quinta-feira, 17 de novembro de 2005

COMO DISSE QUE DISSE ? (ISABEL PIRES DE LIMA)

Segundo o jornal Público de hoje, a "Ministra da Cultura reconhece desequilibrio no CCB".

Ainda segundo o jornal, a ministra, caridosamente, constatou que "há sectores da opinião pública que reconhecem haver uma crise no Centro Cultural de Belém".

E mais acrescenta a ministra que "há dificuldades no seio do CCB devido a um desequilíbrio muito grande entre o financiamento para o domínio da produção e do pessoal".

E finaliza: "será preciso muito tempo para que se encontre uma solução para a instituição".

Esta ministra não pára de nos surpreender !

Os tais sectores da opinião pública a que a ministra se refere, sem concretizar quais, poderão ser, por exemplo, o Expresso e o Público do passado fim de semana.

Vejamos o que dizem aqueles jornais:

Expresso

1) - Em artigo assinado por Alexandra Carita e Luciana Leiderfarb, o título é "AS FRENTES DA CRISE NO CCB". E já no corpo do artigo: "a demissão de Delfim Sardo prende-se igualmente com uma questão estrutural (e não só financeira, nota da formiga bargante). Citando, no artigo, Delfim Sardo: "o modelo seguido pelo CCB está fora do seu tempo e devia ser repensado". Ainda segundo Delfim Sardo " a instabilidade institucional do CCB revela falta de identidade, e o trabalho com o público depende da identidade de uma instituição".

2) Noutro texto, assinado pelas jornalista já referidas, e com o título "UM MODELO A REPENSAR", são citadas declarações de outras personalidades ligadas ao meio, que passamos também a reproduzir, começando pelo primeiro parágrafo deste artigo:

" Qual é o projecto do CCB? Francisco Motta Veiga, Miguel Vaz, António Pinho Vargas, Miguel Abreu e Jorge Silva Melo dizem que não existe nenhum e defendem a urgência do debate".

Jorge Silva Melo = "A falta de dinheiro não pode ser desculpa para a inércia actual, o que falta é um pensamento".

Motta Veiga: " aponta três erros estruturais à instituição: o circuito fechado em que a administração funciona, a lógica de instituto público, extremamente burocratizada, que a percorre, e a inutilidade do Conselho Directivo".

Motta Veiga: Embora desadequados, nem sequer os Estatutos do CCB estão a ser cumpridos. Para Motta Veiga "não estão a ser cumpridos nem do ponto de vista nacional, de desenvolvimento da cultura e da produção portuguesa em todas as suas vertentes, nem do internacional, que visa promover a inserção de Portugal nos circuitos mundiais".

Miguel Abreu: "há uma filosofia de rentabilização que vai tornando o objectivo cultural acessório ao comercial".

Miguel Abreu: "A contemporaneidade tem sido permanentemente bloqueada, e há uma luta constante para fazer passar a programação.
O encenador fala de "proibições a determinado tipo de espectáculos e de interferências no trabalho dos programadores" e acusa a administração de ter medo de projectos ousados.

Pinho Vargas: "neste momento estamos perante uma falsa fundação, com um só accionista. Todas as decisões estão na mão de uma administração que apenas tem de prestar contas ao ministro da Cultura que a nomeia".

E finalizam as jornalistas: "Exige-se mais para o emblemático equipamento cultural de Lisboa. Mais, sobretudo, de um Ministério da Cultura que se recusa a contribuir para o debate público, abstendo-se de prestar declarações".

Ainda no Expresso, e de leitura obrigatória, o artigo de Alexandre Pomar intitulado " FIM DE UM LOGRO".

O destaque deste artigo, que como já referimos é de leitura obrigatória, é o seguinte:

"Com a saída de Delfim Sardo chega ao fim o equívoco de considerar o módulo 3 do CCB como um centro de arte contemporânea".

Passando agora ao Público, o grande título das duas páginas dedicadas ao tema CCB, é o seguinte: "Centro Cultural de Belém - Balanço de um colosso sem rumo".

Não nos vamos deter sobre este conjunto de artigos, porque este texto já está muito longo, por um lado, e por outro, porque seria um pouco repetir aquilo que já citámos do Expresso.

E face a este conjunto de declarações, e de outras que ao longo do tempo têm sido feitas, a Ministra reduz o problema do Centro Cultural de Belém a um problema financeiro, e vai deixando o aviso de que "será preciso muito tempo para que se encontre uma solução para a instituição".

Estas declarações são música celestial para o Presidente do Conselho de Administração do CCB, Fraústo da Silva.

Pode dormir descansado, que a ministra está satisfeita com o trabalho dele.

Mas nós é que não podemos dormir descansados com uma Ministra da Educação como esta.

Será que não vai sendo tempo de olhar para os lados da residência oficial do Primeiro Ministro e começar a perguntar o que pensa ele de tudo isto ?

É que falta de informação o Primeiro Ministro não pode invocar, dado que tem como assessor cultural um dos homens que melhor conhece estas e outras "estórias", Alexandre Melo, por sinal um dos "curators" da Ellipse Foundation.

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