quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Ditosos aqueles que têm essa força

Ditosos os que te louvam sempre
Ditosos aqueles de quem és a força
Pois se decidem a ser peregrinos
Ditosos aqueles de quem és a força

Houve um tempo em que a natural evasão do pensamento durante os rituais eucarísticos e a histeria das vozes que se elevam para beijar o Senhor, me fez pensar – e também eu cantar – “Ditosos os que te louvam sempre, ditosos aqueles que têm essa força”. Diferente, embora ainda não fosse a minha altura de ver e ouvir as diferenças, de “ditosos aqueles de quem és a força”. Porque da forma que podemos ler no início do post, a bem aventurança não está na força que temos por acreditarmos Nele. Ele sobrepõe-se, é Ele quem dá a força, é Ele a força, para não criar intermediários e para nos domesticar encapotando o domínio, de Amor Divino. Já o “ditosos aqueles que têm essa força” era muito arrojado. Talvez num próximo Concílio.

Se o Senhor é nosso pastor, o que é o Senhor dos muçulmanos? Pastor deles certamente. Não. O Nosso Senhor encarnou no seu Filho muito amado que por sua vez foi um pastor, viveu à míngua e morreu às mãos de uns facínoras que como nós hoje, estavam sedentos por sangue, lágrimas e ranger de dentes. Uma história à medida, com relações óbvias ao paganismo tanto aos doze trabalhos de Hércules – um deles era roubar a maçã das Hespérides, como em relação a determinados santos como é exemplo da devoção parcialmente pagã à Nossa Senhora das Candeias. O Deus “deles” tem um nome (o que faz com que aos nossos olhos fiquem a perder pois a denominação correcta e persuasiva de uma entidade divina validam-na. No sistema de incompatibilidades onomásticas da religião, a palavra Deus é absoluta e por isso, tal como num adjectivo superlativo, totalmente irrefutável. No entanto Alá é a palavra árabe para Deus). E Maomé o seu profeta. Só que Maomé foi um líder militar, um guerreiro. Note-se também que o vocábulo Islão quer dizer “submissão à palavra de Deus”. Maomé não foi pastor, mas guiou o seu povo, legislando e fazendo cumprir sem actualizações periódicas uma lei em forma de livro. Guiou um povo que em vários pontos do Mundo nele acreditava, até ao momento que se substitui a sociedade politeísta agrária, pela sociedade mercantil monoteísta. Até aí, ninguém era de uma religião, as pessoas tinham uma religião. Ninguém pertencia a nenhum Deus; as pessoas tinham este ou aquele Deus quanto mais lhes aprouvesse. Hoje voltamos a essa mentalidade do século XV: o meu Deus é maior que o teu.

E há factos, pequenos apontamentos que nos recordam que a divisão rígida é um erro, como todos os partidarismos dementes. Depois de ter visto Babel de Alejandro Iñarritu, que conta como um acontecimento num lugar inóspito do planeta tem repercussões em muitos outros pontos desse mesmo planeta, ouço que três crianças se mataram após terem visto o vídeo de enforcamento de Saddam Hussein. No Expresso leio as críticas generalizadas ao vídeo, e vejo em todo o comprimento da segunda página, frames do mesmo, num claro atestado de saloiice passado aos leitores do jornal.
Aplique-se a máxima: "Amai-vos uns aos outros" como Deus gostaria de vos ter amado se soubesse e se não tivesse feito um Deus ex Machina.

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