleiro que achava ela, ia resgatá-la da sua vidinha pacata. Estes dois tipos de mulheres também podiam ser vistas na silhueta: as mulheres que queriam aproximar-se das Virgens deixavam o corpo solto, os seios separados, firmes e pequenos, muito redondos a afastados. Não eram seios para um homem tocar ou beijar, mas para uma criança mamar (recuso-me a ouvir a piadas que estão aí a contar).

Jean Fouquet
The Mehun Diptych
1456

O espartilho veio mudar essa forma da mulher se apresentar. A mulher de Luís XIV, por exemplo, conseguiu, à custa do espartilho, uma cintura de 33 cm. Ora isto provocava deformações sérias no corpo, dificuldades em respirar e problemas hepáticos. No entanto até muito tarde o espartilho foi sinónimo de beleza e só foi substituído muito gradualmente: primeiro pela cinta, depois pelos corpetes, os soutiens foguetão e por fim, a liberdade total. Quanto à cor da pele, é sabido que desde sempre a tez pálida foi a preferida. E a razão é simples: a brancura alva de um colo de uma mulher mostrava a sua condição social. Só as pessoas que trabalhavam no campo, de sol a sol, tinham a pele curtida e por isso, os morenos eram os mais pobres, ao contrário do que acontece hoje em dia. Pala além de se besuntarem em cremes hidratantes de fabrico artesanal com componentes nojentos, as mulheres do século XVII tomavam cianeto em pequenas quantidades para ficarem mais pálidas. Na realidade, o cianeto não fazia com que ficassem mais pálidas – para isso havia o bicarbonato de sódio, penso eu -, mas fazia com que ficassem mais… mortas!

Sir Joshua Reynolds
George Clive with his family and Indian Maidservant
1765
Gemäldegalerie, Berlim


Revela-se agora um segredo dos temos idos da senhora de “on your knees”, Cleópatra. Diz-se que tomava banho em leite de cabra ou de burra, e que isso fazia com que tivesse uma pele radiante. Não sei qual a proporção de água e de leite, se o banho era constituído por água e por leite em partes iguais, se totalmente por leite, mas permitam-me duvidar. É que o uso do leite no banho era de teor prático e não estético. Como as senhoras tomavam banho acompanhadas por aias e algumas, por aios, colocavam na água do banho a quantidade suficiente de leite para tornar o líquido opaco. Assim, quando o aio ou a aia rodeavam a senhora com óleos e com a toalha e a roupa, quando essa pequena corte se movia à sua volta, ninguém pudesse ver o seu corpo nu. Isto aplicava-se mais no caso das mais velhas que não queriam ser vistas como tal e por isso tentavam prolongar a juventude através destes artifícios que pelo menos afastavam a verdade daqueles que as rodeavam. As mais novas e as mais atrevidas eximiam-se do uso do leite e por vezes, chamavam até si o aio enquanto descruzavam a perna dentro da banheira…

E se já começam a pensar que não há como um sorriso para tornar um mulher bonita, ponham os olhos na rainha Isabel I de Inglaterra, que para fintar a velhice, fingia umas próteses dentárias colocando nas gengivas carecas panos brancos que preenchiam a boca de forma a que esta não se assemelhasse à boca encarquilhada de uma velha, mas mais composta como a de uma jovem.
George Gower
Armada portrait of Elizabeth I
15490
Woburn Abbey

7 comentários:

AM disse...

excelente
quero mais!
:)

formiga bargante disse...

endereço de um dos mais inteligentes blogs nacionais (à atenção do AM)

www.obelogue.blogspot.com

[A] disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
[A] disse...

GOSTEI MUITO.
MUITO,MUITO BOM!
PARABÉNS.

Belogue disse...

Caramba, até me babei. Alguém tem um lenço de papel?

[A] disse...

o meu amplexo cultural pode ser curto, mas reconheço a qualidade quase instintivamente e não tenho problema algum em aplaudir.
e o que eu vinha mesmo dizer é que tomei a liberdade de linkar este texto no meu blog.

AM disse...

obrigado formiga, do pouco que vi, já percebi que vou gostar
vou linkar para voltar mais vezes
recomenda sempre, passa por lá ou via mail
abraço