sábado, 22 de abril de 2006


dylan thomas by gordon stuart


ENCONTRO EM TERRA ESTRANHA
COMO O POETA DYLAN THOMAS

Oh Dylan leva-me contigo a passear num barquinho
a ver o céu por dentro cheio de nuvens
a galopar na sela dum cavalo cujo selim é d´ouro, é de couro, é de chuva,
é decorado com flores mimosas que tu, Dylan, pintaste à tardinha
na tua varanda
vendo o sol extinguir-se
e bebendo muito álcool,
Dylan, que foi feito de ti? por onde andas? que coisas e que seres que nunca viste, encontraste tu no caminho que leva ao pátio do jardim dos quatro cantos e dos quatro limoeiros?
Ouvi dizer que tu, Dylan, esqueceste
esta terra inglesa que os destroços
da guerra ainda cobrem e que tu olhavas revoltado e triste - e para quê?
Estas vozes, aqui
irritam mais que nunca:
São velhas, avinhadas,
cheias de acentos bruscos e canalhas:
Eu estou pensando que morreste, Dylan !
eu estou pensando na tua morte:
Como pudeste, Dylan, atirar-te
dum arranha-céus de Nova Iorque,
estando o céu tranquilo e os negros na Broadoway vestindo camisolas coloridas e mascando chewing gum e andando para um lado e para o outro desconfiados, ruminando qualquer coisa de que tu, que eras branco, tinhas medo; foi por isso, Dylan, que morreste? foi por isso que andas, vagabundo sem história, comendo sandwiches e bebendo whisky enquanto vais contando pelos dedos as vezes em que viste um homem reprimir as lágrimas e seguir adiante, com um rosto feito de simulada força? diz-me, Dylan, ou foi o Mar do Ocidente, ou a Luz do Oriente, ou uma estrela nova chamada Pirilampo de Olhos Curvos, que fez com que te debruçasses nesse dia da tua janela e visses reflectido no asfalto o teu maravilhoso destino?
Eu não quero crer que as coisas se tenham passado assim tão simplesmente.
Acredito que tenhas uma razão qualquer, UMA GRANDE RAZÃO, para acreditar que as codornizes matam os filhos por puro prazer dos defender dos pólens das flores, que os embriaga sendo novos; eu acredito como tu nas 5
estrelas em forma de pétala
e guincho de animal;
E se alguma vez por cá passaste
de navio num cruzeiro de férias pela Europa,
se alguma vez, Dylan, tu desesperaste,
eu te digo que sim, que continua a ser preciso
desesperar.

- Vai muito devagar... não te debruces...

Mudemos de café: porque é preciso.

Será verdade, Dylan, que tudo está podre? ...

Retomemos o fio interrompido da meada...

A insensatez do frio.
A fresca lealdade dos amores

26-VI-57.
Raul de Carvalho

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