quinta-feira, 27 de abril de 2006

BELÉM REDESCOBERTA (I)

Deveriamos começar a série de textos dedicados ao projecto Belém Redescoberta analisando, primeiro, o que é hoje o marketing das cidades, e só depois partir para a análise deste projecto, anunciado, pomposamente, por 5-ministros-5.

Deveriamos, mas não o vamos fazer.

E não o vamos fazer porque "não estamos para ai virados".

Por isso, vamos começar por escrever sobre o anunciado novo museu dos coches, destinado a substituir o actual, instalado no antigo picadeiro do Palácio de Belém.

E começamos com o novo museu dado que, e mais uma vez, parece estar a perder-se a oportunidade de introduzir na sociedade portuguesa uma discussão que, na sua configuração actual, começou nos início dos anos 90 do passado século, e que pretende encontrar respostas para a questão: qual a importância das novas tecnologias e da internet na configuração/programação dos museus existentes e nos projectos de arquitectura/programação dos novos nuseus ?

Segundo alguns autores, desde o artista plástico Douglas Davis aos arquitectos Renzo Piano, Jacques Herzog e Pierre de Meuron ou ainda Gehry, ao economista Richard Florida ou ao filósofo John Shotter, estamos a assitir ao nascimento de um novo conceito de público para os museus.

Em lugar do "antigo" mas ainda maioritáriamente presente conceito de "público de museus" como uma massa homogénea que assiste passivamente às propostas que alguns, poucos, "iluminados curators" mediáticamente realizam, ao nascimento de um conceito de "públicos de museus", no qual a "massa" dá lugar aos chamados "públicos informados", constituidos pela nova geração que, na adolescência, começou a conviver com a informática e a internet, e que hoje em dia, para além de a utilizar (a internet) como fonte de informação segundo parametros específicos e pessoais, pretende também que os museus, seja na sua composição fisica seja na informação disponibilizada, incorporem os avanços registados nos dominios das novas tecnologias.

Como exemplo, vejam no final deste texto o link para a proposta apresentada pelos arquitectos Jesse Reiser+Nanako Umemoto para o Eyebeam Museum of Art + Technology a erguer em Nova York, ou então vão até ao site da Tate Modern (deste não damos o link, já sabem que este blog não é para preguiçosos), que já nomeou um "curator" para a net, o qual apresenta regularmente conferência e outros eventos exclusivamente na "rede", com audiências que se aproximam das audiências "fisicas" às salas da Tate Modern.

Será que o novo museu dos coches não poderia/deveria incorporar na sua futura morada o que de mais estimulante e actual existe de conclusivo nas várias discussões que se desenrolam por esse mundo fora sobre a função dos novos museus ?

Ou será que estamos a "sonhar alto" perante um programa que contempla como grandes iniciativas a ter lugar o passeio em charretes ou o render da guarda no Palácio de Belém ?

Já para não falar nos novos espaços "trendy" ! (que palavra tão querida, não acham?)

Continuaremos.

Nota: Sabemos que alguns dos autores acima referidos não defendem exactamente o que escrevemos, tendo mesmo alguns defendido a ideia de que os museus se dividem, actualmente, em: First, Second and Third Kind.
Lá iremos.


Eyebeam Museum of Art + Technology
LINK


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