sábado, 22 de abril de 2006


Ao coronel, a esse, não queira eu mal. Mas no entanto também ele estava morto. Não o vi logo. É que havia sido arrastado para o talude e aí se mantinha estirado sobre o flanco, pela explosão, e projectado para os braços do cavaleiro a pé, do mensageiro, que também ali se ficara. Abraçavam-se os dois naquele momento e para sempre, mas o cavaleiro já nem tinha cabeça, nada mais que uma abertura acima do pescoço com sangue dentro a ferver aos gluglus como compota na panela. O coronel tinha o ventre aberto e fazia uma carantonha incrível. Aquilo devia ter-lhe custado no momento em que chegara. Tanto pior para ele ! Tivesse ido embora logo após as primeiras balas e nada lhe teria acontecido.

Toda aquela carne junta sangrava fortemente.
Rebentavam ainda granadas à direita e à esquerda da cena.

Abandonei aqueles sítios sem mais demoras, bastante satisfeito por ter um tão belo pretexto para me pôr a cavar. Cantarolava até o meu bocado, titubeante, como no final de uma competição de remo, quando as pernas estão um pouco trôpegas. "Com uma só granada! Como se pode arranjar um sarilho destes com uma só granada", dizia para comigo. " Ah! que dizes tu a isto! - repetia constantemente - Ah! que dizes tu a isto!..."

Viagem ao fim da noite
Céline

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