JORGE DE SENA
2.11.1919 - 4.6.1978
PEQUENO TRATADO DE DERMATOLOGIA
De cada vez que um povo exige liberdade
- oh não bem o povo, mas os grupos que o povo no poder
não inclui na partilha da pele do povo propriamente dito -
os clamores são comoventes pela democracia.
No entanto, é claro, nada pode fazer-se
que não clamar de mão no peito
(a outra coçando nos lugares impróprios),
pois que, em verdade, o poder dos grupos
é sempre o poder dos grupos.
Mas de cada vez que, farto de palavras,
um povo estoura com tais odres rotos,
e faz deles passadores que esguicham
muito menos sangue que o chupado em séculos,
os clamores são, a mais de comoventes, trémulos
de indignação, não já co´a mão no peito
(a outra coçando sempre nos lugares impróprios),
mas exigindo acções colectivas em defesa da ordem,
da justiça, da liberdade. E sanções (e bombas).
Pois que em verdade o poder dos grupos
é sempre o poder dos grupos, e lá dizia o poeta
"qualquer morte de homem me diminui", e o número
de mercenários diminui assim terrívelmente,
neste mundo em que são precisos tantos para manter a ordem,
a justiça, a liberdade, e sobretudo aquelas
que são feitas de pele de qualquer povo. E enfim,
considerando que a circuncisão é altamente uma prática higiénica
e desde há séculos predilecta de Jeová,
talvez que o grupo no poder nos quisesse vender
nem que seja um prepúcio em que investir capital.
30.1.1962 - Poesia -III - edições 70
- oh não bem o povo, mas os grupos que o povo no poder
não inclui na partilha da pele do povo propriamente dito -
os clamores são comoventes pela democracia.
No entanto, é claro, nada pode fazer-se
que não clamar de mão no peito
(a outra coçando nos lugares impróprios),
pois que, em verdade, o poder dos grupos
é sempre o poder dos grupos.
Mas de cada vez que, farto de palavras,
um povo estoura com tais odres rotos,
e faz deles passadores que esguicham
muito menos sangue que o chupado em séculos,
os clamores são, a mais de comoventes, trémulos
de indignação, não já co´a mão no peito
(a outra coçando sempre nos lugares impróprios),
mas exigindo acções colectivas em defesa da ordem,
da justiça, da liberdade. E sanções (e bombas).
Pois que em verdade o poder dos grupos
é sempre o poder dos grupos, e lá dizia o poeta
"qualquer morte de homem me diminui", e o número
de mercenários diminui assim terrívelmente,
neste mundo em que são precisos tantos para manter a ordem,
a justiça, a liberdade, e sobretudo aquelas
que são feitas de pele de qualquer povo. E enfim,
considerando que a circuncisão é altamente uma prática higiénica
e desde há séculos predilecta de Jeová,
talvez que o grupo no poder nos quisesse vender
nem que seja um prepúcio em que investir capital.
30.1.1962 - Poesia -III - edições 70
2 comentários:
mt agradecido por mais este
já só falta um para a trilogia do poema colhão! :)
Já que o cito, por favor veja este blog:
http://arsprobatartificem.blogspot.com/
Abraço,
Diabolos in musica
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