sexta-feira, 25 de maio de 2007

SOB O SIGNO DA VERDADE - O ELOQUENTE "CASO SALGADO" - V

Foi depois da última conversa que referi com Manuel Salgado que Jorge Coelho me telefonou, informando-me que ele lhe tinha ligado, solicitando um encontro urgente. Esse encontro tinha sido marcado, e Jorge Coelho queria saber qual seria o motivo, uma vez que, segundo me afirmou, conhecia muito mal Salgado. Eu disse-lhe que não fazia ideia de qual fosse o motivo concreto do encontro solicitado, mas que a evolução das nossas conversas caminhava para um desfecho sem saída, uma vez que a solução que ele me apresentava para o conflito de interesses existente era a de uma venda fictícia, a reverter de novo para ele no fim do mandato.

Perante isto, Jorge Coelho disse-me que achava melhor nem falar com ele, e pediu-me para eu falar com Salgado, assumindo que sabia do contacto dele com Jorge Coelho, e deixando claro que os assuntos da candidatura de Lisboa eram comigo. Foi o que fiz, o que deixou Manuel Salgado bastante incomodado, tendo-me respondido, quando lhe perguntei se eu não poderia resolver o problema que ele queria apresentar a Jorge Coelho, que "isto é muito complicado, veja o que se tem passado consigo, eu não me meto nisto sem ter garantias ao mais alto nível do Partido Socialista".

Foi uma conversa ao telefone, eu fiquei surpreendido com a explicação, referi que temos obrigação de ter a consciência tranquila e um passado o mais inquestionável possível quando nos candidatamos a cargos públicos, mas que também sabemos que isso nem sempre basta e não nos poupa muitas vezes a passar horas difíceis.

Eu argumentava nesta base, para conduzir a nossa conversa para o seu desfecho, que era o da inviabilidade da sua integração na minha equipa. Eis quando, insistinto na importância das "garantias" do partido, ele me refere que isso se justificava porque se iria expor muito, como nº 2 e vice-presidente da Câmara de Lisboa.
Manuel Maria Carrilho - SOB O SIGNO DA VERDADE, página 120.

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