terça-feira, 31 de outubro de 2006

GENTE ESTRANHA, ESTA.

Isabel Pires de Lima visitou ontem as instalações do Museu de Arte Popular para reafirmar, perante os jornalistas que a a acompanharam, a sua determinação em encerrar este Museu e em seu lugar criar o Museu Mar da Língua Portuguesa

As razões para o encerramento, transmitidas através das declarações aos jornais Público, Diário de Notícias e Jornal de Notícias, foram, entre outras, as seguintes:

1 - Museu da Língua e dos Descobrimentos é mais aberto e mais rentável.
in:Público

2 - O novo projecto museológico poderá ser um dos mais visitados de Lisboa
3 - Será mais útil se tiver outro destino
in: Diário de Notícias (link)

4 - Pela sua localização estratégica e pelo facto simbólico de estar frente ao Tejo.
in:Jornal de Notícias (link)

Como se pode constatar, através das declarações da Ministra, a criação deste novo Museu abedece a uma estratégia bem pensada, fruto da consistente política cultural que Isabel Pires de Lima vem implementando no "seu" Ministério da Cultura.

Assim, os grande argumentos para fundamentar esta decisão, lá estão: a rentabilidade, o maior número de visitantes que o novo museu implicará, a localização estratégica ou o factor simbólico de estar fente ao Tejo.

Tudo grandes e poderosos argumentos!

Que de uma penada se destrua o último vestígio de um projecto museológico coerente e único para se entender o que durante a ditadura era entendido, e praticado, como cultura popular, erradicando do nosso passado e da nossa memória colectiva este testemunho, não é importante.

Que o acervo de cerca de 25.000 peças seja depositado num museu ou disperso por vários, também não é importante.

Mas onde esta argumentação se revela cínica e desprovida de sentido é quando comparada com a realidade que se vive no Instituto Português de Museus.

Afirma a Ministra que o aumento de visitantes é um critério importante, mas esquece que o Museu do Chiado, mais conhecido por "Chez Lapa ao Chiado" (expressão da autoria de Augusto M.Seabra) perde visitantes desde 1999, e que o último quadrimestre deste ano é aquele em o número de visitantes é o mais baixo desde sempre.

Afirma a Ministra que o espaço do Museu poderá ser mais útil se tiver outro destino, mas esquece que o Museu do Azulejo dispõe de uma vasta área para exposições temporárias, mas que o espaço dedicado à azulejaria do século XX é um corredor de um dos claustros do Museu, ignorando inclusive a importância fundamental do Metropolitano de Lisboa, que nas várias estações da rede disponibiliza a visão de maior quantidade e qualidade da produção de azulejaria do século XX em Lisboa.

Afirma a Ministra que outro factor que pesou na decisão é o factor simbólico da localização frente ao Tejo, mas esquece que o Museu de Conímbriga, ele também situado num local altamente simbólico, definha e perde visitantes nos últimos anos (já perdeu mais de 50% de visitantes nos últimos 5 anos).

Afinal o que a Ministra não afirma, mas que eventualmente corresponde melhor à sua vontade mais interior, é que com este gesto a Ministra Isabel Pires de Lima pretende mostrar o seu corte radical e final com o Partido Comunista, eliminado exactamente o Museu de Arte Popular.

Que a Ministra faça os cortes pessoais que entender por melhores, mas que nos poupe aos seus dramas pessoais.

Não é para isso que lhe pagamos o ordenado e restantes mordomias.

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