terça-feira, 5 de dezembro de 2006

LAS MOVIDAS

É curioso, e certamente sintomático da forma como o mesmo acontecimento (la movida) é encarada pelos seus protagonistas, que Pablo Pérez Minguez tenha utilizado a côr para fotografar os ícones madrilenos da época, enquanto entre nós Mário Cabrita Gil, em Lisboa, utiliza o preto e branco para captar os "astros" caseiros.

Em Madrid captava-se a vida e a alegria do momento, em Lisboa a pose era para a posteridade.

Curioso.

6 comentários:

contra-baixo disse...

Interessante, sem dúvida.

Esclareça-me, no entanto, o seguinte: em que medida o trabalho de MCG pode ser "arrumado" na "Movida", eu até admito haja coincidência no tempo (?), agora em relação ao arrumar a exposição "A idade da Prata" no movimento a “La Movida”, é que eu tenho algumas dúvidas …

À consideração superior

formiga bargante disse...

Meu caro contra-baixo

Respostas, só lá mais para a noite.

Euricos...

[A] disse...

Eu acho mesmo é sintomático.
Como todos dizem, é o país que merecemos.

formiga bargante disse...

Meu caro contra-baixo

Antes de tudo mais, convém clarificar o meu conceito de “movida”: a espanhola e a portuguesa.

A espanhola foi impulsionada, desde Madrid, por um “alcalde” de excepcional cultura e visão, Enrique Tierno Galván, o qual percebeu que para mudar a imagem da sociedade posfranquista espanhola teria que criar e impulsionar um movimento cultural que mostrasse Espanha como um pais moderno e aberto à mudança, em contraponto à imagem fascista então dominante.

A portuguesa foi resultado da reunião, organizada, de um conjunto de indivíduos, que tinham como objectivo a “tomada do poder” aos vários niveis da actividade cultural nacional.

A primeira grande afirmação pública deste desejo encontra expressão na realização da exposição “Depois do Modernismo”, em 1983.

É conferir os nomes dos participantes nesta mega exposição, (criadores, crítivos e autores de textos para o catálogo), e verificar os lugares que ocupam na cena artistica portuguesa actual.

E é neste contexto que surge “A Idade da Prata”.

O livro de Mário Cabrita Gil (e não a exposição) surge como mais um elemento na estratégia seguida, e que visava conferir um selo de afirmação (as exposições são acontecimentos efémeros, os livros não) para o presente (o livro é editado em 1986) e para o futuro.

Mas o que mais me despertou a atenção foi o facto de os espanhois utilizarem a côr e visualizarem o excesso da época nos retratos agora “recuperados”, enquanto Mário Cabrita Gil utiliza o P&B e os seus “modelos” adoptarem uma pose “séria” e “institucional”.

Numa segunda leitura às fotos, outro facto me chamou a atenção:
no lado espanhol tanto existem fotografias individuais como colectivas, enquanto do lado português não existe uma única fotografia colectiva.

Para concluir, e este é um dos motivos do meu fascínio pela fotografia, estas fotos, as espanholas e as portuguesas, permitem muitas leituras sobre uma época extremamente importante para os dois povos, e uma análise comparativa sobre a postura dos seus vários protagonistas, e a partir daí tentar perceber algumas das razões pelas quais Madrid tem o dinamismo por todos reconhecido, e Lisboa tem Carmona Rodrigues como presidente do Município.

Cumprimentos

contra-baixo disse...

Absolutamente de acordo consigo! O problema aqui é mesmo o de qualificação, na realidade estamos perante duas atitudes diferentes: a espanhola e a portuguesa. O que me parece um excessivo é qualificar o “movimento” português como movida quando na realidade nada teve a ver com este.
A chamar-lhe alguma coisa eu teria preferido dizer "As atitudes" e não as Movidas.
Saludos.

AM disse...

Bem visto.
As diferenças são "todo um programa".
Infelizmente, no nosso caso, é um não-programa!