“Onde se metem os narizes” – Lauren Bacall
O mau beijo
Os maus beijos são bênçãos; permitem-nos, quando colocados na balança da nossa memória, fazer pender o fiel para o lado dos bons. São o pano de fundo sobre o qual os bons beijos ganham a importância que sempre foi deles e que, se por algum acaso substituída por minudências, perdão seja concedido a quem cometeu essa perfídia. De certa forma os maus beijos são aqui retratados do lado de quem os recebe, mas como se trata de uma troca, tanto os recebemos maus como os damos piores ainda. Porém, como o post tem de continuar, apresentamos em tom esquemático que não nos é caro, embora o mais adequado ao suporte em questão, aqueles que consideramos os três tipos de maus beijos que cada um deve experimentar (embora a experiência não seja nada boa). Esperando que não nos obriguem a entrar em pormenores nesta explanação, podemos dizer que os maus beijos podem ser do tipo beijo de gato, beijo aspirador e beijo sinal de trânsito. Quem já viu um gato a beber leite, a lamber os bigodes, a lavar as patas, sabe ao que nos referimos. O beijo de gato (é enganoso o nome, não é?), é tetraplégico no desenvolvimento, sabe a pouco e não deixa saudades. O beijo aspirador ainda admite uma segunda vez, uma outra oportunidade, dependendo do grau de potência com que fomos aspirados da primeira vez. O beijo aspirador suga tudo, o que nos parece particularmente ridículo, uma vez que beijar em nada se assemelha a uma limpeza à cavidade bocal, nem quem aspira fica seja com o que for. O beijo sinal de trânsito é um tipo mais subtil, compreendido inteiramente nos primeiros segundos, mas difícil de se classificar como irrepetível devido ao potencial que guarda. O beijo sinal de trânsito é um beijo com carácter de obrigatoriedade ou proibição, em que uma das partes tenta obrigar a outra a beijar segundo os seus próprios cânones (não deixando espaço para que cada um beije como na realidade o faz), ou a proíbe de beijar conforme o desejado. Dez segundos após o início alguém pensa “Cristo, quando é que isto acaba?!”
O bom beijo
O bom beijo pode ser descrito através de uma pequena história que vamos inventar aqui em cima do joelho, na forma, não no conteúdo pois esta sempre foi uma ideia que tínhamos acerca do bom beijo. O bom beijo é… O bom beijo é como o meu avô quando estava a morrer. Diabético, com um cancro no estômago que fazia com que o quarto cheirasse a enxofre apesar da forma asséptica como as carpideiras de serviço o deixavam, sem dentes e sem vontade. Pelo menos sem voz para exprimi-la. Um dia a minha avó, cuja vida é hoje negociada entre Deus e o Diabo através de mensagens de fumo (e uma vez que o fumo não desce, Deus não está a conseguir estabelecer contacto como vizinho de baixo o que mantém a minha avó numa posição nada cómoda principalmente quando está de barriga para cima), entrou no quarto com um brigadeiro. Um daqueles reluzentes e nevados de chocolate. E contra todas as opiniões e médicos e visitas e visitas e visitas e visitas, meteu o brigadeiro na boca do meu avô que apesar de há muito tempo a líquidos, o manteve entre os maxilares despidos até o chocolate derreter e escorrer por completo pela garganta, tal qual como se deve comer um doce. Um bom beijo é como isto, como um doce dado a um diabético, a um homem que vai perecer e a quem de nada servem pensamentos a longo prazo. Supera todas as mezinhas e poções, todas as panaceias e recomendações, é pouco, é sempre pouco, é raro e é bom. Obriga-nos a voltar atrás e encetar a seguinte conversa: “dá-me outro”, “olha lá que vais perder o comboio”, “dá lá”, “tu e os beijos! Para que queres outro beijo”, “para a viagem”.
Os maus beijos são bênçãos; permitem-nos, quando colocados na balança da nossa memória, fazer pender o fiel para o lado dos bons. São o pano de fundo sobre o qual os bons beijos ganham a importância que sempre foi deles e que, se por algum acaso substituída por minudências, perdão seja concedido a quem cometeu essa perfídia. De certa forma os maus beijos são aqui retratados do lado de quem os recebe, mas como se trata de uma troca, tanto os recebemos maus como os damos piores ainda. Porém, como o post tem de continuar, apresentamos em tom esquemático que não nos é caro, embora o mais adequado ao suporte em questão, aqueles que consideramos os três tipos de maus beijos que cada um deve experimentar (embora a experiência não seja nada boa). Esperando que não nos obriguem a entrar em pormenores nesta explanação, podemos dizer que os maus beijos podem ser do tipo beijo de gato, beijo aspirador e beijo sinal de trânsito. Quem já viu um gato a beber leite, a lamber os bigodes, a lavar as patas, sabe ao que nos referimos. O beijo de gato (é enganoso o nome, não é?), é tetraplégico no desenvolvimento, sabe a pouco e não deixa saudades. O beijo aspirador ainda admite uma segunda vez, uma outra oportunidade, dependendo do grau de potência com que fomos aspirados da primeira vez. O beijo aspirador suga tudo, o que nos parece particularmente ridículo, uma vez que beijar em nada se assemelha a uma limpeza à cavidade bocal, nem quem aspira fica seja com o que for. O beijo sinal de trânsito é um tipo mais subtil, compreendido inteiramente nos primeiros segundos, mas difícil de se classificar como irrepetível devido ao potencial que guarda. O beijo sinal de trânsito é um beijo com carácter de obrigatoriedade ou proibição, em que uma das partes tenta obrigar a outra a beijar segundo os seus próprios cânones (não deixando espaço para que cada um beije como na realidade o faz), ou a proíbe de beijar conforme o desejado. Dez segundos após o início alguém pensa “Cristo, quando é que isto acaba?!”
O bom beijo
O bom beijo pode ser descrito através de uma pequena história que vamos inventar aqui em cima do joelho, na forma, não no conteúdo pois esta sempre foi uma ideia que tínhamos acerca do bom beijo. O bom beijo é… O bom beijo é como o meu avô quando estava a morrer. Diabético, com um cancro no estômago que fazia com que o quarto cheirasse a enxofre apesar da forma asséptica como as carpideiras de serviço o deixavam, sem dentes e sem vontade. Pelo menos sem voz para exprimi-la. Um dia a minha avó, cuja vida é hoje negociada entre Deus e o Diabo através de mensagens de fumo (e uma vez que o fumo não desce, Deus não está a conseguir estabelecer contacto como vizinho de baixo o que mantém a minha avó numa posição nada cómoda principalmente quando está de barriga para cima), entrou no quarto com um brigadeiro. Um daqueles reluzentes e nevados de chocolate. E contra todas as opiniões e médicos e visitas e visitas e visitas e visitas, meteu o brigadeiro na boca do meu avô que apesar de há muito tempo a líquidos, o manteve entre os maxilares despidos até o chocolate derreter e escorrer por completo pela garganta, tal qual como se deve comer um doce. Um bom beijo é como isto, como um doce dado a um diabético, a um homem que vai perecer e a quem de nada servem pensamentos a longo prazo. Supera todas as mezinhas e poções, todas as panaceias e recomendações, é pouco, é sempre pouco, é raro e é bom. Obriga-nos a voltar atrás e encetar a seguinte conversa: “dá-me outro”, “olha lá que vais perder o comboio”, “dá lá”, “tu e os beijos! Para que queres outro beijo”, “para a viagem”.
2 comentários:
cara beluga
será que devo celebrar o regresso com um... beijinho? :)
suponho que sim.
mas o regresso implica o abandono, e eu tenho estado aqui na Formiga semanalmente.
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