sexta-feira, 28 de abril de 2006

BELÉM REDESCOBERTA OU,
COM PAPAS E BOLOS (ALIÁS PASTÉIS DE BELÉM)... (II)



Continuando...

Belém Redescoberta
Novo Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea
* Vai abrir ao público antes do final de 2006
* Um dos mais importantes acervos de arte moderna e contemporânea a nível mundial
* - Contém obras de Miró, Picasso, Dalí, Warhol, Vieira da Silva, Man Ray, Paula Rego, Lichtenstein, Mondrian, Bsquiat, Pollock entre outros
in: "Power Point" de apresentação do projecto Belém Redescoberta, com a presença de 5-ministros-5.

Uma das coisas de que a Formiga Bargante não gosta nada, mas mesmo nada, é que lhe atirem poeira para os olhos, ou, no caso, meia dúzia de grandes nomes da arte moderna e contemporânea e, a partir daí, seja afirmado "um dos mais importantes acervos de arte moderna e contemporânea a nível mundial".

Vejamos a realidade:

Vieira da Silva, Mondrian, Basquiat e Pollock - 1 obra de cada
Miró, Picasso, Dali, Man Ray e Lichtenstein - 2 obras de cada
Paula Rego - 3 obras
Warholl - 26 obras divididas por 11 Brillo Box, 12 obras incluidas no Portfólio nº 4 e mais 3 obras

E estamos a "inventariar" os nomes que a propria organização seleccionou como os mais representativos.

E é com este número de obras, algumas nem sequer das mais significativas da produção dos seus autores, que se constitue o tal acervo que é "um dos mais importantes a nível mundial" ?

Bem sei que sempre podem argumentar que de Fernando Lemos o acervo do comendador possui 117 obras, mas daí a dizer que Fernando Lemos tem projecção mundial...

Mas, no fundo, o problema mais importante nem é este.

Mais uma vez parece que os "cérebros" que idealizaram este programa não tomaram em linha de conta o facto de hoje em dia as grandes e médias cidades, bem como os grandes e médios museus a nivel mundial, desenvolverem estratégias de marketing muito sofisticadas para atrairem para as suas cidades ou museus o maior número possível de visitantes.

Sobre isto o programa diz NADA!

E que existem dados quantitativos e qualitativos sobre "a nova economia" das cidades e dos museus.

E que a competição entre cidades e museus é enorme, não se compadecendo com amadorismos ou "xico-espertices".

Só para ajudar à reflexão sobre este tema, aqui vão alguns números sobre as maiores exposições de arte dos últimos 8 anos (1998-2005).

Assim, e segundo o estudo do The Art Newspaper, no periodo compreendido entre 1998-2005,

as 10 exposições que em cada ano atrairam mais espectadores, no total de 80, foram:

* 26% Impressionistas, Pós-Impressionistas ou outros do século XIX
* 22% "Old Masters"
* 20% Arte contemporânea
* 18% Arte Moderna
* 12% Antiguidades

Ficamos igualmente a saber, através daquele estudo, que um pequeno número de instituições dominaram o "Top 10" das exposições, a saber:

14 exposições - Metropolitan Museum of Art - New York
9 exposições - Museum of Modern Art - New York
7 exposições - National Museum of Modern Art - Tokyo
7 exposições - Guggenheim - New York e Bilbau
4 exposições - National Gallery - Washington
3 exposições - Philadelphia Museum of Art
3 exposições - Museu do Prado - Madrid

E que por países a distribuição é esta:

43 exposições - Estados Unidos
7 exposições - Japão
7 exposições - França
5 exposições - Espanha
4 exposições - Itália e Reino Unido
3 exposições - Rússia e Holanda
1 exposição - Canadá, Bélgica Alemanha e Grécia

Neste contexto, e se não é pedir demasiado, e tendo também em conta que até 2015 a China pretende inaugurar 1.000 novos museus (leram bem, 1.000 novos museus !), seria possivel ter acesso ao programa de marketing que suporta
Belém Redescoberta ?

Ou estaremos a pedir o acesso a uma ficção ?

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