segunda-feira, 25 de setembro de 2006

OS CÓDIGOS ÉTICOS, PEDRO LAPA ENQUANTO DIRECTOR DO MUSEU NACIONAL DO CHIADO, E A ELLIPSE FOUNDATION

Antes do mais, uma clarificação: não tenho nada contra Pedro Lapa enquanto pessoa, tenho tudo contra Pedro Lapa enquanto director do Museu Nacional do Chiado.

Para além da administração desleixada e preguiçosa do Museu Nacional que lhe foi confiado (basta verificar a progressiva perca de visitantes desde que Pedro Lapa assumiu a direcção do Museu) aquilo que mais indigna é o comportamento de Pedro Lapa enquanto director de um Museu Nacional de Arte Moderna e Contemporânea e, simultaneamente, "curator" de um fundo de investimento em arte, a Ellipse Foundation.

Numa altura em que a arte é cada mais vez mais encarada como uma forma de investimento e não de fruição, numa altura em que os interesses nada claros do mercado da arte na promoção de "artistas" e "seus produtos" tendo em mira a subida dos preços de forma a obter mais valias rápidas e seguras, o papel dos museus nacionais adquire uma importância maior, dada a necessidade de existirem entidades credíveis que, na medida do possível, sirvam de mediadores e avalistas dos "objectos artísticos" com credebilidade e, desta forma, travarem as manobras dos especulares financeiros que, neste momento, descobriram "os encantos" dos investimentos em arte.

Do excelente artigo de Adrian Ellis publicado no Art Newspaper, e ontem referênciado neste "formigueiro", permitimo-nos destacar o seguinte:

"Art funds are investment vehicles, the return on which is linked to a portfolio of works of art acquired—as opposed to the stocks, bonds, property and commodities that are the usual components of investment funds. The return to the investor is determined, on the one hand, by the buoyancy of the art market or, more specifically, the bit of it in which the fund is investing (for example, contemporary, Asian or decorative arts) and, on the other hand, by the shrewdness of the decisions made by the funds’ managers with respect to specific acquisitions. The more buoyant the art market, the less shrewd the fund managers need to be to beat other financial instruments with which they are competing for investors’ attention and money".

"Some have missions that seek to combine the power of the market with broader aims—in the case of the Artist Pension Fund, for example, the aim is to create a stream of income for artists in their retirement by cross subsidising less successful artists from the proceeds of more successful ones. Others, such as the Ellipse Foundation and the Wonderful Fund (see p6) have a for-profit framework but a rhetoric that combines commercial and non-commercial intentions in a way that is difficult to decode and disentangle".

Agora que está tão na moda importar modelos dos Estados Unidos, tal como a liberalização e seus sucedâneos, será talvez apropriado reter o código de ética da Associação dos Directores de Museus de Arte dos mesmos Estados Unidos:

Code of Ethics
Adopted by the membership of the AAMD, June 1966; amended 1971, 1973, 1974, 1991, and 2001.

The position of a museum director is one of trust. The director will act with integrity and in accordance with the highest ethical principles. The director will avoid any and all activities that could compromise his/her position or the institution. The professional integrity of the director should set a standard for the staff. A museum director is obligated to implement the policy of the governing board for the benefit of the institution and the public. The director is responsible for ensuring that the institution adopt and disseminate a code of ethics for the museum board, staff, and volunteers.

It is unprofessional for a museum director to use his or her influence or position for personal gain. A director shall not deal in works of art or be party to the recommendation for purchase by museums or collectors of works of art in which the director has any undisclosed financial interest. The director shall not accept any commission or compromising gift from any seller or buyer of works of art.

É também por estas razões que não entendemos o silêncio cúmplice de Manuel Oleiro, Presidente do Instituto Portugês de Museus, e muito menos da Minístra da Cultura, mas estas já são outras "histórias".

Portanto, são estas as razões que temos para denunciar Pedro Lapa.

Código de ética da AAMD - LINK

1 comentário:

AM disse...

Código de ética, em Portugal? Talvez fu, fu, fu, futebol!