terça-feira, 29 de maio de 2007

SOB O SIGNO DA VERDADE - O ELOQUENTE "CASO SALGADO" - VII

Dado o modo cordato como as coisas se tinham, a meu ver, resolvido, e o total silêncio dele desde esse dia, não conseguia imaginar o que seria, mas senti logo que não podia ser nada de bom. E liguei-lhe, de imediato, para o telemóvel. Engasgou-se imenso nas explicações, e confirmou-me que tinha enviado para o jornal Expresso uma "curta carta", não um artigo, em que protestava contra uma notícia da edição de há quinze dias (de 2 de Julho), em que se referia que a sua não integração na minha equipa se ficara a dever ao conflito de interesses resultante do facto de ele facturar cerca de 25% da actividade do seu atelier em Lisboa.

Eu perguntei-lhe qual era o problema, uma vez que isso era verdade, e ele respondeu-me que só eu é que sabia disso e que, portanto, não tinha sido correcto dar essa informação ao jornal.
Declarei-lhe que essa informação era corrente - havia quem, de resto, falasse em 40% - que eu nada havia dito ao jornal e que duvidava que a fonte tivesse sido a minha candidatura. E perguntei-lhe ainda por que razão, se o assunto tinha para ele essa relevância, não me tinha ele (como tantas vezes havia feito) telefonado directamente para o meu telemóvel, para esclarecer a situação. Ele ficou embaraçado, e eu aconselhei-o então a desistir da publicação da carta, em nome da mudança em Lisboa, e tendo presente todas as conhecidas dificuldades que eu então enfrentava e procurava ultrapassar. Pediu-me uns minutos, mas pouco depois ligou-me a dizer que isso era impossível. Fiquei à espera...
Manuel Maria Carrilho - SOB O SIGNO DA VERDADE, páinas 121 e 122.

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