quarta-feira, 14 de março de 2007

A PRÓXIMA SANEADA

Ministério tirou 140 mil euros do mecenato
O ano começou mal para o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), diz Dalila Rodrigues, mas ainda estamos só no princípio (e há uma luz ao fundo do túnel): para a directora do MNAA, a nova lei orgânica do futuro Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), em vias de publicação, será o tudo ou nada. "A tutela impede o MNAA de crescer. Este museu tem de ser uma estrutura autónoma, como o Prado é uma estrutura autónoma em Madrid", disse ontem ao PÚBLICO. Ela quer dar murros na mesa, mas na mesa certa: "Temos de depender directamente do Ministério da Cultura", explicou, na sequência de uma entrevista à Rádio Renascença que voltou a pôr na ordem do dia a turbulência entre o MNAA e o Instituto Português de Museus (IPM).
A insatisfação de Dalila Rodrigues com a tutela (o MNAA depende actualmente do IPM, que brevemente dará lugar ao IMC), e nomeadamente com a forma como a tutela distribuiu os 600 mil euros de apoio mecenático do Millennium BCP (360 mil euros para o MNAA, os restantes 240 mil para o Museu Nacional Soares dos Reis), não é nova. Mas agora, em vésperas de uma redefinição dos organismos do Ministério, a directora do MNAA volta a dizer que nada pode ficar como dantes. "Neste momento eu sou a voz da indignação da museologia nacional e odeio esse lugar. Mas não posso deixar de contestar o actual modelo de gestão. Aguardo com expectativa a lei orgânica do novo instituto, na esperança de que a receita gerada e os apoios mecenáticos passem a ser directamente geridos pelas direcções dos museus que os angariaram", argumenta.
A directora do MNAA considera inaceitável que os 600 mil euros por ela directamente negociados com o mecenas exclusivo do museu, o Millennium BCP, tenham sido redistribuídos. "Eu não teria aceite um mecenas com estatuto de exclusividade por menos de 500 mil euros - estamos a falar do mais importante museu português. O BCP estava muito interessado em apoiar também o Soares dos Reis, mas a verba que esteve na mesa foi sempre de 500 mil euros para o MNAA. Fui informada a posteriori de que ficaria apenas com 360 mil euros porque o IPM queria reforçar a programação do Soares dos Reis", explica Dalila Rodrigues. O MNAA, conclui, foi "duplamente prejudicado": não teve "os 500 mil euros acordados" com o mecenas e, por ter mecenas, não teve dotação do Estado.
Para Dalila Rodrigues, a nova lei orgânica é a última oportunidade de o MNAA ver alteradas as suas "condições de existência". Com ela, pelo menos: a comissão de serviço da actual directora do MNAA termina em Novembro e ela não sabe se quer ficar. "É um processo que carece de várias ponderações e a nova lei orgânica é determinante", sublinha. Contactados pelo PÚBLICO, tanto o director do IPM, Manuel Bairrão Oleiro, como o porta-voz do BCP preferiram não fazer declarações. I.N.

Dalila Rodrigues foi nomeada directora do MNAA em 2004. Estava no Museu Grão Vasco, em Viseu, desde 2001
in: jornal Público de 14.3.2007

1 comentário:

João Barbosa disse...

é um espectáculo! ou mesmo dois!...
mas não dou muitos dias no cargo a esta senhora.