quarta-feira, 7 de junho de 2006

BELUGA OU A FORMIGA A QUATRO MÃOS

Modernismo, Pós-Modernismo e Pré-Modernismo, ou “Em que pé é que estamos?”

Eu até tinha um post sobre o Mundial de futebol muito mais divertido, mas acho que este faz mais falta do que o outro e como a postagem deste texto não inibe a futura postagem do outro (embora a do Mundial tenha um prazo de validade para provocar a gargalhada), preferi reflectir sobre o pé em que a arte se encontra hoje. Não que eu saiba alguma coisa disso, a maioria dos meus posts são de um saber enciclopédico enjoativo e oco. No entanto, como diz alguém que eu não sei quem é “saber o que os outros pensam, não é pensar” (perceberam! Ou não?), acho que devo dar o benefício da dúvida às minhas leituras sobre estas matérias mesmo que não chegue a lado nenhum com elas.

No suplemento Actual do Jornal Expresso desta semana era possível ler uma entrevista de Lev Manovich que afirmava que cada vez mais as artes plásticas ditas tradicionais (pintura, escutura, arquitectura) estão afastadas umas das outras, com espaços próprios de manifestação, e afastadas do design e da arte por computador e das novas tendências dentro desse campo. Ora eu acho que isso é muito mentira.

1- Nunca tanto como hoje se viu arquitectos e designers de moda a desenhar o seu serviço de jantar, as jóias, fruteiras e um espremedor de citrinos que não cumpre a sua função.

2 – O tal espremedor de citrinos adorna as paredes, qual aranhão a subi-las, de senhores que perante a bizarria preferem tomar a peça como obra de arte, se bem que ela não seja nem útil, nem provoque ou inspire qualquer contemplação. Há um uso beócio deste tipo de peças: "e a arte serve para quê? Isso come-se?"

3- Se a separação entre as artes – principalmente as chamadas “Belas Artes” e as contemporâneas fosse assim tão simples, revistas como a ID, a Wallpaper, a Spoon, a Wired não misturavam nas suas páginas todas estas áreas (não, não estão todas juntas na mesma página, mas facilmente um pintor passa a escritor, e um escritor entra no mundo da escrita automática, e escrita visual, e usa o computador, e processa no mesmo obras de arte, e inicialmente era apenas um escritor…).

4 – Também no mesmo suplemento mas relativo ao dia 27 de Maio deste ano, Francisco Capelo refere que a sua colecção de Design e Moda devia estar separada da colecção de Arte Contemporânea, mas que o Design não devia estar separado da Moda. No entanto, esta ideia que se passa de que o design e a moda devem estar aliados é enganadora, uma vez que o design e a moda estão muitas vezes e desde há muito tempo associados: quando a predominância é do primeiro, chamamos-lhe styling e nada é acrescentado ao produto, quando em relevo está a moda, podemos entrar em universos muito atraentes (Olivier Theyskens, Viktor and Rolf, Karl Lagerfeld).

Mark Tansey
Ainda que se diga que os “ismos” na arte morreram, deixaram de existir (algo que até subscrevo), caminhamos porém para uma pré-modernidade. Passo a explicar: na Modernidade e como pode exemplificar o quadro de Mark Tansey, a arte passa de “janela do mundo”, para mera “superfície de trabalho” (eu diria até de reflexão) e daí para espelho do ego do artista. A arte do Modernismo já preconizava uma oposição aos ideiais iluministas que faziam a apologia do Homem, da sua individualidade. No entanto, os movimentos artísticos modernos foram feitos de “ismos” (Impressionismo, Simbolismo, Pós-impressionismo) e reuniam sob a mesma denominação artistas com vivências e formas de expressão diferentes. Com a Pós-Modernidade levou-se mais ao extremo, teoricamente, esse abandono do individualismo, do cristianismo e do capitalismo. Porém, se observarmos as coisas segundo a dialética de Hegel em que a História deveria ser uma evolução, um aperfeiçoamento, vemos que hoje não há continuidade com o Modernismo e o Pós-Modernismo. Toda a teoria está errada pois se a tese corresponder ao Modernismo, a antítese nunca poderia corresponder ao Pós-Modernismo e isso coloca-nos no lugar onde estamos. (Se a História fosse uma evolução qualitativa, nunca tínhamos passado pelo Holocausto.). Nunca tanto como hoje o artista se tornou tão individualista naquilo que faz. E não estamos a falar em “afastamento em relação aos dias de hoje”, estamos antes a falar de um fazer para si próprio. Notamos, isso sim, uma tendência para explorar o visceral que talvez tenha começado com a arte conceptual ou com a Body Art, e até um regresso a formas de arte mais figurativas como o Neo-Realismo ou o realismo fotográfico, mas não vemos nada mais. Pelo menos que eu tenha notado. Os artistas (tinha acabado de me enganar e escrevi “ratistas”, o que tem a sua piada), trabalham cada vez mais para si, para as suas vivências e essas não são, ao contrário do que acontecia com os “ismos”, vivências comuns, que unem pessoas com os mesmos ideiais, com a mesma luta social. Já não há lutas sociais; as lutas, mesmo em grupo, são por objectivos muito pessoais. A arte de hoje contraria a globalização.

Gostaria de ter uma frase bonita para a acabar isto, mas não tenho. Tenho um post sobre o Mudial. Se quiserem…

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