As meretrizes
(Messalina, Madame du barry, Mata-Hari)
Na literatura sempre as houve: na Bíblia foram as Salomés e as Madalenas (Eva também, mas com outra dimensão), na História foram as Messalinas, as Madames du Barry e as Mata-Harri, em Gil Vicente eram as mulheres que traíam os maridos quando estes estavam fora, multiplicavam-se as alcoviteiras bufas. Estas tiveram homólogas alemãs na noite de Walpurgis de Goethe.
Parecia não haver um meio termo para as mulheres na Literatura: elas ou eram virgens e puras, ou então corrompidas e de tal forma que se podia dizer mesmo que a sua condição era irreversível. A mulher uma vez corrompida não tinha direito a redenção a não ser por via da morte – o que para além de injusto era extremamente restritivo. As mulheres corrompidas eram divididas em três escalões: as prostitutas baratas ou pornai (nome grego para “prostituta” e de onde deriva “pornografia”, as peripatéticas (as “acompanhantes”, se a palavra derivar de peripatéticos?) e as de Alto Nível ou Hetaera. Também havia as prostitutas sagradas, que vinham de uma tradição pagã que atribuía a certas entidades femininas ligadas à fertilidade e ao amor carnal poderes divinos. Um dos romances que inaugura, ainda que timidamente a tradição da mulher que luta e assegura a sua satisfação pessoal mesmo no campo sexual, vista como “meretriz” ou “rameira” se quisermos usar o vernáculo, é a Dama das Camélias; uma prostituta da Alta Sociedade que apenas se insinua, não deixando com isto de ser uma prostituta. É a mulher que se vende em busca do Cavaleiro Andante que a levará daquela vida para uma bem melhor. Dumas escreve sobre os desejos da mulher limitando a um papel ridículo de prostituta sonhadora, de mulher que não se assume, talvez devido ao facto de o próprio escritor se afirmar contra a emancipação feminina.
Por seu turno, Madame Bovary, que dá o mote a um filme recente ("Pecados Íntimos" – aliás são vastos os exemplos de prostitutas no cinema, ainda que nestes casos não representem personagens literárias: Anna Karina em “It’s my life” de Jean Luc Godard, Greta Garbo em “Anna Christie” de Clarence Brown, Jane Fonda em “Klute” de Alan J. Pakula e Jodie Foster em “Táxi Driver” de Martin Scorcese. Na pintura as mulheres representam muitas vezes cenas de histeria que Freud deve ter acompanhado, assim como representam o melhor e o pior da dimensão humana: são as virtudes como a Caridade, mas em Dürer encarnam cada um dos Vícios), é a mulher que mesmo não exercendo o ofício secular não desiste de conquistar a sua felicidade mesmo que isso lhe custe a vida. A Madame Bovary portuguesa é Luísa, de “O Primo Basílio”, a pequena burguesinha, com vida posta que encontra no primo vindo do Brasil um escape, alguém que a aprecia; não se trata de um homem que a respeita (para isso ela tem o marido), mas de um homem que a quer. Obviamente nem sempre esta troca é tão directa. Muitas outras personagens traíram os seus maridos que as respeitavam e apreciavam em troca de uma aventura, em troca de satisfazerem a necessidade de se sentirem vivas. É a essas, e às outras também, que chamamos meretrizes. Injustamente. Estupidamente.
Não querendo fazer deste post um manifesto feminista (até porque de feminista e de feminina tenho muito pouco), ouvi há dias a explicação para isto, para o facto de as mulheres traírem muito menos do que os homens. Ao que parece o hipotálamo feminino é mais pequeno que o masculino e por isso tudo lá dentro está mais compartimentado. Lucky them que com um hipotálamo maior, têm mais espaço para ver as coisas mais ou menos como elas são.
Parecia não haver um meio termo para as mulheres na Literatura: elas ou eram virgens e puras, ou então corrompidas e de tal forma que se podia dizer mesmo que a sua condição era irreversível. A mulher uma vez corrompida não tinha direito a redenção a não ser por via da morte – o que para além de injusto era extremamente restritivo. As mulheres corrompidas eram divididas em três escalões: as prostitutas baratas ou pornai (nome grego para “prostituta” e de onde deriva “pornografia”, as peripatéticas (as “acompanhantes”, se a palavra derivar de peripatéticos?) e as de Alto Nível ou Hetaera. Também havia as prostitutas sagradas, que vinham de uma tradição pagã que atribuía a certas entidades femininas ligadas à fertilidade e ao amor carnal poderes divinos. Um dos romances que inaugura, ainda que timidamente a tradição da mulher que luta e assegura a sua satisfação pessoal mesmo no campo sexual, vista como “meretriz” ou “rameira” se quisermos usar o vernáculo, é a Dama das Camélias; uma prostituta da Alta Sociedade que apenas se insinua, não deixando com isto de ser uma prostituta. É a mulher que se vende em busca do Cavaleiro Andante que a levará daquela vida para uma bem melhor. Dumas escreve sobre os desejos da mulher limitando a um papel ridículo de prostituta sonhadora, de mulher que não se assume, talvez devido ao facto de o próprio escritor se afirmar contra a emancipação feminina.
Por seu turno, Madame Bovary, que dá o mote a um filme recente ("Pecados Íntimos" – aliás são vastos os exemplos de prostitutas no cinema, ainda que nestes casos não representem personagens literárias: Anna Karina em “It’s my life” de Jean Luc Godard, Greta Garbo em “Anna Christie” de Clarence Brown, Jane Fonda em “Klute” de Alan J. Pakula e Jodie Foster em “Táxi Driver” de Martin Scorcese. Na pintura as mulheres representam muitas vezes cenas de histeria que Freud deve ter acompanhado, assim como representam o melhor e o pior da dimensão humana: são as virtudes como a Caridade, mas em Dürer encarnam cada um dos Vícios), é a mulher que mesmo não exercendo o ofício secular não desiste de conquistar a sua felicidade mesmo que isso lhe custe a vida. A Madame Bovary portuguesa é Luísa, de “O Primo Basílio”, a pequena burguesinha, com vida posta que encontra no primo vindo do Brasil um escape, alguém que a aprecia; não se trata de um homem que a respeita (para isso ela tem o marido), mas de um homem que a quer. Obviamente nem sempre esta troca é tão directa. Muitas outras personagens traíram os seus maridos que as respeitavam e apreciavam em troca de uma aventura, em troca de satisfazerem a necessidade de se sentirem vivas. É a essas, e às outras também, que chamamos meretrizes. Injustamente. Estupidamente.
Não querendo fazer deste post um manifesto feminista (até porque de feminista e de feminina tenho muito pouco), ouvi há dias a explicação para isto, para o facto de as mulheres traírem muito menos do que os homens. Ao que parece o hipotálamo feminino é mais pequeno que o masculino e por isso tudo lá dentro está mais compartimentado. Lucky them que com um hipotálamo maior, têm mais espaço para ver as coisas mais ou menos como elas são.
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