quarta-feira, 6 de junho de 2007

Luanda, Rio de Janeiro, Pequim, Macau, Kremlin... Lajes
A recente polémica sobre o concurso para funcionários para a base das Lajes que impedia explicitamente a participação no mesmo de candidatos portugueses, apesar dos lugares estarem abertos a todos os países da NATO, levou-me a pensar numa corrida. Pensei se valeria a pena Sócrates correr pelas Lajes ou, como disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros desdramatizando a questão, correr por lugares de trabalho temporários e em número escasso.
Talvez não valha uma corrida de Sócrates para Sócrates que tem o seu lugar assegurado por mais dois anos, assim como não valeu para Durão o torcicolo na Fotografia das Lajes (outra vez) quanto à visibiliade e crescimento do país.
Talvez não tenha valido a ninguém a não ser ao próprio a condecoração de Portas por Donald Rumsfeld. Hoje a América distribui armas pelas milícias pobres e famintas de vingança no Irão, com a esperança de que, dotando-as dos meios certos, elas possam começar a desbravar o caminho para uma possível guerra.

Já não se fazem guerras como antigamente, é um facto. O próprio presidente do Irão, referiu-se ao filme “300” como “ataque psicológico à cultura iraniana", obnubilando o facto do exército dos persas (do qual os iranianos vislumbraram com propriedade e conveniência a sua descendência) ter começado por ser um conjunto de cidadãos oprimidos que se revolta contra os Babilónios e acaba por fazer cair o Império Egípcio conquistando-o. Igualmente esquecido que numa das batalhas que antecedeu a batalha de Termópilas, deu origem à Maratona. A célebre Maratona, talvez a prova mais apetecida dos Jogos Olímpicos e aquela que colhe entre os participantes um brilhozinho nos olhos, e que quando ganha faz transformar as gotas de suor em diamantes tal é o número de marcas prontas a patrocinar o vencedor, surgiu de uma batalha. E foram os Persas quem a tornou tão importante: os Persas eram em maior número, cerca de 7 soldados Persas para cada soldado Grego, e não fosse a sagacidade de Dário de contornar a frente de ataque grega que tinha saído vitoriosa do primeiro confronto, e o grego Milcíades nunca se teria lembrado de ordenar a um mensageiro para correr até Atenas (42 km) e avisar as tropas que os Persas contornavam território por mar. O mensageiro deu a mensagem e morreu. Os persas mesmo no mar conseguiram eliminar mais um homem. Mais, que a pesquisa tenha indicado, nenhum grego venceu alguma vez a Maratona nos Jogos Olímpicos da Era Moderna e nem os participantes nem mesmo os medalhados fizeram algum dia o mundo “pular e avançar” como dizia o poeta. Eles bem sonham, mas não é o sonho que comanda a vida, nem a Maratona. É o jogging.
Sempre que Sócrates corre, ou numa Luanda húmida e sufocante a destilar ódio aos portugueses, ou num Rio de Janeiro que incluído nos BRIC sem corridas - deve ter descoberto maravilhas no método Pilates – e das cerca de 10% das famílias brasileiras que detêm à volta de 90% da riqueza do país, quer numa Praça Vermelha fechada propositadamente para o efeito embora na altura da conferência a Rússia estivesse a testar mísseis, o mundo pula e avança. Só que não é o mundo que Sócrates habita. Nem mesmo as partidas de futebol entre Irão e Portugal podem fazer mudanças no seguimento natural do mundo. E se Sócrates corresse cá dentro? E se Sócrates corresse nas Lajes, numa das pistas enquanto caças levantavam voo, numa bonita fotografia para os periódicos e que seria pelo menos algo que realmente o nosso primeiro minsitro fez pelo país. Sócrates seria o nosso Edward Murrow (jornalista). Jornalista??? Lagarto, lagarto, lagarto.