segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

A COLECÇÃO BERARDO E AS REPÚBLICAS DAS BANANAS

Na revista Actual, suplemento do Expresso, de 10 do corrente mês de Dezembro, veio publicada uma entrevista com Joe Berardo, relativa à tão falada colecção Berardo e à sua possivel instalação em Lisboa.

Que a Formiga Bargante tenha dado por isso, duas vozes, só duas, comentaram a entrevista, e em termos nada abonatórios.

Essas vozes foram Augsuto M.Seabra no Público, e Beluga, no seu blog "O Belogue".

Deve ser da quadra natalícia !

É que nesta entrevista, Joe Berardo coloca, preto no branco, as condições que quer impor à autarquia lisboeta e ao governo da Républica para a instalação da sua colecção em terras lusas.

E que condições são essas ?

1ª - Um edifício condigno: Pavilhão de Portugal na Expo.
2ª - Um apoio directo e anual ao museu, para pagar as despesas correntes, um conselho de administração, especialistas, direcção artistica, programadores, etc.
3ª - Orçamento aprovado pelo parlamento.
4ª - Orçamento para a circulação de exposições.
5º - Orçamento gerido pela equipa de Joe Berardo, ou seja, ele mesmo.
6º - Verbas do Casino de Lisboa

E que oferece Joe Berardo em contrapartida?

Um contrato a 10 ou 15 anos, "que obriga a minha família a não vender as obras sem primeiro dar às entidades públicas envolvidas a opção de compra".

Anteriormente interrogado pela jornalista Alexandra Carita sobre se pretendia criar uma fundação, eis a resposta: "Não. Mas quero que o Estado garanta um apoio directo e anual ao museu, para que possamos trabalhar com o dinamismo e possibilitar a circulação de exposições".

Ou seja, todas as despesas, brutais, da montagem e manutenção da estrutura para expôr e rentabilizar a colecção Berardo ficam por conta do Estado, ou seja, os nossos impostos, enquanto que relativamente à propriedade do que realmente interessa, a colecção, Berardo afirma categóricamente que não pretende fazer uma fundação, mas, generosamente, oferece a opção de compra de cada vez que resolver vender qualquer peça da colecção !

Mas não é tudo. Durante o prazo que sugere para a duração do contrato, 10 ou 15 anos, Berardo quer ter total liberdade de actuação, ou seja, o Estado paga e ele e a sua equipa administram.

E assim, a troco de promover criadores mais ou menos emergentes no panorama das artes, através do Seu Museu (mas paga pelos nossos impostos) Berardo fica em condições de comprar novas peças em condições excepcionais de preços, fazer a promoção no mercado das artes dessas mesmas peças através do Seu Museu (mas pago pelos nossos impostos) e obter novas e substanciais mais valias à custa dos impostos de todos nos.

Pensando bem, Joe Berardo até é capaz de ter razão.

Ao verificar a situação do "Chez Lapa ao Chiado, vulgo Museu do Chiado", ou do Museu do Design no CCB, qual a razão para ele também não ter o seu Museu, pago por todos nós, só que desta vez de forma mais aberta e transparente ?

De muita coisa se pode eventualmente acusar Joa Berardo, não sabemos, mas de falta de transparência é que não. Está lá tudo na entrevista. Sem rodeios.

Resta agora saber se temos uma ministra da cultura de uma qualquer república das bananas que aceita esta "generosa oferta", ou se temos uma ministra da cultura de um pais europeu, que não cede a pressões venham de onde vierem, e agradece a oferta, delicadamente, mas recusa.

Em breve saberemos !

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