DA NOVA VIDA DA ELLIPSE FOUNDATION,
OU DAS PERGUNTAS SEM RESPOSTAS (II).
Em 22 deste mês escrevemos um primeiro texto (link) relacionado com a Ellipse Foundation e a notícia publicada no jornal público de 21 deste mês, que dava conta, entre outras coisas, de que a fundação ia mostrar a sua "nova" casa, situada em Alcoitão.
No primeiro texto tentávamos perceber o que é a Ellipse Foundation, e hoje vamos tentar entender algumas das declarações de João Rendeiro, presidente da Ellipse Foundation, ao público, no artigo já referido.
"Segundo João Rendeiro, presidente do BPP e da Ellipse Foundation, o investimento de 4 milhões de euros na construção de uma sede para a colecção, surgiu há cerca de um ano e meio como solução de recurso, depois de não se ter conseguido chegar a um acordo de depósito no Museu de Serralves e contrariando o projecto inicial da fundação, que não incluía um espaço próprio".
"Há uma enormíssima incapacidade de decisão. Quando se apresentam pérolas elas são vistas como pedras".
joão rendeiro in: jornal público de 21.5.2006
Afinal, nestas declarações, João Rendeiro passa um atestado de estúpidez à administração de Serralves, quando afirma que, afinal, aquela administração não entende a diferença entre pérolas (a colecção da fundação ellipse) e pedras.
E, estranhamente, a jornalista não refere se se deu ao trabalho de obter junto de Serralves qualquer tipo de comentário a esta afirmação grave.
Mas acontece que a administração de Serralves pode ser acusada de tudo e mais alguma coisa, mas, neste caso, de estúpida é que não.
A Ellipse Foundation e a sua colecção não são mais do que um fundo de investimento em arte, tal como demonstrámos, a partir de declarações dos próprios, no primeiro texto.
E uma colecção para se valorizar necessita de exposição pública.
Aquilo que atrai mais valia para uma colecção, seja ela qual for, é a exposição e circulação das várias peças dessa colecção, e isso é uma actividade cara, como João Rendeiro candidamente reconhece, ao dizer que a "sua fundação/fundo de investimento em arte" dispendeu 4 milhões de euros na nova sede, que não estavam previstos...
E nestes números não estão incluidas as despesas de pessoal, manutenção e seguros da colecção e da nova sede, os quais atingem valores muito substanciais, como João Rendeiro está agora a descobrir.
E foi isto que Serralves não quis (e bem) suportar.
Se alguém pretende investir em arte, que suporte todos os custos inerentes e não pretenda, a troco de qualquer "xico-espertice", que sejam outras entidades a suportar esses custos.
Curioso também este parágrafo do artigo:
"Segundo João Rendeiro, procura-se muito intencionalmente "o mainstream da arte contemporânea, com níveis de risco muito minimizados", apesar de não haver qualquer intenção de um dia vender a colecção".
Mas se a colecção tem como origem um fundo de investimento em arte, como é que os investidores vão receber os juros do capital investido e, mais tarde, o capital ?
E, para finalizar este texto que não a atenção à Ellipse Foundation, só mais esta citação:
"... e o seu novo espaço (da fundação), apesar de privado, terá "uma lógica de serviço público"
Não querem vêr que ainda vamos assistir à entrega de dinheiros públicos a uma fundação/fundo de investimento em arte, justamente com esta justificação, de "serviço público"?
No primeiro texto tentávamos perceber o que é a Ellipse Foundation, e hoje vamos tentar entender algumas das declarações de João Rendeiro, presidente da Ellipse Foundation, ao público, no artigo já referido.
"Segundo João Rendeiro, presidente do BPP e da Ellipse Foundation, o investimento de 4 milhões de euros na construção de uma sede para a colecção, surgiu há cerca de um ano e meio como solução de recurso, depois de não se ter conseguido chegar a um acordo de depósito no Museu de Serralves e contrariando o projecto inicial da fundação, que não incluía um espaço próprio".
"Há uma enormíssima incapacidade de decisão. Quando se apresentam pérolas elas são vistas como pedras".
joão rendeiro in: jornal público de 21.5.2006
Afinal, nestas declarações, João Rendeiro passa um atestado de estúpidez à administração de Serralves, quando afirma que, afinal, aquela administração não entende a diferença entre pérolas (a colecção da fundação ellipse) e pedras.
E, estranhamente, a jornalista não refere se se deu ao trabalho de obter junto de Serralves qualquer tipo de comentário a esta afirmação grave.
Mas acontece que a administração de Serralves pode ser acusada de tudo e mais alguma coisa, mas, neste caso, de estúpida é que não.
A Ellipse Foundation e a sua colecção não são mais do que um fundo de investimento em arte, tal como demonstrámos, a partir de declarações dos próprios, no primeiro texto.
E uma colecção para se valorizar necessita de exposição pública.
Aquilo que atrai mais valia para uma colecção, seja ela qual for, é a exposição e circulação das várias peças dessa colecção, e isso é uma actividade cara, como João Rendeiro candidamente reconhece, ao dizer que a "sua fundação/fundo de investimento em arte" dispendeu 4 milhões de euros na nova sede, que não estavam previstos...
E nestes números não estão incluidas as despesas de pessoal, manutenção e seguros da colecção e da nova sede, os quais atingem valores muito substanciais, como João Rendeiro está agora a descobrir.
E foi isto que Serralves não quis (e bem) suportar.
Se alguém pretende investir em arte, que suporte todos os custos inerentes e não pretenda, a troco de qualquer "xico-espertice", que sejam outras entidades a suportar esses custos.
Curioso também este parágrafo do artigo:
"Segundo João Rendeiro, procura-se muito intencionalmente "o mainstream da arte contemporânea, com níveis de risco muito minimizados", apesar de não haver qualquer intenção de um dia vender a colecção".
Mas se a colecção tem como origem um fundo de investimento em arte, como é que os investidores vão receber os juros do capital investido e, mais tarde, o capital ?
E, para finalizar este texto que não a atenção à Ellipse Foundation, só mais esta citação:
"... e o seu novo espaço (da fundação), apesar de privado, terá "uma lógica de serviço público"
Não querem vêr que ainda vamos assistir à entrega de dinheiros públicos a uma fundação/fundo de investimento em arte, justamente com esta justificação, de "serviço público"?
3 comentários:
alguns pontos de contacto com uma história que eu ouvi de um comendador (da madeira?)... deve de ser história
Depois de visitar o museu, a curisoidade de saber mais sobre a Ellipse Fundation e sobre o museu fizaram-me procurar noticias e comentários. Encontrei várias noticias e o Formiga Bargante... achei interessante o blog. Portugal precisa de massa cinzenta crítica, de pessoas que não tenham receio de por questões e de dizer certas verdades. Mas o post sobre este museu, este e outros, deixaram-me um pouco preocupado. Crítica não significa perseguição. Os argumento têm de valer pelo que valem. Porque achou por bem dar a sua opinião, achei por bem dar a minha e é isso mesmo uma opinião e essas valem o que valem.
Ponto 1: Ao ler outros artigos de jornais nacionais, tão conceituados como o Público, consegui, e espero não ter sido o único, perceber que o alegado “atestado de estupidez” – usando a mesma terminologia, embora a considera demasiada – não foi a Serralves, mas à incapacidade de decisão atempada e segura que o estado parece ter nestas questões – e outras. Podia dar vários exemplos, mas estaria a escrever um livro. Mas basta lembrar a bronca que deu a “compra”, que não era compra, do espólio de um certo comendador da Madeira (só para ficar pelos mesmos exemplos”.
Ponto 2: Quanto às pérolas e pedras. Não sei até que ponto é um entendido em arte para considerar que isto ou aquilo presta ou não. É arte ou não é arte. Confesso que não sou. Confesso que também me custou considerar algumas coisas expostas naquele museu arte, mas posso dizer que gosto ou não, não posso dizer se presta ou não. Se todos tivéssemos o mesmo conceito todos os museus do mundo se iram restringir a meia dúzia de pintores impressionistas.
Ponto 3: Nunca ouvi ninguém afirmar que a Ellipse Fundation não era um fundo de investimento.
Ponto 4: É obvio que a exposição pública valoriza as obras. Aqui remeto para o ponto 3.
Ponto 5: Quanto às verbas gastas, não me consta que o estado tenha investido um cêntimo, ou que o vá fazer. Muito menos para a construção (que está pronta) do museu. Se os dinheiros são privados, não me parece que deva dizer a este ou àquele como o investir, fizesse eu o mesmo ou não. Mais uma vez são opções.
Ponto 6: João Rendeiro – pelo que li – é presidente do BPP – despesas com pessoal e outras parece-me ser coisa que uma pessoa com a sua função e percurso profissional não precise de descobrir, já sabe.
Ponto 7: Os privados que o fizeram devem suportar os custos. Essa foi a ideia que retirei deste post, pois acho muito bem. Concordo plenamente. Mas não foi isso que aconteceu? Já agora e o já falado comendador?
Ponto 8: Serviço Público: aqui temos realmente visões muito diferentes porque ou estou a ver tudo de uma forma simplória ou o serviço público pode apenas querer dizer que o museu está aberto ao público?
Na realidade o museu está aberto para visita de 6ª a domingo, eu mesmo o visitei.
Quanto ao resto, são considerações, opiniões e uma certa dose de perseguição que não se compreende. A mim o que me interessa mesmo é que Portugal e principalmente Sintra tem mais um espaço de cultura.
Meu caro António (sem link)
Obrigado pelo seu cuidado de colocar, neste modesto blog, o seu texto.
Na pesquisa que hoje fez no SAPO, encontrou um total de 4 textos publicados, aqui, na Formiga Bargante.
Existem outros, e se se quiser dar ao trabalho de os encontrar, basta fazer uma busca no próprio blog para encontrar a maior parte deles.
Penso que a nossa posição está bem clara na leitura dos vários textos.
Se mesmo assim ficar com dúvidas, e se pretender dar-se ao trabalho de voltar a colocar os seus comentários na Formiga (que serão sempre bem acolhidos), terei muito prazer em tentar tornar a nossa posição ainda mais clara.
Cumprimentos
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