terça-feira, 20 de março de 2007

CONHECIMENTO, TEORIA E TENSÃO
ENTRE CONHECIMENTO LOCAL E UNIVERSAL


Por me parecer muito esclarecedor, e por ter sido publicado na revista Time, de radicalismo notório, já citei em outras ocasiões, e voltarei a fazê-lo, o artigo de John Elson, intitulado The Millennium of Discovery. How Europe emerged from the Dark Ages and developed a civilization that came to dominate the entire world (“O Milénio da Descoberta. Como a Europa emergiu da Era das Trevas e desenvolveu uma civilização que acabou dominando o mundo inteiro”) . É de lá que procedem estas linhas: “O triunfo do Ocidente representou, de muitos modos, uma vergonha sangrenta – uma história de atrocidade e de rapina, de arrogância, cobiça e poluição ecológica, de desprezo insolente por outras culturas e intolerância para com credos não-cristãos.” Só num ponto deve ser modificada esta sentença verídica e rude: o uso do tempo verbal no passado. Tal história não é somente o que “o triunfo do Ocidente” foi, mas sim o que continua sendo para o resto do planeta. Há tantos exemplos recentes, que nos sentimos dispensados de lembrá-los. Nos últimos tempos, vem-se generalizando a prática de usar, em lugar de Oeste, ou Ocidente, o vocábulo Norte, o que transforma os outros países, por exclusão binária, no Sul. Como no caso anterior, não faz sentido apegarmo-nos ás origens geográficas. No caso, trata-se de diferenças estruturais, e não topográficas.

Os colonizadores costumavam contar, entre os povos oprimidos, com intermediários para os quais a divisão resultava, e continua resultando, bastante proveitosa. Para dizer tudo isso com os termos de alguém tão inconfundivelmente defensor de nossos valores, como Darcy Ribeiro, que os emitiu precisamente em seu livro, ao qual ainda voltarei, “o atraso da América Latina não é natural nem necessário; ele só existe e persiste porque temos sido coniventes com os seus fatores causais. [....] Não há como descartar a conclusão de que as causas estão em nós próprios, não em carências naturais, inatas ou históricas, mas em conivências que são nossa culpa. // Com efeito, ninguém duvida hoje de que o projeto de exploração colonial e neocolonial da América Latina – tão desastroso para os nossos povos, que pagaram o seu custo em opressão, penúria e dor – foi extremamente bem sucedido para os que o comandaram e dominaram como classes dominantes. [....] // Foi o nosso projeto classista de prosperidade que nos induziu, ao sair da dominação colonial, a buscar novas sujeições, porque esta era a forma de manter e ampliar velhos privilégios. [....] Tudo isso para gerar excedentes, para alimentar regalias de uma nata social superprivilegiada, na qual a intelectualidade conseguiu sempre incluir-se.”
in: roberto fernandéz retamar - sociedade do conhecimento X economia do conhecimento (link)

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