quarta-feira, 7 de junho de 2006

DE UMA FARSA (peça de teatro cómico, geralmente curta e de poucos personagens)
INSPIRADA NUMA NOTÍCIA DE UM JORNAL DE HOJE

"Câmara abandona projecto de Gehry para o Parque Mayer"

PRIMEIRO ACTO
Personagens (fictícias)
- Uma empresa detentora de um terreno com construções em acelerado processo de degradação.
- Duas outras empresas, muito, mas mesmo muito "estúpidas".

Acção
- A primeira empresa, sem autorização camarária para proceder à urbanização dos terrenos de sua pertença, decide vender, por bom preço, os terrenos de um imaginário Parque Mayer, a outras duas empresas que, geridas por gente muito, muito "estúpida", decidem comprar os referidos terrenos por um preço bem superior ao seu real valor, atendendo a que na altura não havia qualquer aprovação para se proceder à urbanização dos terrenos.
Feita a transacção, os terrenos ficam em "pousio", com as construções em continua degradação, mas nada é feito, nem imposto pela Câmara Municipal de Lisboa, para inverter esta situação.


2º ACTO
Personagens (fictícias)
- Um candidato a presidente da CML muito, mas mesmo muito "meloso".

Acção
- Pela "direita alta" entre em cena um candidato à presidência da Câmara de Lisboa que promete o céu aos lisboetas, ou seja, a construção de um túnel (por comodidade vamos chamar-lhe túnel do marquês) e a recuperação de um espaço estórico, que por comodidade vamos chamar de Parque Mayer, construindo aí um casino.
- O candidato "meloso" ganha as eleições.

3º ACTO
Personagens (fictícias)
- Um presidente de câmara muito "meloso"
- Um arquitecto muito famoso

Acção
- O presidente de câmara "meloso" contrata (segunda escolha) um famoso arquitecto americano (que por facilidade vamos chamar de Gehry) para desenvolver um projecto imobiliário para o espaço que, por comodidade, chamámos de parque mayer.
- o presidente de câmara "meloso" anúncia em 12.3.2003 que o novo projecto para a recuperação do Parque Mayer será exclusivamente público, garantindo que os privados vão sair do processo de requalificação daquele espaço.

4º ACTO
Personagens
- O novo presidente da câmara, o sr. "Tá-se bem"
- As duas empresas muito, mas mesmo muito "estúpidas"

ACÇÃO
- O novo presidente da câmara em questão, o Sr. "Tá-se bem" (a que por comodidade vamos chamar de Carmona) subscreve o acordo pelo qual as duas empresas muito, mas mesmo muito "estúpidas", trocam 50.000m2 de construção previstos pelo tal arquitecto Ghery para o Parque Mayer, dos quais 30.000m2 para habitação e serviços e 18.000m2 para espaços culturais, por 61.000m2 de construção em Entrecampos, estes integralmente para habitação e serviços.

ÚLTIMO ACTO
Personagens
- Os suspeitos do costume

Acção
- "Câmara abandona projecto de Frank Gehry para o Parque Mayer"
- "O que está em cima da mesa é a possibilidade de recuperar o espírito original do Parque Mayer"
in: Gabriela Seara, vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa - jornal Público de 7.6.2006

MORAL DA ESTÓRIA (ou da mania de que estas estórias têm que ter uma moral)
Daqui a quatro anos lá vamos votar neles outra vez, não é meus queridos ?
E todos contentinhos por exercermos o nosso "dever cívico" !
"Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada" - lembram-se ?



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