quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Conversas de uma noite de Verão – I

Coisas detestáveis numa mulher:

William Hogarth
Marriage A-la-Mode: 4. The Toilette
1743
National Gallery, Londres

Aquilo que eu acho verdadeiramente detestável e incompreensível (talvez daí o detestável) numa dama é a tendência para complicar. Uma senhora nunca vai às compras comprar o que necessita; leva o namorado ou marido atrelado para “ver qualquer coisa gira” ou que “até faz jeito já que está tão barato”. Percorrem então os centros comerciais do país onde sempre há ar condicionado, cruzando-se com essa espécie tão estimada entre nós e que é a mulher luso descendente. É nessa imensa piscina – as pessoas andam de um lado para o outro a ver montras – que as mulheres mostram o seu maior defeito. Depois de terem parado nas lojas de eleição delas e de os terem feito esperar às meias-horas só para experimentar duas peças de roupa, dizem:
“Gostas desta camisola?”
“Gosto.”
“mas gostas ou não?”
“Gosto!”
“É tão gira! Acho que a vou levar.”
“Se te faz falta e gostas, leva.”
“É muito gira. É parecida com a minha outra também cor-de-rosa e de decote em bico.”
“Mas então se já tens uma igual para que é que vai levar essa?”
“Porque a outra tem dois botões no punho e esta não. Está dá mais com tudo.”
“Mas se é igual à outra.”
“Não é igual. E por este preço, vale a pena. Assim, se essa cor-de-rosa com punhos se estragar, se emprestar a outra cor-de-rosa com decote em barco a alguém e se a cor-de-rosa que me ofereceste nos anos não aparecer, tenho sempre esta.”
Depois vem a parte dos acessórios. E aí é vê-los esperar à porta das lojas de pechibeque, aos dez de cada vez enquanto elas lá dentro quase que arrancam olhos (uma imagem Ulissiniana, se isso existir), para trazer “aqueles brincos”. E vai-se a ver, um homem bem tenta ver recompensado o tempo que esperou com a visão da sua companheira ostentando uns Swarovski ou uns Chopard, mas não. A tipa, numa falta de gosto de causar enjoo, volta de lá alegre porque após 45 minutos de lá para cá, conseguiu umas argolas de plástico (o papagaio é na loja ao lado) por 2,50 euros. Não há paciência senhoras.

Coisas detestáveis num homem

Adolph Menzel
The flute concert of Frederick the Great at Sanssouci (pormenor)
1850-1852
Staatliche Museen zu Berlin, Berlim


Um senhor pode ter muitos defeitos, mas ninguém pode negar que o Homem em si é altruísta, é muito generoso. Podemos ver isso numa simples tarde de Verão, se em vez de praia fizermos o estudo do comportamento das espécies do paredão ou na esplanada. Quando passa uma senhora jeitosa, um grupo de homens atira-lhe alguns piropos cujo conteúdo pode ir do mais inofensivo ao hard-core. Por isso reproduzimos apenas alguns:
“Ó jóia, anda aqui ao ourives.”
“Essas pernas ficavam bem no meu sofá.”
“És ‘muita’ boa.”
“Olha fazia-te &%$$/(“
O mulherio compreende e agradece o reconhecimento dos homens. Elas que bem merecem depois de terem estado Abril e Maio quase sem comer ou a fazer as dietas dos cereais e dos iogurtes com L-caseis! O pior é que os homens são tão dados que não distinguem a verdadeira gaja boa da gaja boa de imitação. A gaja boa é a gaja boa, toda a gente a distingue embora as outras gajas boas tentem ignorar a gaja boa que acabou de chegar por temerem a concorrência. Outra coisa é a gaja que não é boa. Senhores, a César o que é de César, o seu a seu dono. Se passa uma senhora cujo peito se assemelha a dois sapatos amarrados um ao outro pelos cordões e pendurados à volta do pescoço, a reacção não pode ser a mesma do que se uma senhora em quem a força da gravidade não tenha ainda actuado. À gaja boa, o seu piropo. Às outras, as melhoras.

2 comentários:

AM disse...

LOL

menir disse...

Ora e como se costuma dizer, já a formiga tem catarro... Não julgue o todo pela parte. ;)