segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

JOSÉ HERMANO SARAIVA E O MUSEU DO AZULEJO.
É PARA RIR OU É PARA CHORAR?


No seu estilo peculiar (não haverá voz amiga que lhe diga que já passou, em muito, o prazo de validade?) José Hermano Saraiva dedicou o seu programa "A Alma e a Gente" transmitido ontem (21.1.2007) na RTP2, ao terramoto de 1755 e suas sequelas, tendo como "pano de fundo" um conjunto de paineis de azulejos expostos no Museu Nacional do Azulejo, que representam Lisboa antes do terramoto.
Aliás, estes paineis já foram motivo de textos neste blogue, tendo como título genérico "Arte Povera no Museu Nacional do Azulejo" (link), nos quais se ilustrava, fotográficamente, o estado de conservação do dito conjunto de paineis, entre outras estórias.
Mas a razão deste texto, hoje, é outra.

José Hermano Saraiva apresentou um programa de 30 minutos, em televisão, tendo como ponto de partida o já referido painel de azulejos exposto no MNA.

E no Museu Nacional do Azulejo, que informação é dada aos visitantes (cerca de 80% estrangeiros) sobre o painel e sua importância histórica?



Uma pequena legenda, em português e inglês, com o texto "Vista panorâmica de Lisboa anterior ao terramoto de 1755"
E é tudo!

O director do Museu do Azulejo é tão preguiçoso que nem se deu ao trabalho de imaginar que a maioria dos visitantes, 80% de estrangeiros, provávelmente nunca ouviu falar do terramoto de 1755, e muito menos da sua importância na reconstrução do centro da cidade, ou das polémicas desencadeadas Europa fora pelas duas grandes correntes de pensamento na época, uma que atribuia o terramoto a uma vontade divina e a outra que atribuia o terramoto a causas naturais.

E, provavelmente, os tais 80% de visitantes estrangeiros jamais ouviram falar do que representou na época a adopção do sistema da "gaiola" para a reconstrução da baixa pombalina, e muito menos do que representou, na altura, esse sistema de construção na sua vertente anti-sísmica.




Mas será que Pedro Henriques não dispõe de espaço para colocar esta e outra informação relacionada com o painel de azulejos?

Não, meus caros.

O problema não é falta de espaço, é falta de capacidade, ou, dito de outra forma mais directa, é incompetência pura.

Incompetência do director do MNA, Pedro Henriques, e do director do Instituto Português de Museus, Manuel Oleiro, que não sabe dirigir o Instituto a que preside.

RECTIFICAÇÃO
Por amável indicação de mefistófles (ele mesmo) rectifica-se o nome do director do Museu Nacional do Azulejo: é Paulo Henriques e não Pedro Henriques.
Obrigado mefistófles (ele mesmo).


9 comentários:

Anónimo disse...

Parece que, apesar do seu estilo peculiar, José Hermano Saraiva valorisou mais o objecto que o director do Museu do azulejo...

João Barbosa disse...

José Hermano Saraiva faz programas a pedido. Uma entidade pede e paga e ele faz. O rigor é pouco ou nenhum, mas isso pouco importa. O que interessa é que o senhor, que nega a repressão do Estado novo e a estupidez do salazarismo, conta muito bem estórias e enche o ecrã.
Ao contrário do que escreveu o sr. Anónimo, quando um comunicador não se faz um reparo crítico quando se deve fazer está a abster-se duma função a que está obrigado. É óbvio que as referências ao terramoto de 1755 devem lá estar e não apenas em inglês, mas também em português, porque é para aprender e dar cultura que servem os museus. Os museus não servem para guardar coisas e pendurá-las na parede.

João Barbosa disse...

José Hermano Saraiva faz programas a pedido. Uma entidade solicita e paga e ele faz. Portanto, não é suposto criticar quem paga o programa.
O rigor de José Hermano Saraiva é pouco ou nenhum ou não fosse conhecido nos meios históricos como o inventor da História de Portugal. Não esquecer que branqueia a repressão do Estado Novo e apelidou Salazar de antifascista. É curioso que um homem que tanto fala em cultura e instrução tenha sido ministro da Educação dum regime obscurantista.
Ao contrário do Sr. Anónimo, acho que José Hermano Saraiva valorizou o director por não ter criticado o trabalho. Sempre que um comunicador não critica o que é criticável está a abster-se da sua função. As referências ao terramoto fazem lá falta e não apenas em inglês, como igualmente em portuês. Os museus servem a cultura e não de depósitos de objectos. Porém, o programa foi pago e não era suposto criticar quem pagou a obra.

Anónimo disse...

Ficamos muito satisfeitos pelo esforço demorado e bilioso da Formiga (afinal Fernando) que conseguiu destituir o dr. Paulo Henriques. Agora, o Dr.Pedro Henriques não oferece melhor prestação, não é caso para gritos e injúrias, é novo e está a cometer os seus primeiros erros e enganos. Para o Dr. Pedro Henriques desejamos com fervor, sinceras felicidades e aguardamos com esperança que estas coisas acabem.

Anónimo disse...

Que eu saiba José Hemano Saraiva é pago por uma produtora de televisão, que por sua vez é paga por uma estação de televisão.
Por acaso já me cruzei com José Hemano saraiva na gravação de dois programas em instituições diferentes e posso garantir-lhe que em nenhum dos casos essas entidades pagaram a realização dos programas. Logo, o seu argumento é falho de rigor. Quanto à qualidade científica de José Hermano Saraiva, posso concordar que não será a mais fiável, o célebre "foi precisamente aqui neste lugar que.." deixa muita margem para dúvidas na mente de quem faz investigação histórica ou arqueológica.
Não vi o programa e como tal não sei em que termos foi feita a apresentação do painel, mas quer-me parecer que utilizá-lo como base para falar sobre o terramoto, ainda que com alguma fantasia à mistura, valoriza mais o painel do que as míseras legendas que o enquadram. A ausência de crítica sobre a sua apresentação é provavelmente uma opção editorial. Uma opção cobarde, concordo, mas como deve saber tão bem ou melhor do que eu, que critica muito os nossos génios da gestão cultural e patrimonial leva, por sistema, com a porta na cara.
Por fim uma perguntinha, se por acaso em vez de José Hemano Saraiva o nome do apresentador fosse António Borges Coelho ou José Manuel Tengarrinha a sua verbe seria igualmente biliosa?

formiga bargante disse...

Meu caro anônimo das 10.33

Por norma, no Formigueiro não se fazem comentários a comentários.

Mas existem sempre excepções.

Como não percebi bem a quem se dirigiam os seus comentários, vou procurar clarificar alguns pontos que, pelos vistos, não ficaram muito claros no texto publicado.

1 - Relativamente a José Hermano Saraiva, limitei-me a uma pequena "farpa" no primeiro parágrafo.
Todo o restante texto tinha como intenção chamar a atenção para o "trabalho" (ou falta dele...) do Director do Museu do Azulejo, Paulo Henriques, (obrigado mefistófles, ele mesmo).

2 - Os textos publicados no Formigueiro, nunca têm críticas pessoais, mas sim apreciações ao trabalho concreto desenvolvido por pessoas concretas, daí os nomes.
Portanto, e relativamente aos nomes por si referidos, e se for esse o caso, serão apreciados em função de uma questão concreta, independentemente do nome dessas pessoas.
Ataques pessoais deixo isso ao cuidado de outros, e posso garantir-lhe que conheço estórias pessoais de algumas das pessoas por aqui referidas que davam para fazer deste blogue um blogue bem mais frequentado.
Mas nem o estilo nem o tipo de pessoas que apreciam esse estilo nos interessa.
Feitios.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Caro Formiga,

A minha resposta não foi realmente explícita.
A sua farpa ao José Hemano Saraiva parece-me justa e o meu primeiro comentário visava pôr em evidência que apesar dos defeitos por si enumerados o programa tinha dado um maior destaque ao objecto do que aquele que é dado pelo próprio museu.
Já o meu segundo comentário era uma resposta ao Sr. João Barbosa, que me parece sofrer de uma aversão ideológica ao José Hermano Saraiva. Daí a pergunta final. Outros nomes de outra área ideológica mereceriam uma prosa tão biliosa? Ou será que, como dizia o anúncio "Omo lava mais branco"?
Isto, sem por em causa alguns aspectos, nomeadamente a falta de rigor científico e a ausência de crítica, com os quais estou de acordo, conforme se pode ler no meu comentário.
Espero ter esclarecido a minha posição e aproveito para lhe desejar a continuação do bom trabalho que tem desenvolvido aqui no seu blogue.
Quem se interessa pelos museus encontra aqui algumas reflexões interessantes sobre o tema.
Cumprimentos,

João Tiago tavares

João Barbosa disse...

A questão do pagamento é indiferente. Se é pago directa ou indirectamente tanto faz. A questão nem é tanto essa. A filosofia do programa é pagar para ter um conteúdo.
Por isso,, devo esclarecer o senhor Anónimo que mantenho tudo o que disse sobre a forma como o programa do professor José Hermano Saraiva se faz e mantém. Aliás, neste momento muito raros são os programas que a RTP paga. Se o senhor Anónimo não sabe que se informe. Existem publireportagens e ele faz publitelevisão, publi-entretenimento ou publi-história ou publiqualquercoisa. Aliás, basta ver um qualquer programa desse senhor, prestar atenção ao que diz e estar atento à lista dos patrocínios e agradecimentos no final.
Quanto à perguntinha que me colocou sobre os historiadores: Compreendo a armadilha. Devo dizer que não sou de esquerda e muito menos marxista. Ja que quer saber digo-lhe que considero que o historiador Borges Coelho fez um trabalho com alguma desonestidade intelectual sobre o período de 1383/85, querendo ver aí um esboço de revolução socialista. Portanto não é aí que me apanha. Como não me apanha na argumentação socializante do professor Tengarrinha.
Homem, deixe-se de coisas. O mundo não é a preto e branco.

Anónimo disse...

Obrigado pelo cumprimento.