quinta-feira, 2 de março de 2006


C
UMPLICIDADES NO RECTÂNGULO

Cartas a Marcello Caetano
















Álvaro Cassuto para Marcello Caetano

Lisboa, 12 de Maio de 1970.

Professor Doutor Marcello Caetano
Muito Ilustre Presidente do Conselho de Ministros

Numa entrevista recente, o Dr. João de Freitas Branco refere a necessidade de se criar em Portugal uma orquestra sinfónica itinerante, que leve à Província espectáculos sinfónicos, operáticos e baléticos.
Parece-me, realmente, importante evitar que as actividade culturais se circunscrevam a Lisboa e Porto, com esporádicas incursões por outros centros populacionais.
Na mesma entrevista, sublinha-se o elevado encargo que a criação de uma orquestra sinfónica implicaria. Neste aspecto, permito-me, porém, sugerir uma solução que muito gostaria de ter a honra de expor mais pormenorizadamente a Vossa Excelência, se possivel na presença do Dr. Freitas Branco.
A orquestra sinfónica cuja criação proponho seria composta por músicos jovens, vindos de qualquer país. Far-se-ia uma publicidade sistemática junto de estabelecimentos de ensino de todo o mundo, no seguinte sentido:
Os músicos que terminassem o curso viriam a Portugal para uma permanência de Outubro a Abril, inclusive. Ficariam instalados em Lisboa em lares universitários ou casas similares, e teriam alimentação e alojamento gratuitos. Receberiam adicionalmente uma bolsa de Esc. 3.000$00 a Esc. 4.000$00 mensais, além de um subsídio para a viagem de ida e volta.
Seriam assim asseguradas as fontes financeiras: 1º: as bolsas seriam instituidas por empresas particulares (por exemplo uma Mobil Portuguesa, uma IBM, uma Shell, etc.). Cada lugar na orquestra disporia de uma verba anual de cerca de 7 x 4.000$00 (ou seja o equivalente de cerca de mil dólares para os sete meses), lugar esse que teria o nome da entidade que doasse a respectiva bolsa. 2º: o subsídio de viagem seria oferecido pelos serviços Culturais das Embaixadas com a possivel colaboração das companhias de aviação comercial, parecendo também de considerar a hipótese dum apoio do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Finalmente 3º: o alojamento e a alimentação seriam oferecidos pelos departamentos oficiais directamente ligados ao Ministério da Educação Nacional ou à Secretaria de Estado da Informação e Turismo.
Realizando os ensaios em Lisboa, a orquestra efectuaria todos os meses sistematicamente, uma tournée pelo País, escolhendo-se para tal umas 8 ou 10 localidades onde a organização dos espectáculos estaria a cargo das autarquis locais e de entidades particulares. O estímulo desta poderia sempre obter-se por via publicitária. Viagens ao Ultramar seriam igualmente realizáveis.

Nota Formiga Bargante: amanhã será publicado o restante teor desta carta.







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