ARTIGO DE ALEXANDRE POMAR DE 22.11.2003
INCOMPATIBILIDADES
Alexandre Pomar
apomar@mail.expressso.pt
"Como distinguir a exposição de um artista no museu e a intenção de promover investimentos nas suas obras?"
Têm tido bastante projecção as questões relativas à incompatibilidade da acumulação de certas actividades profissionais, políticas e empresariais. Deputados e outros detentores de cargos políticos, advogados, médicos e jornalistas são sujeitos a regimes legalmente definidos ou ditados pelas respectivas associações. Outros casos são objecto de polémica, como a acumulação de lugares partidários com o papel de comentador político, uma aberração do nosso panorama mediático que falseia o jogo democrático.
As notícias da criação de dois fundos de investimento em arte, sob a forma de fundação ou não, com ou sem intuitos mecenáticos, vieram pôr em foco a acumulação de outras funções que à partida se julgariam inconciliáveis. Num desses fundos surge como "curador" (um dos responsáveis directo pelas aquisições) o director do Museu do Chiado; no outro, integram o respectivo conselho consultivo os directores do Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém e do Serviço de Belas Artes da Fundação Gulbenkian. Estes últimos não fazem aquisições para colecções próprias e no segundo caso não se trata de uma entidade estatal, embora o lugar qua a FG ocupa entre as instituições públicas a distinga de um mero agente privado. Participa também no mesmo conselho o director do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, instituição com escassa intervenção para além da que é dedicada à obra dos dois artistas.
Poderia julgar-se que se trata apenas da disponibilização de um saber adquirido em favor da dinamização do panorama artístico, que passa, necessariamente, pela comercialização das obras. Está em causa, porém, com graus diferentes de eficácia, uma intervenção decisora com consequências tanto na construção da notoriedade dos artistas como no destino mercantil das suas produções.
Não são separáveis as opções (estéticas? mercantis?) que levarão o director do museu a programar a exposição de um determinado artista ou integrá-lo nas respectiva colecção e, por outro lado, a patrocinar investimentos nas suas obras. Para cumprir bem a sua dúplice função, ele deverá expor no museu os artistas cujas obras recomenda ao fundo de investimentos, para lhes conferir legitimidade institucional e as promover pela inclusão no espaço museológico. E deverá também expor e adquirir obras de artistas cuja produção seja objecto de opções significativas de investimento, antes de estas terem consequências na respectiva valorização, servindo-se da informação privilegiada a que tem acesso enquanto "agente duplo".
Noutras áreas de investimento financeiro, esse acesso privilegiado ("inside trading") é fiscalizado e punido, mas o álibi da cultura recobre alguns mercados de uma aparência de pura virtude. O que daqui resulta quanto à orientação da criação artística e à relação com o público, cada vez mais indiferente ou desconfiado, são outras questões não menos relevantes.
Expresso-Cartaz
22.11.2003
Nota da formiga bargante: dada a importância deste artigo, decidimos "puxá-lo" de ontem para hoje. Aos que já o leram ontem, a justificação, aos que ainda não o tinham lido, aproveitem.
3 comentários:
Quando o A.Pomar deixar de fazer censura no Expresso de forma a promover os seus artistas e as suas "ideias" recalcadas e conservadoras, talvez mereça ser lido, e tido em conta, por enquanto nem para rir...
PS a continuar assim, esta formiga parece sofrer de um catarro que lhe tolda a visão, que a está a tornar totalmente tendenciosa, e infelizmente desinteressante (para mim que sempre a li com atenção), quando se critica escolhendo olhar só para um lado, a coisa vai mal vai...e o ódio pessoal não é esclarecedor de nada, e muito menos bonito de se ler.
Anonymous said...
meu caro anónimo das 10.33
vamos lá ver se nos entendemos:
1º ponto
aquilo que alexandre pomar escreve neste artigo, é importante ou não?
A situação que ele denuncia é importante ou não?
Para mim, formiga bargante, estas são as questões centrais.
as outras que coloca são importantes, mas deveriam ser discutidas noutro contexto.
2º ponto
é dificil, penso que até impossivel, ter ódio pessoal a uma pessoa que não se conhece.não conheço pedro lapa, não ando pelo dito "mundo das artes" e não tenho qualquer dependência do dito "mundo das artes".
o que me preocupa é o uso de uma entidade pública, um Museu Nacional, para o serviço de entidade privada com fins lucrativos, a Ellipse Foundation.
Portanto, ódios nunca, quanto a catarro, e enquanto os Museus Nacionais estiverem ao serviço de causas privadas, e ainda por cima sendo motivo de troça e desdém por essa Europa fora (e acredite que é verdade) tenho muito gosto em ter catarro.
Cumprimentos
Enviar um comentário